Bruno Mérola: Comece (e termine) pelos porquês
“Amar la trama más que el desenlace.”
Jorge Drexler
Na semana passada, finalmente assisti à nova animação da Pixar, “Soul”, após indicações de amigos e familiares que a recomendaram como a melhor já realizada pelo estúdio.
Com um roteiro que mistura “Divertida Mente”, da própria Pixar, com o musical “La La Land”, aquele que quase levou o Oscar de Melhor Filme em 2017, “Soul” é mesmo um filme tocante, embora eu ainda prefira esses dois que o inspiraram.
O filme, que acompanha um músico de jazz em busca de seu propósito de vida (e além dela), é o capítulo mais recente de uma série de animações da produtora que marcam uma mudança brusca na temática de suas histórias.
Com exceção das continuações de franquias de sucesso — “Toy Story”, “Carros”, “Monstros” e “Os Incríveis” —, os novos roteiros têm se distanciado cada vez mais do universo infantil mais clássico para tratar de temas mais adultos e filosóficos.
“Up – Altas Aventuras” e “Wall-E” emocionaram o espectador ao retratar o luto e a solidão de seus protagonistas, ao mesmo tempo em que faziam críticas sociais à expansão imobiliária desenfreada, no primeiro filme, e à falta de sustentabilidade da ação humana que levaria o planeta a ser um imenso lixão no futuro, no segundo.
“Divertida Mente”, o melhor entre eles na minha opinião, é uma reflexão profunda de nossas emoções e de como elas são construídas desde a infância e modificadas através de novas experiências.
Já “Viva – A Vida é uma Festa” homenageia o feriado mexicano Dia dos Mortos para alternar entre o mundo dos vivos e o dos que já partiram, também retomando o luto como temática mais madura.
Todos, sem exceção, levaram para a casa a estatueta de Melhor Animação, o que indica que a estratégia pode estar dando certo e reforça a escolha do enredo de “Soul” sobre a construção da nossa personalidade e o que realmente importa na vida.
Não pude deixar de notar o paradoxo — possível e brilhantemente proposital — que há nas escolhas da Pixar. Ao mesmo tempo em que o filme se relaciona com nossos questionamentos mais íntimos na vida adulta, atingindo um novo público, não são as crianças aquelas que mais cultivam o hábito de perguntar o porquê de tudo o tempo todo?
Nesse ponto, acertaram em cheio: em que momento deixamos de ser a criança motivada pela curiosidade genuína sobre o sentido das coisas?
Em um dos TED Talks mais visualizados do YouTube, o palestrante Simon Sinek, autor do livro “Comece pelo Porquê”, argumenta que nossa comunicação precisa mudar de sentido para ser mais persuasiva.
Em vez de apresentarmos um produto, por exemplo, a partir de suas especificações técnicas, processo ou utilização, a prioridade seria seu propósito para a marca e para os desejos e vontades do consumidor. “Como” ou “o que” deveriam ficar em segundo e terceiro planos.
O verdadeiro fã da Apple compra Apple, não produtos, hardware ou software da Apple, mas a marca em si. Muitos consumidores de um Tesla não compram apenas o carro elétrico e a tecnologia por trás, mas ideias mais abstratas de sustentabilidade e inovação.
A atividade de análise de investimentos, quando feita com diligência, também só existe com um porquê e com vários “por ques” que se renovam diariamente; não descansamos para que os investidores possam fazê-lo.
Na avaliação de fundos candidatos para se tornarem indicações da série Os Melhores Fundos de Investimento, não nos faltam “por quês”. A diligência de um time de gestão, com gestor, analistas, traders e economistas, é uma bateria contínua de perguntas e respostas.
Por que a decisão por um fundo long biased e não long only? Por que a cobrança de taxa de performance sobre um benchmark CDI em fundo de renda variável? Por que a queda maior do que seus concorrentes na crise causada pela pandemia de Covid-19?
Questionar tudo e a todos não é exclusividade nossa, é claro. Do lado de lá, um gestor de ações, por exemplo, está fazendo sua própria anamnese com as empresas, seus executivos, clientes, fornecedores e concorrentes à procura de vantagens ou desvantagens competitivas que justifiquem suas decisões.
A verdade é que entre as ciências exatas, a psicologia humana e a aleatoriedade, o mercado de gestão de recursos é um grupo de pessoas obsessivamente curiosas e sempre céticas para com as respostas a suas perguntas.
Isso faz com que o processo de análise qualitativa e quantitativa de um novo gestor seja mesmo demorado, podendo levar semanas, meses, anos — e já tivemos casos de gestores que aprovamos após quase uma dezena de conversas e estudos por mais de um ano.
O nome do jogo é minimizar os erros na indicação para não sair por qualquer coisinha: nada de trader de fundos, entrando e saindo de indicações boas ou ruins com frequência. Confiar em um gestor para movimentar sua grana — e remunerá-lo adequadamente por isso — é um casamento.
Para dar uma ideia, existem, hoje, 690 gestores de fundos no Brasil, com R$ 5,7 trilhões sob gestão, concentrados nos cinco bancões. Nossa principal carteira de fundos da Empiricus tem apenas 26 desses gestores, selecionados a dedo e combinados na proporção ideal.
É motivo de orgulho, portanto, receber e compartilhar com os leitores a notícia de que o FoF Melhores Fundos, fundo da Vitreo inspirado por essa carteira, tem o melhor desempenho no Brasil desde seu lançamento em abril de 2019, à frente de outros 40 fundos de fundos de bancos, corretoras, private banks e family offices, todos com mais de R$ 100 milhões em patrimônio.
Mas, mais relevante do que o número em si é o processo de tomada de decisão. Daí, o principal questionamento que respondemos aos assinantes da série na publicação desta semana: por que o desempenho da carteira foi tão bom?
Não há dúvidas de que menos de dois anos ainda é curto prazo e que o retorno obtido no passado não é nenhuma garantia do retorno futuro, mas aprofundamos para entender a origem desse “alfa”.
O resultado é que 77% do retorno adicional veio de uma das nossas principais bandeiras na Empiricus: diversificação. Uma carteira com fundos pós-fixados, indexados à inflação, crédito privado, multimercados, ações, investimentos no exterior, dólar e ouro, foi capaz de ganhar do CDI no período.
Em outras palavras, um investidor que tivesse apenas comprado os respectivos benchmarks de cada classe nos pesos sugeridos, sem se preocupar com a gestão ativa dos fundos e não movimentasse o portfólio, já teria obtido um retorno interessante.
Já a seleção exclusiva de 26 gestores (para conhecê-los, Clique aqui), na média, bateu seus benchmarks, correspondendo a outros 16% do retorno adicional.
Com exceção dos fundos de crédito privado, que passam por uma fase desafiadora desde meados de 2019 com a alta dos spreads, os multimercados e fundos de ações escolhidos para a carteira bateram o CDI e o Ibovespa, respectivamente.
Por fim, os 7% restantes podem ser atribuídos a “acertar a direção do mercado”, representado por decisões de realocar entre as classes ao longo do tempo.
Nesse sentido, o aumento recente em Bolsa, compensado pela redução em crédito privado por acreditarmos que a assimetria não é atrativa, já tem ganhado dinheiro, além do aumento em ouro para o médio prazo e da aposta em criptoativos.
Há também outro ponto de vista, mais abstrato, alinhado ao roteiro do último filme da Pixar: a contribuição do propósito, da alma, no resultado.
Se você acaba de se tornar assinante da série Os Melhores Fundos de Investimento, vai encontrar ali uma equipe obcecada em fazer, diariamente, as perguntas certas aos gestores, mas ainda mais em oferecer a qualquer investidor uma experiência em investimentos igual ou melhor à das famílias mais abastadas do país — esse é nosso propósito.
E se você já faz parte da família, não poderia estar mais feliz, de verdade, ao te acompanhar começando 2021 com mais dinheiro no bolso.
Um abraço,