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Bruno Hacad: Por mais diversidade no mercado de transporte rodoviário de cargas

29 mar 2021, 16:55 - atualizado em 29 mar 2021, 18:10
Bruno Hacad
“Ainda há muitas indústrias que seguem na contramão da diversidade e têm uma cultura machista enraizada”, diz (Imagem: Bruno Hacad/Divulgação)

A inclusão das mulheres em cargos de liderança e o tema diversidade estão cada vez mais em pauta e ganharam ainda maior força neste mês de março com a celebração do Dia Internacional da Mulher.

Grandes empresas vêm lançando programas nesta direção, como a Heineken, por exemplo, que anunciou que metade dos seus líderes serão do sexo feminino até 2026, e o Nubank, cujo plano é elevar de 41% para 50% até 2025 o total de mulheres Nubankers, como são chamados seus colaboradores.

Por outro lado, ainda há muitas indústrias que seguem na contramão da diversidade e têm uma cultura machista enraizada. É o caso do transporte rodoviário de cargas.

Segundo a CNT, o Brasil contabiliza cerca de 2 milhões de caminhoneiros. Sabe quantos destes profissionais são mulheres levando cargas pelas estradas do nosso país? Aproximadamente 10 mil, o que representa apenas 0,5% do total.

Aqui na FreteBras, nos orgulhamos de que metade dos nossos colaboradores e líderes são mulheres, porém sabemos que participamos de uma indústria com uma realidade bastante diferente.

Por isso, decidimos ir ao mercado e perguntar às mulheres quais são seus desafios, anseios e visão de futuro no transporte de cargas. O resultado é um sinal de alerta sobre o quanto o setor ainda precisa evoluir na igualdade de gênero.

Escutamos 202 profissionais do setor, dentre caminhoneiras e profissionais de logística, e descobrimos que metade delas sofre com preconceitos no ambiente de trabalho e 66,7% dizem conhecer outras mulheres que já passaram por situação de preconceito ou constrangimento nas estradas.

No dia a dia, dois terços informaram ser questionadas frequentemente sobre sua capacidade de lidar com outros companheiros de trabalho do sexo masculino, como se para trabalhar com eles demandasse algum tipo de habilidade extra que elas ainda não dispõem ou não puderam desenvolver.

Descobrimos com o estudo que uma grande parte delas adota um comportamento mais conservador para evitar comentários desrespeitosos.

São 7 em cada 10 entrevistadas que disseram que, para evitar constrangimentos, não usam certos tipos de roupas, sapatos e maquiagem, enquanto 42% evitam sorrisos e comportamentos simpáticos no ambiente de trabalho.

Apesar do cenário preocupante, nos surpreendeu a visão de futuro delas a respeito da profissão. Cerca de metade das caminhoneiras que entrevistamos afirmam que adoram a profissão e, do lado das operadoras de logística, 75% afirmam ter um grande apreço pelo que fazem, evidenciando a grande oportunidade que temos nas mãos para dar mais espaço a estas grandes profissionais para que atinjam seus objetivos e sonhos e desenvolvam seu potencial máximo.

Boa notícia, a indústria de transportes não é totalmente desprovida de iniciativas. A Braspress, por exemplo, afirma empregar cerca de 1.600 mulheres e colocá-las na condução de seus caminhões. Segundo a empresa, com elas atrás do volante foi registrada uma redução de acidentes e dos custos de manutenção.

Existem exemplos, também, de mulheres desbravadoras, como a Débora Rodrigues, única piloto da Fórmula Truck do sexo feminino. Não é incomum vê-la entre os 10 primeiros colocados nas etapas do campeonato.

Caminhão
“Ter mais mulheres na indústria do transporte rodoviário de cargas fará com que todo o setor seja melhor, mais eficiente e mais rentável”, afirma (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

A Andressa é outro grande exemplo da força das mulheres nesta indústria. Com apenas 22 anos, ela fundou a Andressa Polimentos, em Presidente Médici, Rondônia.

Sua habilidade e irreverência nas redes sociais a tornou influencer digital e atualmente soma mais de 270 mil seguidores em seu perfil. Caminhoneiros do Brasil todo viajam até o Norte do país para ter seus possantes polidos pela Andressa e sua equipe.

Ao buscar mais referências no mercado sobre o impacto direto da diversidade de gênero nos resultados das organizações, encontramos cada vez mais argumentos claros que suportam a vantagem de ter mais mulheres em cargos de liderança.

O estudo “Mulheres na gestão empresarial: argumentos para uma mudança”, realizado pela Organização Internacional do Trabalho em 2019 com 13 mil empresas de 70 países, revelou que mais de 75% das companhias entrevistadas afirmam que seus resultados são 20% melhores com mulheres em posições de chefia. Entre os ganhos citados pelos entrevistados estão criatividade, inovação e reputação.

Chegamos ao final do mês das mulheres, mas estamos apenas começando a luta por mais igualdade de oportunidades no setor.

O estudo que realizamos foi somente um primeiro passo que esperamos que sirva de inspiração para as demais empresas do transporte rodoviário de cargas.

Ter mais mulheres na indústria do transporte rodoviário de cargas fará com que todo o setor seja melhor, mais eficiente e mais rentável. Por isso, só temos a ganhar em dar espaço e apoiá-las para que elas possam trilhar a rota que desejarem.

Afinal, lugar de mulher é onde ela quiser!

Bruno Hacad é Diretor de Operações da FreteBras

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