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Bruno Dequech: Startups brasileiras são investimentos anticrise

01 abr 2021, 19:22 - atualizado em 01 abr 2021, 19:22
Startup
“O mercado de startups também bateu recorde ano passado em número de rodadas de investimento, com a maioria concentrada em empresas nos estágios iniciais”, afirma (Imagem: fizkes/DepositPhotos)

Dizer que o Brasil está em crise é quase chover no molhado. Ao longo da nossa curta República já tivemos muitos sobressaltos políticos e econômicos.

Especialmente nos últimos oito anos, vivemos uma montanha-russa política e uma recessão que provocou muito desemprego. Isso sem contar a pandemia. Mas precisamos lembrar de um importante detalhe: não foi igual para todo mundo.

Apesar do cenário difícil, o ecossistema de startups brasileiro tem se fortalecido muito nos últimos anos. Nosso PIB brasileiro teve um desempenho pífio entre 2015 e 2019.

Foram dois anos seguidos de recessão e nenhum crescimento superior a 1,1%. Já o número de startups triplicou: um avanço de 207%.

Em 2020, a economia brasileira despencou 4,1% e o desemprego atingiu 13,4 milhões de pessoas. Enquanto isso, as startups obtiveram seu melhor ano em termos de captação de recursos: US$ 3,5 bilhões em 469 aportes, quantia 17% superior aos US$ 2,97 bilhões levantados em 2019.

O mercado de startups também bateu recorde ano passado em número de rodadas de investimento, com a maioria concentrada em empresas nos estágios iniciais (Anjo, Pré-Seed e Seed), e M&As, que dispararam impressionantes 154% em relação a 2019.

O Brasil conta com 13.718 startups, segundo dados da associação do setor (ABStartups), e as expectativas para 2021 são ainda melhores. Só em janeiro de 2021, nossas startups receberam injeção de US$ 600 milhões em recursos.

Deu para perceber que as startups estão descoladas da (triste) realidade brasileira. Mas por que isso acontece?

Empreendedorismo em si é uma atividade naturalmente anti-cíclica. Quando milhões de pessoas perdem seus empregos e não há muitas novas oportunidades de emprego, a criatividade do ser humano aliada à necessidade de sobrevivência, criam novas soluções para novos problemas. referências:

Os tempos de pandemônio que vivemos, com a aceleração da transformação digital nas empresas, apresentaram muitos novos problemas agudos, levando os empreendedores a criar novos produtos. Dos novos produtos, nascem safras recordes de novas empresas.

“Apesar da Selic ter sofrido aumento de 0,75% na última reunião do Copom, a taxa de 2,75% ainda está bastante baixa em relação à série histórica”, afirma (Imagem: Reuters/Adriano Machado)

Isso não é um benefício brasileiro, mas uma constatação global. A tecnologia é a grande força motriz desse processo e está no DNA das startups.

Fizemos ao longo de 2020 a 6ª edição do Mapa & Rota de Investidores de Startups do Brasil e uma das conclusões é de que temos um universo ainda rarefeito. Veja, por exemplo, o quadro de investidores anjo.

Em 2019, 8.220 investidores-anjo aportaram R$ 1 bilhão no país. Na União Europeia, um universo de 345 mil investidores contribuiu com R$ 49,4 bilhões. E nos EUA, 323 mil anjos totalizaram R$ 134 bilhões.

Apesar da Selic ter sofrido aumento de 0,75% na última reunião do Copom, a taxa de 2,75% ainda está bastante baixa em relação à série histórica. Isso é ruim para quem investe em renda fixa e favorável à tomada de risco, o que anaboliza as startups.

O ambiente tecnológico mudou drasticamente, fazendo com que o mercado e os investidores fiquem mais atentos a respeito do potencial das startups, sobretudo pelo aumento do número de unicórnios. Após a última rodada de captação, o Nubank virou um “decacórnio”, com valor de mercado de US$ 10 bi.

Um sinal claro dessa tendência é o aumento do número de operações de fusões e aquisições realizado em 2020, quando ocorreram 143 operações envolvendo startups, mais que o dobro em relação ao ano anterior.

Essa onda deve continuar forte pelos próximos anos. Companhias com cheque em branco no bolso e em busca de negócios podem gerar US$ 300 bilhões em operações de fusões e aquisições (M&A) durante os próximos dois anos, de acordo com o banco Goldman Sachs.

Este ano a Mosaico (MOSI3) também conseguiu levantar R$ 1 bilhão em sua oferta pública, realizada em fevereiro (Imagem: Divulgação/ B3)

Enjoei (ENJU3) e Méliuz (CASH3) marcaram em novembro do ano passado a estreia de startups na Bolsa, com IPOs bem sucedidos.

Este ano a Mosaico (MOSI3) também conseguiu levantar R$ 1 bilhão em sua oferta pública, realizada em fevereiro.

Dados como esses evidenciam que o ecossistema brasileiro de empreendedores está preparado e os investidores começam a aumentar sua exposição. Mas ainda temos um bom caminho a percorrer.

A alocação em ativos alternativos por aqui ainda corresponde a 0,2% do PIB, enquanto em economias mais maduras varia entre 2% e 5% do PIB.

Isso significa que os investidores têm uma boa perspectiva de retorno neste mercado e podem garantir mais valor na sua alocação em um setor que está bastante protegido das flutuações macroeconômicas e das tempestades políticas cada vez mais frequentes atualmente.

Vale reforçar que liquidez e facilidade de acesso a capital por pequenas e médias empresas inovadoras são uma condição importante para seu crescimento e sobrevivência, especialmente nos momentos iniciais de sua jornada.

Um ecossistema dinâmico de startups contribui de forma estratégica para manutenção da inovação, trazendo vitalidade e eficiência à produtividade do setor industrial e de serviços, além de promover a disseminação do conhecimento, ampliando as oportunidades de empregos mais qualificados.

Quer conhecer um país que olha para o futuro? Então considere investir em startups.

Bruno Dequech Ceschin é Fundador, Presidente e Membro do Conselho de Administração de JUPTER