Briga entre apps de entrega na América Latina fica mais forte na quarentena
São tempos difíceis para os exércitos de entregadores na América Latina. Na região de 650 milhões de habitantes, as pessoas estão escondidas em casa, e com fome.
Mas as tropas crescem rapidamente com a propagação da pandemia de coronavírus, que afeta a economia e elimina empregos.
Parece que qualquer pessoa com uma bicicleta ou moto tenta transportar pizzas e pedidos de supermercado, o que a aumenta a disputa entre startups como Rappi e iFood, gigantes globais como Uber Eats e pequenas empresas de entrega.
Italo Barbosa, que trabalhou para a Rappi, Uber Eats e para a startup espanhola Glovo em São Paulo, disse que o principal problema agora são as novatas.
Ele estava em uma esquina, cercado por 20 homens, sendo que cerca da metade havia começado a trabalhar como entregadores na última semana depois de perderem emprego, a maioria na construção civil. “Temos mais entregas do que nunca, mas agora temos muito mais entregadores.”
Com as quarentenas na América Latina, o número de downloads de aplicativos de entrega aumentou em mais de 250 mil em março em relação a fevereiro, de acordo com a empresa de dados Sensor Tower.
As estimativas são de que agora mais de meio milhão de motoristas – muitos deles refugiados da Venezuela – competem por pedidos dos restaurantes ainda em operação, de mercados e farmácias, transportando todo tipo de item. As empresas usam a receita para equipá-los com máscaras, luvas e álcool gel.
“Tem sido uma loucura”, disse Simon Borrero , diretor-presidente e cofundador da Rappi, com sede em Bogotá.
As vendas de entregas na América Latina quadruplicaram entre 2014 e 2019, e agora é a região que mais cresce no setor depois da Ásia-Pacífico, de acordo com a Euromonitor International.
Investidores apostaram bilhões de dólares no segmento. Os aplicativos atraíram clientes com acordos de exclusividade, como taxas de entrega com desconto, e ajudaram restaurantes a expandirem suas cozinhas.
As ruas da Cidade do México a Buenos Aires agora estão inundadas com entregadores. A economia informal emprega cerca da metade da força de trabalho na América Latina, que não contribui para programas de proteção social.
Na maioria dos países, os benefícios de seguro-desemprego podem ser irregulares, mesmo para os que se qualificam. Com isso, o número de entregadores deu um salto na pandemia.
A base de clientes está crescendo, como também os custos. A Rappi – fundada há cinco anos e que recebeu investimento de US$ 1 bilhão do conglomerado japonês SoftBank no ano passado, o maior para uma startup latino-americana – parou de cobrar empréstimos concedidos a restaurantes que construíram cozinhas especiais.
A empresa reduziu taxas cobradas de alguns estabelecimentos e está importando centenas de milhares de máscaras e álcool gel.
As perdas da Rappi aumentarão mais do que o esperado em março e abril, disse Borrero. Em menos de um mês, a empresa dobrou o número de entregadores para 300 mil. Mas “para nós, serão meses difíceis”, disse.
Despesas relacionadas ao coronavírus continuam aumentando. O iFood, uma das maiores empresas de entrega do Brasil, começou a acelerar os pagamentos para os quase 147 mil restaurantes com os quais trabalha e criou um fundo de R$ 50 milhões para ajudá-los a sobreviver à pandemia, disse o diretor financeiro Diego Barreto.
A empresa está reduzindo despesas de marketing e administrativas para ajudar a absorver custos adicionais.
Barreto diz que vê dois grandes desafios para o negócio: um é garantir o funcionamento da cadeia de entregas O outro é “ajudar os restaurantes a sobreviver”.