Internacional

Brics: Lula continua priorizando necessidade de moeda única entre países para combater o dólar

15 fev 2024, 16:34 - atualizado em 15 fev 2024, 16:34
lula e presidente do egito al sisi
Conflito entre Israel e Palestina e reformulação da ONU também foram discutidos entre Lula e Al-Sisi (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

Nesta quinta-feira (15), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que irá buscar uma alternativa ao dólar para as relações comerciais e de investimentos entre países do Brics. Ao lado de Abdel Fatah Al-Sisi, presidente do Egito, a declaração feita não é uma novidade.

O presidente afirmou no discurso que “atuaremos pela criação de unidade de valor comum nas transações comerciais e de investimentos dos Brics como forma de contornar a dependência mundial de uma única moeda”.

Anteriormente, durante uma reunião do grupo na África do Sul, Lula declarou o desejo de criar uma moeda única para os países. No caso, a dependência do dólar, moeda dos Estados Unidos (EUA), é criticada pelo presidente.

Segundo ele, “a criação de uma moeda para as transações comerciais e de investimento entre os membros do Brics aumenta as nossas opções de pagamento e reduz nossas vulnerabilidades”.

O Mercosul, bloco econômico do qual o Brasil faz parte, já discutiu a criação de uma moeda única. Em outras economias, como os países que fazem parte da União Europeia (UE), o euro é adotado desde 2002.

No ano passado, a decisão de adotar uma moeda única foi criticada por Nigel Chalk, economista do Fundo Monetário Internacional (FMI), afirmando que o processo de adoção não é fácil e que a escolha do dólar aconteceu de forma orgânica.

“Tanto exportadores quanto importadores gostariam de indicar sua própria moeda no lugar do dólar. Todas essas coisas aconteceram organicamente, não acredito que tenha havido um projeto. Mas, uma vez que você tem isso, é muito difícil mudar para outro ecossistema, porque você vai ter que criar uma série de estruturas de apoio”, afirmou.

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Por que adotar uma moeda única?

Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM, afirma que a vantagem de uma moeda única, ou seja, uma moeda na qual serão realizadas as transações entre os países do grupo, é facilitar a conversão dos valores negociados entre as nações.

Além disso, o professor explica que a necessidade de independência do dólar é atrelada principalmente ao fato de a nação que emite a moeda, os Estados Unidos, passar por períodos conturbados em sua economia, com o exemplo dos cortes de juros propostos pelo Federal Reserve e uma eleição presidencial em curso.

Entre as desvantagens, está a desvalorização cambial para as moedas que não forem escolhidas como as transações comerciais, que teriam que ser convertidas para o valor de referência.

Além disso, Uebel explica que a utilização do Real para as transações entre o grupo dos Brics poderia afetar a inflação doméstica, já que o Banco Central brasileiro precisaria emitir mais moedas.

“Talvez o uso de uma moeda mais forte no nível internacional, como o renmimbi chinês em detrimento do dólar, seja mais vantajoso em virtude da própria robustez da economia chinesa; uma economia que apresenta crescimento e inflação baixa. Cenário diferente do Brasil, que é suscetível às oscilações do mercado internacional”, finaliza o professor.

Lula segue com outras pautas no Egito

Ainda na quinta-feira, Lula visitará a sede da Liga Árabe e, no período da tarde, seguirá para a Etiópia, participando de reuniões da União Africana.

Durante seu discurso no Egito, outros temas surgiram como foco na fala do presidente, como a necessidade de reformular o Conselho de Segurança da ONU, e afirmou ser “urgente” o estabelecimento de um cessar-fogo definitivo na guerra entre Israel e Palestina.

“É urgente estabelecermos um cessar-fogo definitivo que permita a prestação de ajuda humanitária sustentável, desimpedida, imediata e incondicional liberação dos reféns. O Brasil é terminantemente contrário à tentativa de deslocamento forçado do povo palestino”.

“Não haverá paz sem um estado palestino convivendo lado a lado com Israel dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”, afirmou o presidente.