BRF: fundamentos continuam bons, mas falta clareza em plano agressivo de 10 anos
O plano agressivo da BRF (BRFS3) para os próximos dez anos agradou bastante o mercado, tanto que as ações da empresa frigorífica saltaram quase 9% no pregão da Bolsa de ontem. As projeções são ambiciosas – até 2030, a companhia espera investir aproximadamente R$ 55 bilhões -, e por isso deixaram os analistas alertas quanto ao cumprimento das metas.
Segundo o BTG Pactual (BPAC11), o plano da BRF representou uma grande mudança na forma como a administração comunica as estratégias da companhia.
“Por três anos, a administração evitou fazer grandes promessas enquanto lidava com algumas das principais preocupações dos investidores. As palavras do presidente do conselho da BRF no fim da apresentação, em nome de toda a diretoria, foram claramente uma tentativa de garantir que toda a base diversificada e por vezes conflitante de acionistas estava a bordo do novo plano”, comentaram os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin, em relatório divulgado nesta quarta-feira.
Um dos pontos negativos levantados pelo BTG sobre o plano é a falta de clareza, principalmente no que diz respeito à forma como os investimentos adicionais serão financiados.
“Ajustando para IFRS-16 e FIDC, continuamos vendo a BRF carregando uma alavancagem de 3,3 vezes baseado no Ebitda para o fim de 2020, enquanto o capex sugerido de R$ 5 bilhões para o próximo ano (antes de fusões e aquisições) pode traduzir em queima de caixa em um momento onde o ciclo de aves ainda não melhorou”, destacaram Duarte e Brustolin. “Acreditamos que a BRF não está nem perto de mostrar preocupações com liquidez, mas a conversão de fluxo de caixa livre para patrimônio líquido pode encontrar dificuldade no futuro previsível”.
Avenidas de crescimento
O plano da BRF é pautado em cinco principais avenidas de crescimento.
A companhia tem um novo plano de internacionalização, desta vez focado em entrar em alguns dos maiores mercados de valor agregado, incluindo Estados Unidos e Europa. Uma coisa que o BTG destacou é que nem todo esse crescimento será orgânico. A BRF deve aliar movimentos orgânicos e inorgânicos que permitirão que a empresa comece a produzir localmente.
“Turquia e Arábia Saudita são mercados-chave para essa estratégia, onde a presença local já foi alcançada e se espera que o mix melhore”, afirmaram Duarte e Brustolin.
Ainda, a BRF está se movendo para expandir sua participação no segmento de comidas prontas no mercado doméstico e fomentar o crescimento em carnes de porco processadas, fechando o gap de consumo no Brasil em relação aos países onde a categoria é mais desenvolvida.
Novas apostas
A BRF está explorando novos mercados. O mercado de pet food ajudará a impulsionar as operações da frigorífica, que almeja se tornar uma das líderes nesse segmento no país e replicar o negócio em outras regiões.
A empresa também se apoia no mercado de carnes feitas à base de planta, com expectativa de alcançar R$ 13 bilhões no Brasil nos próximos dez anos.
Falta de confiança maior
O BTG manteve recomendação neutra para BRF, com preço-alvo em 12 meses de R$ 23 por ação. O banco entende que o plano é uma reação à crescente competitividade no setor, mas acredita que falta desenvolvimento para explicar os números apresentados.
“Principalmente quanto a 2023, estamos um pouco confusos com os números do plano”, afirmaram os analistas. De 2021 a 2023, a BRF espera atingir R$ 65 bilhões em receita líquida e aumentar duas vezes o Ebitda em relação ao patamar atual.
A Ágora Investimentos também deu por falta de um desenvolvimento maior sobre a expansão internacional e a entrada em novos segmentos. A corretora fez estimativas para a ação caso o plano se concretize:
“Estimamos que a ação seria negociada a aproximadamente 5 vezes EV/EBITDA (valor da empresa sobre Ebitda) estimado para 2023 assumindo o plano agressivo da BRF, sugerindo que o preço da ação poderia subir aproximadamente 35% dos níveis atuais para negociar em linha com o múltiplo antes do anúncio”, avaliaram os analistas Leandro Fontanesi e Ricardo França.
A Mirae Asset reforçou seu otimismo com a empresa e o setor, reiterando a compra do papel, com preço-alvo de R$ 27,73.
“Continuamos otimistas com o setor e com a empresa, que deve conviver com maio pressão de custos, principalmente em grãos, mas para isso esperamos aumento de preços no curto e médio prazo”, disse a gestora de recursos.