Brexit sem acordo não pode ser descartado, diz ex-embaixador
Um “Brexit duro” ainda não pode ser descartado, disse o ex-embaixador do Reino Unido para o Japão, em meio às eleições que podem determinar a saída do país da União Europeia.
Fabricantes japonesas como Toyota e Nissan, que há décadas investem no Reino Unido como porta de entrada para o mercado europeu, alertam para o estrago que seria causado por uma saída sem acordo.
“Existe a possibilidade de um Brexit sem acordo realmente acontecer”, dependendo do resultado da eleição, disse Koji Tsuruoka à Bloomberg News em Tóquio, citando o prazo apertado para as negociações de um acordo comercial abrangente.
Tsuruoka assumiu o cargo de embaixador para o Reino Unido semanas antes do referendo da União Europeia, tendo atuado por mais de três anos antes de se aposentar no mês passado.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, e seu Partido Conservador prometeram deixar a UE até 31 de janeiro em um acordo provisório, o que daria ao governo menos de um ano para assinar e implementar um pacto comercial completo com o bloco até dezembro de 2020.
A fase de transição pode ser prolongada em até dois anos se uma decisão for tomada em meados de 2020.
“Serão negociações muito, muito difíceis”, disse Tsuruoka, que anteriormente liderava a equipe do Japão nas negociações da Parceria Transpacífica, à Bloomberg Television. “É um pouco ambicioso esperar concluí-lo dentro de alguns meses.”
Acordos comerciais de qualquer tamanho geralmente demoram mais de seis meses para serem negociados, enquanto o processo de ratificação em países democráticos pode levar anos, disse Tsuruoka.
A Nissan, cuja fábrica de carros em Sunderland é a maior do país e que emprega diretamente 6,5 mil pessoas, disse em outubro que quaisquer tarifas sobre exportações de automóveis para a UE podem tornar inviáveis suas operações no Reino Unido. A Toyota disse que as linhas de produção podem parar e alertou para longos atrasos na fronteira caso não haja um acordo.
O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, ofereceu apoio à campanha do então primeiro-ministro David Cameron para permanecer na UE antes do referendo de 2016. Meses depois, o Japão divulgou uma carta aberta ao Reino Unido e à UE, pedindo previsibilidade no processo de negociações do Brexit em nome de aproximadamente mil empresas japonesas.
Em janeiro deste ano, Abe reiterou durante uma visita ao Reino Unido que o mundo quer evitar um Brexit sem acordo.