Brexit e Itália: diminui aversão ao risco na semana, mas tensões continuam
Por Investing.com – A semana que se encerra não apresentou uma definição de como será o processo de saída da Grã-Bretanha da União Europeia, que está prevista para 29 de março. Havia, no entanto, a possibilidade de retrocessos que chegaram a elevar a aversão ao risco nos mercados internacionais no início da semana, além de desvalorizar a libra (GBP/USD) em relação ao dólar.
Na segunda-feira (10) estava agendada a votação, no Parlamento britânico, dos termos do acordo que a primeira-ministra Theresa May celebrou com a União Europeia no mês passado para conduzir a separação do país com o bloco econômico, mas a votação foi cancelada pela própria premiê, pois havia ampla possibilidade de rejeição do acordo pelos parlamentares.
Na terça-feira (11), a ala eurocética do Partido Conservador contestou a liderança de May no cargo e desencadeou um voto de desconfiança, contestando o acordo com a UE, pois abria várias possibilidades desde o adiamento do Brexit até a realização de um novo referendo sobre a associação à UE. A primeira-ministra, entretanto, conseguiu reverter na quarta-feira a desconfiança, com votos favoráveis de 200 parlamentares conservadores para se manter no cargo – precisava de 159 -, sendo que 117 votaram contra a sua permanência.
Antes e após o voto de desconfiança, May conversava com lideranças europeias para flexibilizar os termos do acordo, o que era negado, por exemplo, pela chanceler alemã Angela Merkel, sem abrir margem para novas negociações. O ponto de impasse é a fronteira da Irlanda do Norte e a Irlanda, que hoje há uma livre circulação de mercadorias e de pessoas e, sem um acordo, pode haver a instalação de barreiras alfandegárias. Diante das negativas, a premiê britânica prossegue a sua peregrinaçãopelos principais países do bloco para flexibilizar o acordo que visa facilitar a aprovação no Parlamento, cuja votação deve acontecer na segunda quinzena de janeiro.
A inflexibilidade na mudança dos termos do acordo também acontece internamente.Adversários de May classificam como fracasso e humilhante a tentativa da premiê de mudar os termos do acordo sair da UE “sem traumas” em outros países. Por isso, há risco do processo de separação ocorrer sem controle e, consequentemente, desordenado, pegando empresas e pessoas desprevenidas.
Itália
Ainda no continente europeu, outro assunto que amplifica a aversão ao risco nos mercados mundiais é o embate entre a Comissão Europeia e o governo populista da Itália entorno do orçamento italiano do próximo ano.
A coalizão composta pelo movimento anti-establishmente 5 Estrelas e pela Liga de Direita, sob a liderança do primeiro-ministro Giuseppe Conte, apresentou inicialmente um orçamento com uma meta de déficit de 2,4% do PIB. A destinação de 9 bilhões de euros para fornecer auxílio aos pobres e 7 bilhões para facilitar a aposentadoria de trabalhadores de 62 anos com 38 anos de contribuição são os principais responsáveis pelos gastos governamentais acima da receita.
Na quarta-feira, em reunião em Bruxelas com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, Conte se ofereceu reduzir o déficit orçamentário do ano que vem para 2,04% do PIB para evitar medidas disciplinares do bloco econômico. O governo italiano não deu detalhes de como vai reduzir a sua meta de déficit, mas Conte sugeriu em atrasar a implementação das medidas, assim como vender mais ativos em posse do Estado do que o planejado. Mas as negociações continuam abertas.