Brexit custa US$ 124 bi em produção perdida para Reino Unido
O Brexit tem custado 100 bilhões de libras por ano (US$ 124 bilhões) à economia do Reino Unido, com os efeitos que abrangem desde investimentos corporativos até a capacidade das empresas de contratar trabalhadores.
Uma análise da Bloomberg Economics três anos depois de o Reino Unido ter deixado a União Europeia mostra um quadro sombrio dos danos causados pela forma como a separação foi implementada pelo governo liderado pelo Partido Conservador.
Os economistas Ana Andrade e Dan Hanson avaliam que a economia está 4% abaixo de seu potencial. Os investimentos das empresas diminuíram significativamente e o déficit de trabalhadores da UE aumentou.
“O Reino Unido cometeu um ato de autoagressão econômica quando votou para deixar a UE em 2016? As evidências até agora ainda sugerem que sim”, escreveram Andrade e Hanson em nota publicada nesta terça-feira. “A principal conclusão é que a ruptura do mercado único pode ter impactado a economia britânica mais rapidamente do que nós, ou a maioria dos outros analistas, esperávamos.”
Os dados desmentem a afirmação do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, de que o Brexit é uma “enorme oportunidade” para o Reino Unido que começa a se concretizar. Cortar os laços com a UE permite que o governo britânico crie os chamados “portos francos” para estimular o comércio e reformular as regras dos serviços financeiros em benefício dos bancos da City de Londres.
“Fizemos grandes avanços ao aproveitar as liberdades desbloqueadas pelo Brexit para enfrentar os desafios geracionais”, disse Sunak em comunicado na segunda-feira. “Seja liderando a distribuição mais rápida de vacinas da Europa, fechando acordos comerciais com mais de 70 países ou retomando o controle de nossas fronteiras, abrimos caminho como uma nação independente com confiança.”
O estudo da Bloomberg reconhece que calcular quanta produção foi perdida devido ao Brexit não é “fácil nem preciso”, até porque a saída da UE coincidiu com os abalos sísmicos causados pela pandemia de coronavírus.
No entanto, está claro que o desempenho econômico do Reino Unido começou a divergir do resto do Grupo dos Sete após a votação de 2016 para deixar a EU, e essa diferença aumentou desde então.
O fraco desempenho é parcialmente explicado pelo investimento corporativo, uma vez que as empresas adiam as decisões de gastos devido à incerteza sobre o que significaria a vida fora da UE. Embora parte dessa cautela esteja se dissipando, o Reino Unido tem um longo caminho a percorrer para fechar a lacuna com seus principais pares. Em cerca de 9% do PIB, o investimento empresarial está abaixo da média do G7, de 13%.
A economia do Reino Unido continua a ser prejudicada pela escassez de mão de obra – e o Brexit teve um papel importante.
Hanson e Andrade estimam que há 370 mil trabalhadores da UE a menos no mercado de trabalho do Reino Unido do que haveria se o país tivesse permanecido no bloco, um número apenas parcialmente compensado pela chegada de cidadãos de fora da UE.
“A escassez de mão de obra aumenta a pressão inflacionária no curto prazo e restringe o crescimento potencial mais adiante”, escreveram os economistas. “Isso não é uma boa notícia para uma economia que enfrenta perspectivas sombrias de longo prazo, com tendência de crescimento pouco acima de 1%.”
No que diz respeito ao comércio, o quadro é ligeiramente menos negativo, já que economistas concluíram que o Brexit não parece deixar uma marca clara.
“Se por um tempo parecia que as barreiras impostas à UE em 2021 criavam uma divisão entre o Reino Unido e o desempenho comercial do G7, essa lacuna não parece mais tão significativa”, escreveram.
“Ainda assim, os dados comerciais foram sujeitos a revisões metodológicas, potencialmente obscurecendo a comparação. A longo prazo, esperamos que o comércio sofra o impacto da saída do mercado único.”