‘Brecha para subir a Selic já existia e agora foi escancarada’, diz economista da Julius Baer após surpresa no PIB do 2º semestre
O Banco Central tem mais um motivo para voltar a elevar a taxa Selic: o Produto Interno Bruto (PIB) mais forte do que o esperado no segundo trimestre de 2024 (2T24).
A atividade econômica cresceu 1,4% na comparação com os três primeiros meses deste ano e, na base anual, subiu 3,3%. As expectativas eram de altas de 0,9% e 2,7%, respectivamente.
O economista sênior do Julius Baer Brasil, Gabriel Fongaro, diz que a brecha para um novo ciclo de aperto monetário “já existia e agora foi escancarada”, uma vez que o consumo acelerou. “A economia rodou, no primeiro semestre, a um crescimento anualizado de 5,1%”, afirma.
Segundo Fongaro, em entrevista ao Money Times, a economia está sobreaquecida e crescendo além do que consegue sem gerar pressão inflacionária. “Apesar de os componentes do IPCA mais sensíveis ao ciclo econômico não apresentarem uma dinâmica preocupante na margem nos últimos meses, para frente há uma preocupação de que vai ter uma aceleração mais forte”, diz.
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Além disso, as variáveis do PIB indicam que a demanda está mais forte do que a oferta — o que é “ruim para a inflação”. “Contribui para essa piora do balanço de riscos da inflação“, afirma.
Antes da divulgação do PIB, o mercado já precificava um novo ciclo de alta nos juros. O economista do Julius Baer explica que a projeção já era pautada nas expectativas desancoradas da inflação e na política fiscal estimulativa. “Se a política fiscal pisa muito fundo no acelerador, então, para que a inflação não saia de controle, é preciso pisar no freio monetário”, diz.
Fongaro, assim como parte do mercado, espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleve a Selic já na reunião de setembro, que acontece nos dias 17 e 18.
PIB ‘sobreaquecido’
O economista do Julius Baer afirma que o PIB acima do esperado entre abril e junho foi puxado, principalmente, pelo consumo do governo, que subiu 1,3%. “Foi a maior alta desde o terceiro trimestre de 2022. É o que mais chama atenção porque estamos em um contexto de preocupação com a política fiscal”, diz.
Além disso, Fongaro destaca o consumo das famílias, que também teve alta de 1,3% e mostra uma demanda doméstica “realmente muito aquecida”.
O PIB divulgado hoje mais cedo evidencia a tendência altista para este ano, mas, segundo o economista, será “difícil” manter o ritmo do primeiro semestre.
Isso porque o número foi fortemente impulsionado por fatores temporários — como a liberação de precatórios e o reajuste real do salário mínimo –, que devem perder intensidade nos últimos seis meses de 2024. “Ajuda a explicar alguma desaceleração prevista no segundo semestre”, afirma.
A projeção do Julius Baer Brasil é de que o PIB brasileiro feche este ano acima do patamar de 3%.