Bradesco

Brasileiro usa mal previdência, diz diretor do Bradesco

24 jul 2018, 9:05 - atualizado em 24 jul 2018, 9:07

Por Angelo Pavini, da Arena do Pavini – Poucos brasileiros têm o hábito de pensar no futuro. E os que pensam nem sempre o fazem de maneira planejada. Um exemplo é o baixo número de brasileiros que têm seguro de vida. “O brasileiro é malandro, ele não morre”, ironiza Jorge Poholmann Nasser, diretor-presidente da Bradesco Vida e Previdência. “Quem morre são os outros, vez ou outra um amigo ou conhecido, mas nós não, e por isso não nos preocupamos com o amanhã”, diz. Mas, tão ruim quanto os que não fazem seguro são os que pensam que fazem. Eles compram algum seguro sem planejamento e se acham protegidos, mas nem sequer sabem de quanto é a indenização. “Ter o seguro, mas não saber de quanto é, é como não ter”, avalia Nasser.

Para ele, isso faz parte da cultura do brasileiro, de achar que coisas ruins só acontecem com os outros e nunca pensar nelas. E a mesma lógica se aplica à previdência privada. Poucos se preocupam em poupar para o futuro, mas mesmo entre os que têm um plano, muitos aplicam mensalmente, mas não sabem de quanto é o benefício esperado no futuro, qual o rendimento da aplicação hoje ou seu custo. “E a previdência exige mais atenção ainda que o seguro de vida”, alerta Nasser.

Portabilidade pode trazer perda com mudança de plano

Para o executivo, esse desconhecimento se torna mais grave com o aumento na portabilidade de fundos de previdência entre as instituições, movimento que, diz, pode ser prejudicial para o investidor. “Chega alguém e diz: vamos analisar seu plano e encontrar algo mais barato, olhando apenas a taxa de administração”, afirma. “É obvio que a pessoa deixa algo para trás e às vezes sai de um plano melhor para um mais barato, mas com condições piores”, diz.

Isso ocorre porque os planos antigos têm tábuas atuariais que preveem uma vida mais curta para o beneficiário, o que eleva o benefício na hora de transformar o plano em renda vitalícia. Planos novos já trabalham com tábuas atuariais de vida mais longa, que preveem benefícios menores. Mas poucos consideram essa variável e olham apenas o custo da taxa de administração do fundo na hora da migração. Até porque consideram que a pessoa não vai transformar o plano em renda, mas simplesmente ir sacando o dinheiro como um fundo de investimentos.

Disputa de taxas de administração é ruim, diz executivo

Para Nasser, o maior risco do mercado de previdência privada hoje é a disputa de taxas administração, uma vez que muitas gestoras independentes e seguradoras estão criando fundos de previdência também, com custos menores de gestão. O crescimento de corretoras independentes que oferecem esses fundos aos seus investidores também coloca maior pressão sobre os grandes bancos. “Isso dilapida o valor de mercado e todo mundo vai perder, inclusive o cliente”, diz o executivo do Bradesco. Segundo ele, não necessariamente uma taxa de administração baixa dá garantia de retorno maior para o investidor. “Claro que tem limites, havia um certo exagero nas taxas, especialmente nos tempos de inflação alta, mas era em um tempo em que ninguém sabia o que ia ser o futuro”, admite.

Taxas de 1% para o varejo

Hoje, Nasser estima que as taxas de administração podem partir de 0,20% ao ano para grandes investidores, ficando em torno de 1% para o varejo nos grandes bancos. “Mas se eu quero um fundo dinâmico, com mais diversificação, preciso pagar um pouco mais”, afirma. Por isso, ele recomenda que o investidor analise periodicamente sua previdência privada. “A pessoa pode estar pagando pouquinho, mas não ter nada de gestão no fundo”, explica.

Isenção na taxa de carregamento

Ele diz também que os grandes bancos estão acabando com a taxa de carregamento, que era cobrada sobre cada aplicação feita em fundos de previdência aberta, e que podia chegar a 3% do valor aplicado. A taxa representava um custo além da taxa de administração. “Hoje, no Bradesco, nós não cobramos mais o carregamento e vários outros bancos estão fazendo o mesmo”, diz. O Itaú Unibanco isentou a taxa para os clientes do Personnalité, mas os de varejo continuam pagando. Esse é outro reflexo da concorrência entre as instituições.

Falta de cultura de poupança de longo prazo

A previdência aberta enfrenta também o desafio cultural no Brasil com relação à poupança de longo prazo. Hoje, apenas 13 milhões de pessoas têm planos de previdência privada, um número baixo. “E nesse número tem gente que faz plano de previdência para trocar de carro, o que mostra que falta ao brasileiro a cultura de separar os recursos de curto, médio e longo prazo”, afirma Nasser.

Medo de oscilações atrapalha investidor

O brasileiro também é pouco resiliente a oscilações de mercado, o que dificulta a poupança de longo prazo, afirma Nasser. “Agora mesmo, em maio e junho, tivemos rentabilidade negativa em fundos de renda fixa, e todo mundo fala: ‘Como assim?’; mas é normal”, observa. “Dependendo do cenário de mercado, de forte alta ou queda dos juros, podemos ter perdas ou ganhos virtuais na renda fixa, mas é a taxa que você acertou na aplicação que vai receber no fim”, explica. “Mas falta conhecimento do investidor e resistência para olhar a aplicação caindo e não pular do barco em ele andando”.

Falta de preocupação com o futuro

Para Nasser, o fato de o Brasil nunca ter enfrentado grandes guerras ou tragédias, como os europeus e americanos, reduz a preocupação com o futuro. “Até em casa isso acontece: um colega nosso perdeu a irmã cedo e ela não tinha seguro”, diz. ”Assusta muito as pessoas não pararem para pensar na família ou no futuro.”

Conversão em renda chega a 25% dos planos no final

Nasser estima que 25% das pessoas convertem seus planos de previdência privada em renda, que pode ser temporária, vitalícia ou apenas parte em renda vitalícia. “Não é um percentual tão baixo, mas poderia ser maior”, diz. Segundo ele, em parte isso se deve ao fato de o brasileiro querer continuar cuidando do próprio dinheiro. “Enquanto o europeu se aposenta e vai viajar, o brasileiro vira consultor ou usa o dinheiro para colocar em um negócio da família e continuar trabalhando”, afirma Nasser. “Ele tem vergonha de dizer que é aposentado”, diz. Muitos também não convertem o plano em renda porque o fundo foi usado como planejamento sucessório, já que ele não entra em inventários.

Problemas do INSS devem incentivar previdência privada

O executivo espera que o interesse pela previdência privada aumente nos próximos anos, já que a previdência social pública é insustentável no modelo atual. Ele lembra que alguns países, como a Grécia, tiveram de tomar medidas muito mais drásticas para ajustar seus sistemas previdenciários. “E vai chegar o momento em que vamos ter de falar que as pessoas não vão receber benefícios, pois não tem milagre”, afirma. Nasser lembra que, na década de 40, quando Getulio Vargas incentivou o modelo atual de previdência social, havia 15 contribuintes para cada aposentado. Hoje são 9 e a projeção do governo é de que, em 20 anos, sejam 4 trabalhadores na ativa para cada aposentado. “E tem pessoas que contribuíram por dois, três anos e acham que vão ter direito a aposentadoria, esperam um milagre de receber renda porque não pararam para olhar como o sistema funciona”, explica.

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