AgroTimes

BrasilAgro (AGRO3): ‘É hora de sair comprando’; diretora de RI fala sobre aquisições, dividendos e AgroGalaxy (AGXY3)

11 nov 2024, 7:00 - atualizado em 08 nov 2024, 18:14
brasilagro agro3 (8)
(Foto: Money Times)

Com o início da nova safra, a BrasilAgro (AGRO3), empresa focada em valorização de propriedades rurais por meio da produção, busca um ciclo melhor no período 24/25 do que aquele visto em 23/24.

Quem falou sobre o tema com o Money Times foi Ana Paula Zerbinati, diretora de Relações com Investidores da companhia. No primeiro trimestre da safra 2024/2025 (1T25), a empresa reportou um lucro líquido de R$ 97,457 milhões, crescimento de 225%.

“Quando você vem de um ano muito desafiador, fica mais fácil mostrar o crescimento. Eu acho que a safra 24/25 vem para sair desse ciclo de baixa que o agronegócio vem enfrentando nos últimos dois anos. Nesse 1T25, vimos esse incremento também na parte imobiliária, que é a a ‘cereja do bolo’ do nosso negócio e nos diferencia de outros pares que só operam na agricultura”, disse. A executiva ressaltou a melhora nas margens com o controle de custos e uma manutenção dos preços das commodities. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O momento atual do agronegócio

O ano de 2024 ficou marcado por um aumento dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio, como aconteceu com a AgroGalaxy (AGXY3). Zerbinati ressalta que não há impactos da RJ da varejista de insumos na BrasilAgro, mas comenta que eventos como esse assustam.

“Assusta quando acontece como uma empresa listada. Quando você vem de ciclos ruins no setor, com margens apertadas, quebra de safra por problemas climáticos, é natural ter produtores com situações financeiras complicadas. Também é natural uma reversão deste cenário, até porque quem pediu recuperação judicial ganhou um fôlego para tirar a empresa do buraco”.

BrasilAgro vai às compras?

A BrasilAgro, no entanto, não acredita que o aumento no número de RJs seja uma tendência generalizada, já que apesar dos desafios do ano passado, ainda foram vistos bons resultados no setor.

“É o famoso nivelar por baixo. Quando você compara com outros setores, o agro está performando bem, com seus desafios que são cíclicos. Pode ser que um ciclo ruim, que antes durava 2 anos, passe a durar 3 ou 4. Para a BrasilAgro, vemos como um viés de compra, com projetos novos via arrendamento e aquisições. Isso tende a ser positivo para nós, a partir dessa perspectiva”. 

Com mais de 200 mil hectares em seu portfólio, e com foco na disciplina para gestão estratégica para surfar os ciclos, a companhia olha para novas aquisições em um cenário de margens comprimidas para commodities.

Terra pronta está mais cara, mas a que precisa de algum investimento, sai mais em conta mas precisa estar no preço certo. Do lado do imobiliário, acho que é a hora de sair comprando, surfar essa onda de mudança de ciclo e crescer a companhia, continuar entregando os resultados”, completa.

As lições da última safra para o novo ciclo

A safra 2023/2024 da BrasilAgro ficou marcada por dificuldades na operação agrícola, provocadas principalmente pelo clima.

“Teve lugar que choveu demais e teve lugar que choveu menos. Isso nos trouxe uma lição importante, de sempre estar um passo à frente do que vai acontecer. Temos que respeitar a janela de plantio. Insistimos em alguns plantios fora da época ideal no ano passado. Quando se planta um dia que seja fora dessa janela, é 15% a menos da produção”.



Do lado positivo, Zerbinati ressalta a agilidade da empresa em mudar o mix e reduzir a área plantada logo no início do ciclo. Uma decisão rápida que, segundo ela, se mostrou muito acertada.

“Foram 12 mil hectares a menos de milho plantado. Esse ano, por exemplo, atrasou a chuva no Mato Grosso e não conseguimos plantar o algodão dentro da janela. O que fizemos? Mudamos para soja e vamos fazer 1ª e 2ª safra. Íamos plantar gergelim e decidimos voltar com o milho porque é uma commodity que temmelhor comercialização e e com melhor estrutura de hedge. Com essa estratégia, conseguimos limitar as perdas“.

O perfil imobiliário como fortaleza para dividendos de AGRO3

No próximo dia 14 de novembro, a companhia pagará R$ 155 milhões em dividendos, equivalentes a R$ 1,55 por ação,  referentes ao exercício passado.

Zerbinati conta que o setor imobiliário foi o que trouxe resultados para a companhia em 2023 , quando a operação agrícola ficou no “zero a zero”. Ela cita que há espaço para novos negócios no lado imobiliário.

Foi um ano muito difícil do ponto de vista operacional. Para essa safra, temos essa venda da Fazenda Alto Taquari, que fechamos em 2021, dividida em duas etapas e que representou um ganho de R$ 120 milhões nesse trimestre. Só relembrando, para a operação, o primeiro trimestre da safra é o menos significativo, já que você tem mais receita de cana e pouca coisa de grãos, com muito do operacional ainda por vir”. 

A diretora confirma que o investidor pode esperar novos pagamentos de dividendos em 2025. “Estamos dentro do Novo Mercado (segmento com maior nível de exigência em governança da B3), então pelo menos 25% do nosso lucro vai para o pagamento de dividendos”, comenta.

Em entrevista realizada em maio do ano passado, a diretora da BrasilAgro falou sobre como a companhia mirava retomar os patamares de dividend yield de anos anteriores, o que foi alcançado, ficando em 6%.

“Se você for olhar a média dos últimos cinco anos, está um pouco acima, porque a gente surfou uma onda muito boa. Mesmo em anos piores, conseguimos oferecer um bom retorno“, explica. 

“Do lado do imobiliário, acho que é a hora da gente sair comprando, surfar essa onda de mudança de ciclo e crescer a companhia, continuar entregando os resultados que a gente vem entregando”. 

O retorno de Trump à Casa Branca e o dólar próximo de R$ 6

Para a diretora, a volta de Donald Trump e a possibilidade de uma nova guerra comercial com a China deve representar impactos positivos para o Brasil e a América Latina.

Quanto ao dólar mais forte, Zerbinati comenta que os impactos são significativos para a companhia. “Quando você olha a cotação da soja em dólares nos contratos futuros da Bolsa de Chicago, caiu bastante em um ano. Não fosse essa desvalorização do real, as margens na soja estariam muito piores“.