Brasil vê aumento na nova safra de soja; quebra nos EUA traz oportunidades, diz Conab
A safra de soja 2019/20 do Brasil poderá atingir cerca de 122 milhões de toneladas, o que seria um crescimento de 6% ante a temporada anterior, com os produtores investindo para tentar tirar proveito de uma quebra de safra nos Estados Unidos, disse nesta terça-feira um diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A projeção preliminar, baseada em uma recuperação de produtividades após a safra 2018/19 ter sido prejudicada pelo tempo seco em alguns Estados, considera ainda indicativos de preços e custos –a Conab divulga números baseados em pesquisa de campo mais à frente no ano.
A estimativa foi apresentada durante evento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que usou dados preliminares da Conab para a principal cultura do agronegócio do país para estimar um aumento de 2% no PIB Agropecuário brasileiro em 2020.
“É um setor que consegue dar voltas. Querendo ou não, essa quebra da safra norte-americana traz algumas oportunidades que estávamos preocupados no início do ano. Caso não houvesse, estaríamos em uma situação bem diferente hoje, então isso deu um bom fôlego”, afirmou o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Guilherme Bastos, durante o evento.
Por impacto de problemas climáticos no plantio, a produção de soja dos EUA está estimada em cerca de 100 milhões de toneladas, redução de mais de 20 milhões de toneladas ante a temporada anterior, segundo dados do Departamento de Agricultura norte-americano (USDA, na sigla em inglês).
Por outro lado, o Brasil lida com uma menor demanda da China, maior importador global de soja, cujo rebanho de porcos tem sido reduzido pela peste suína africana.
Isso tem resultado em uma demanda não tão forte quanto em 2018, quando chineses recorreram ao produto brasileiro diante da guerra comercial com os norte-americanos.
“Em termos de perspectiva do setor, a soja daqui para frente, será que vai interromper o crescimento da soja? Acredito que não”, acrescentou Bastos.
Ele citou ainda uma série de ações estruturantes, incluindo questões logísticas no Brasil, que terão impacto nos próximos anos.
“Temos muito o que crescer, e não é por outro motivo que os americanos estão vindo para o Brasil, explorando o etanol de milho lá no Mato Grosso…”
Outro fator que contribuirá para o aumento da nova safra é o estoque baixo do grão no país, após fortes exportações em 2018 e um ritmo razoável em 2019, apesar da menor demanda da China.
Ele disse que a demanda da indústria de biodiesel, com uma mistura maior no diesel, também deve ser considerada na decisão dos produtores.
PIB agropecuário
O Produto Interno Bruto do setor agropecuário do Brasil deverá crescer 0,5% em 2019 e 2% em 2020, previu nesta terça-feira o Ipea, que apontou o resultado das lavouras de soja como um limitador para o avanço do PIB do setor, após quebra de safra neste ano.
A avaliação do Ipea é de que o PIB agropecuário tenha caído 1,3% no segundo trimestre, também por influência da menor safra de café, além da soja –esta última é o principal produto do agronegócio brasileiro.
O PIB agrícola, que considera apenas o resultado das lavouras, sem a pecuária, deve crescer apenas 0,2% em 2019, enquanto aumentará 2,8% em 2020, previu o Ipea, que considera ainda aumentos de 6% para as safras de arroz e algodão na nova temporada.
Já o PIB da pecuária deverá ter aumento de 2,3% em 2019 e 2,2% em 2020, com impulso do setor de bovinos, citou o instituto.
(Por Gabriel Ponte; texto de Roberto Samora; edição de Luciano Costa)