Economia

Brasil vai crescer 3% em 2019, diz Credit Suisse

12 dez 2018, 8:21 - atualizado em 12 dez 2018, 11:27

“Cenário positivo para 2019 e 2020”. É com este título que a equipe de análise macroeconômica do Credit Suisse inicia relatório sobre o Brasil, no qual projeta viés otimista de recuperação da economia no próximo biênio. O banco prevê crescimento de 3% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2019 e avanço de 2,5% do nível de produto em 2020, com base principalmente na demanda doméstica, particularmente no consumo das famílias e em investimentos.

Ainda dentro do cenário positivo, a inflação projetada para o biênio é “baixa e estável”: 3,7% em 2018 e 2,5% em 2020. A alta capacidade ociosa permitirá que a inflação mantenha-se em ritmo lento para os próximos trimestres e a ancoragem das expectativas em relação a política fiscal deverá manter a dinâmica da taxa de câmbio menos volátil, de acordo com os analistas.

Adicionalmente, o Credit Suisse destaca a normalização gradual da política monetária, o que permitirá ao Banco Central normalizar a Selic em patamar mais adequado. Neste cenário, o banco projeta Selic de 8% em 2019 e de 9% no fim de 2020.

Sem crescimento, com gastos governamentais

No diagnóstico inicial, os analistas ressaltam dois principais problemas da economia brasileira: a junção de baixo crescimento do PIB entre 1980 e 2018, com média de incremento anual de 2%, aliado a taxa ínfima de crescimento da produtividade do trabalho, de apenas 0,2% no mesmo período de referência.

O outro problema ressaltado é a deterioração fiscal, acelerada também desde 2014, quando os gastos do governo central ultrapassaram a arrecadação, em termos de relação de percentual do PIB no período. “A administração entrante necessitará implementar um forte ajuste fiscal para estabilizar a dívida bruta líquida como percentual do PIB no médio prazo”, destaca a equipe

Para solucionar ambos os problemas, pontuam as seguintes medidas: reforma tributária, maior abertura da economia ao comércio internacional, aprimoramento da competitividade do setor bancário, privatizações e reforma educacional. Outros pontos para ajuste da política fiscal são a reforma da previdência, o congelamento dos salários no setor público, a redução de subsídios fiscais e aumentos adicionais da carga tributária.

De olho na produtividade

Em ranking de competitividade dos países emergentes elaborado pelo Credit Suisse, dentro de 26 países selecionados, o Brasil ocupa somente a vigésima posição, tendo pares dos BRICs em posição bem mais elevada (China em terceiro, Rússia em oitavo e Índia em décimo).

Para aumentar o nível de competitividade, certamente as reformas estruturais devem vir a tona. Neste sentido, o Credit Suisse destaca a alta probabilidade de aprovação da Reforma da Previdência em 2019, com base nos seguintes fatores: alta popularidade do presidente recém-eleito Jair Bolsonaro; a ocorrência do “período de graça”, no qual historicamente os presidentes do Brasil conseguem aprovar reformas e; o viés favorável pela maioria do Congresso frente a Reforma da Previdência, conforme pesquisas recentes.

Vale destacar que espera-se vitória pelo novo governo em pontos também importantes, como privatização de empresas públicas, acordos bilaterais de comércio internacional, autonomia do Banco Central e medidas microeconômicas para elevar a produtividade do trabalho. Em relação às privatizações, os analistas Leonardo Fonseca e Lucas Vilela consideram os seguintes ativos com alta probabilidade de privatização: Telebras, BR Distribuidora e aeroportos em geral.

Setor externo

O Credit Suisse projeta crescimento no déficit em conta corrente nos próximos anos, passando para US$ 25 bilhões em 2019 e US$ 37 bilhões em 2020, valor superior ao déficit de US$ 10,9 bilhões previsto em 2018, particularmente devido a projeção de aprimoramento da demanda doméstica, o que reduz a balança comercial e aumenta a remesa de lucros e dividendos nos próximos anos.

Frente à balança comercial, os analistas esperam decréscimo no superávit comercial, embora haja prognóstico positivo para crescimento tanto das exportações quanto das importações: espera-se exportações de US$ 238 bilhões em 2018, US$ 256 bilhões no próximo ano e US$ 267 bilhões em 2020; com importações de US$ 178 bilhões em 2018, US$ 199 bilhões em 2019 e US$ 215 bilhões em 2020.

Os analistas também destacam o perfil mais saudável da dívida brasileira, pelo alongamento dos prazos, a maior seletividade no volume de swaps pelo Banco Central, e a redução da vulnerabilidade externa diante do alto volume de reservas internacionais.

Inflação, PIB e Crédito

O Credit Suisse espera que a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) atinja 4,2% em 2019 e em 2020, superior frente aos 3,8% projetados para 2018, com pressão de alimentos, indústria e serviços. Em relação ao PIB, o Credit Suisse acredita que o gap entre capacidade produtiva e produção se encerrará no terceiro trimestre de 2019, o que deverá aliviar pressões inflacionárias.

O banco ressalta a expectativa de melhora nas condições de crédito. Do lado da oferta, a queda na taxa de inadimplência nos últimos meses deverá estimular os bancos privados a proverem crédito. Do lado da demanda, tanto empresas quanto famílias passaram por forte processo de desalavancagem nos últimos anos, o que facilita a tomada de empréstimos por ambos.

Varejo

Aposta no consumo das famílias

O banco destaca positivamente a melhora no consumo das famílias como propulsor para um melhor nível de produto em 2019, estimando crescimento de 2,9% em 2019 e 2,6% em 2020. Conforme as estimativas do banco, a variável representa aproximadamente 63% do PIB. Em relação a FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), espera-se crescimento de 9,3% em 2019 e 5,7% em 2020, sendo o segundo fator responsável pelo otimismo acerca do crescimento de 3% para 2019.

Para fundamentar o otimismo em relação ao consumo familiar, o banco destaca o prognóstico de alta na confiança do consumidor em um cenário com menor aversão ao risco no panorama doméstico, com a implementação da agenda fiscal, além da expectativa de expansão no volume de financiamentos pelos bancos e maior crescimento nos salários, como decorrência de uma velocidade superior na criação de postos de trabalho. Espeficicamente em relação a taxa de desemprego, espera-se queda de 12,1% em 2018 para 11,3% em 2019, com posterior recuo para 10,6% em 2020.

JP menos otimista

O JPMorgan também publicou suas estimativas para o próximo biênio. O banco norte-americano projeta crescimento do PIB de 2,6% em 2019 e 2% em 2020, com inflação de 4% em 2019 e 4,1% em 2020. Em relação a Selic, espera-se que o juro básico termine na casa dos 8,75% no fim do próximo ano.

Graduado em Ciências Econômicas pela USP, tendo cursado mestrado em Ciências Humanas e em Economia na UFABC, Valter Outeiro acumulou anos de vivência no mercado financeiro através de passagens nas áreas de estratégia de investimentos dentro de private banks, em multinacionais produtoras de índices de ações e em redações de jornalismo econômico.
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Graduado em Ciências Econômicas pela USP, tendo cursado mestrado em Ciências Humanas e em Economia na UFABC, Valter Outeiro acumulou anos de vivência no mercado financeiro através de passagens nas áreas de estratégia de investimentos dentro de private banks, em multinacionais produtoras de índices de ações e em redações de jornalismo econômico.
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