Brasil registra um dos maiores crescimentos globais no 1T25 — efeito agro ou recuperação sustentável?

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro acelerou no 1º trimestre de 2025, apesar das turbulências internacionais, inflação e juros elevados. Diante do anúncio, muitos se perguntam se o resultado positivo sinaliza perspectivas melhores e mais duradouras para o desenvolvimento econômico, um momento pontual de impulsão, ou apenas uma base de comparação anterior fraca.
Segundo anúncio recente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil registrou crescimento de 1,4% do PIB entre o 4T24 e o 1T25, chegando a R$ 3 trilhões em valores correntes neste último período.
Este crescimento no 1T25 é um dos maiores do mundo entre as economias mais relevantes, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Apenas a Irlanda está à frente do Brasil, com 3,2%, enquanto a China fica em terceiro, com 1,2%. Entre os países com retração, destacam-se os Estados Unidos (-0,1%) e o Japão (-0,2%).
Como principal destaque, a Agropecuária registrou crescimento de 12,2% em relação ao 4T24, favorecido pelas safras de soja (+13,2%), milho (+11,8%), arroz (+12,2%) e fumo (+25,2%). Em particular, a soja, como carro-chefe da agricultura, deve produzir um recorde de 168 milhões de toneladas na safra 24/25. Também houve alta nos Serviços (0,3%), enquanto a Indústria ficou praticamente estável (-0,1%).
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Ainda em comparação com o 4T24, o Consumo das Famílias cresceu 1,0% e o Consumo do Governo se elevou em 0,1%. Em relação ao setor externo, as exportações de bens e serviços cresceram 2,9% e as Importações se elevaram em 5,9%. A Formação Bruta de Capital Fixo cresceu 3,1%, e a taxa de investimento situou-se em 17,8% do PIB, 0,7 pp acima do período anterior, enquanto a taxa de poupança saltou para 16,3%, após dois trimestres consecutivos de queda.
Por sua vez, tomando como referência o 1T24, o 1T25 apresentou crescimento de 2,9%, sendo de 10,2% na Agropecuária, 2,4% na Indústria e 2,1% em Serviços.
No acumulado de 12 meses, o PIB cresceu 3,5%, sendo 1,8% na Agropecuária, 3,1% na Indústria e 3,3% em Serviços. Neste período, o Consumo das Famílias, o Consumo do Governo e a Formação Bruta de Capital Fixo cresceram 4,2%, 1,2% e 8,8%, respectivamente. As Exportações de Bens e Serviços cresceram 1,8% e as Importações 15,6%.
Apesar de positivos, os resultados divulgados ficaram um pouco aquém das expectativas de mercado, que previam um crescimento de 1,5% no período.
Com a divulgação do resultado do 1T25, o Governo Federal elevou de 2,3% para 2,4% a projeção de crescimento do PIB para 2025, com alta de 6,3% na Agropecuária, 2,2% na Indústria e de 2,0% em Serviços. Para os próximos anos, as estimativas se mantêm em torno de 2,6%.
De acordo com o Relatório Focus publicado no início de junho, a mediana de projeções para o crescimento do PIB em 2025 é de 2,13%, reduzindo para 1,80% em 2026.
Para os próximos meses, o desafio de crescimento passa pelo enfrentamento da política contracionista do Banco Central, que vem empenhando esforços para conter a inflação frente ao câmbio desvalorizado e à alta nos preços dos alimentos. Em decorrência dessa política, foram anunciados seis aumentos consecutivos da taxa básica (Selic) entre setembro a maio, que levaram os juros a 14,75% ao ano, o maior patamar em 20 anos.
Visando estimular a atividade econômica frente à potencial desaceleração no 2º semestre, o Governo Federal já considera uma série de iniciativas, como a ampliação do programa Minha Casa, Minha Vida para a baixa renda, incentivos ao crédito, como o Consignado do Trabalhador e programas para renovação da frota de motocicletas de entregadores, liberação dos recursos retidos do FGTS para quem optou pelo saque-aniversário e antecipação de pagamentos do INSS para aposentados e pensionistas, além da devolução de valores descontados de forma indevida dos beneficiários do INSS.
Adicionalmente, estão sendo estudados programas de subsídio de luz e gás para a baixa renda. E há também o pagamento de precatórios, com possibilidade de saques a partir de agosto, num montante que pode chegar a R$ 70 bilhões, segundo estimativas do Tesouro Nacional.
Em suma, diante de um cenário de elevada incerteza global e expectativas de inflação acima da meta, é necessário ir além de medidas paliativas para conter a desaceleração econômica, é fundamental considerar uma pauta que contemple a queda consistente da dívida pública, equalização do arcabouço fiscal e incentivo a investimentos, que passam também pela redução das taxas de juros.
E a consistência e firmeza do Governo na condução de tais medidas estruturais é essencial para a melhoria da qualidade de vida de todos nós.