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Brasil quer fazer ‘negócio da China’ sem o dólar: o que isso significa na prática?

07 abr 2023, 16:00 - atualizado em 07 abr 2023, 12:43
Exportações carne bovina
Exportações brasileiras para a China tendem a ganhar eficiência operacional, redução de custo cambial e maior competividade com transações em yuan (Imagem: REUTERS/Mike Segar)

Brasil e China caminham para firmar um acordo que permitirá que as transações bilaterais não precisem passar pelo dólar. O anúncio foi feito no fim de março, durante seminário sobre negócios entre os dois países, em Pequim.

O novo formato para ambos os países negociarem em suas próprias moedas deve ser formalizado durante visita oficial do presidente Lula ao país asiático. O embarque está previsto para a semana que vem.  

Afinal, como isso funciona na prática? Até a invasão da Ucrânia pela Rússia pouco se ouvia falar sobre o Swift, o sistema de meio de pagamento internacional dominante no mundo e sob controle dos Estados Unidos

Mas a partir do momento em que o contra-ataque de Washington e aliados ocidentais para conter a ofensiva de Moscou em direção a Kiev se deu através de sanções econômicas e financeiras, o mundo acendeu o sinal de alerta. Isso porque o Swift mostrou-se como uma arma de guerra contra eventuais adversários.

Daí então vários países começaram a buscar opções confiáveis e, então, viram no sistema de pagamentos internacionais chinês, chamado CIPS, uma alternativa capaz de fazer frente ao poderio do Ocidente. Mais que isso, era um meio de ficar menos sujeito à interferência de conflitos geopolíticos.

O mundo está se bifurcando e a pressão para escolher um lado é intensa”, avaliou o estrategista sênior do Rabobank, Benjamin Picton, em relatório, ao comentar as relações sino-brasileiras. Para ele, a escolha geopolítica vai desde bancos a cadeias de suprimentos, sendo que a lista de países não alinhados pró-Ocidente cresce mais.

Brasil e China: novos acordos 

No entanto, no caso do Brasil, a questão é outra. Uma vez que a China é o maior parceiro comercial do país por 13 anos consecutivos, a escolha pelo CIPS está relacionada, sobretudo, ao comércio bilateral.

Sob a supervisão do Banco Central chinês (PBOC), o CIPS é uma alternativa ao sistema de pagamento Swift e faz a compensação financeira em yuan (renminbi), conectando os mercados de compensação onshore e offshore e bancos participantes. O processo será viabilizado pela criação de uma clearing house (Câmara de Compensação) ou offshore clearing bank (Banco de Compensação Transfronteiriço). 

Além disso, o PBOC realiza trocas de moedas com vários bancos centrais no mundo. Entre eles, o brasileiro (BACEN). Tanto que em fevereiro deste ano, o Brasil assinou termo semelhante, sinalizando maior cooperação para realizar transações usando yuan. Tal iniciativa tende a fomentar o comércio e os investimentos, facilitando as exportações e transferência de capital.  

Ao mesmo tempo, dados do Banco Central mostram que a moeda chinesa ultrapassou o euro e se tornou a segunda maior moeda de reserva internacional do Brasil. Ao final de 2022, o yuan compreendia 5,37% das reservas, enquanto a moeda única europeia representava 4,74%. Porém, o dólar continua dominante, com 80,42% do total. 

Brasil e China: questões práticas 

Seja como for, essas mudanças também refletem o aprofundamento dos laços econômicos do Brasil com a China. Entre as vantagens para o país ao fazer transações comerciais em yuan, estão a redução de custo cambial, a maior eficiência operacional e a maior competitividade de produtos exportados.

Ou seja, o custo de transação pode ser menor, ao não precisar passar pelo dólar como intermediário na operação. Além disso, pode haver maior rapidez na remessa entre comprador e vendedor, elevando a competitividade entre as empresas brasileiras exportadoras.

A pergunta que fica, então, é: quais seriam os próximos passos para a implementação prática? Para o vice-presidente do Banco da China no Brasil, Hsia Hua Sheng, são necessários mais bancos brasileiros participantes com reservas em renminbi. Além disso, também é preciso fazer ajustes de procedimentos regulatórios no Brasil.

Em artigo publicado na revista da FUNCEX (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), Hsia, que também é professor associado da Fundação Getúlio Vargas (FGV), avalia que é preciso haver maior envolvimento dos agentes financeiros brasileiros na oferta de produto, inclusive em operações de derivativos para proteção (hedge).

“Embora haja algumas desvantagens e empecilhos de implementação, o uso do renminbi nas transações internacionais entre Brasil e China traz vários benefícios, que já ficam muito evidentes em contratos comerciais de curtíssimo prazo com os parceiros chineses”, afirma o vice-presidente do Banco da China, no artigo.  Confira o documento na íntegra.

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