Brasil pode ter ‘travessia segura’ em crise hidrelétrica, diz ONS
Medidas como mudanças nas vazões dos reservatórios de hidrelétricas e o uso de energia termelétrica deverão permitir que o Brasil passe pela crise hidrelétrica de forma “segura”, afastando riscos de abastecimento de eletricidade, disse nesta terça-feira o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi.
Segundo ele, a “situação é preocupante sim“, mas ela foi identificada “tempestivamente” e várias medidas vêm sendo tomadas.
“Com essas ações, garantimos que chegaremos ao final do ano com energia elétrica e potência necessárias para o consumo da sociedade brasileira”, afirmou Ciocchi, durante audiência pública na Câmara dos Deputados.
O evento, que reuniu integrantes de diversas instituições, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foi realizado em momento em que o governo prepara uma Medida Provisória que poderá permitir inclusive a adoção de ações mais drásticas de controle de uso de energia, como um racionamento compulsório.
O texto da MP prevê ainda que um novo comitê, a Câmara de Regras Operacionais Excepcionais para Usinas Hidrelétricas (Care), terá o poder de determinar a alteração da vazão das hidrelétricas –principal fonte de geração do país–, assim como limites de uso e armazenamento.
As projeções do ONS indicam que, sem tais ações adicionais como mudanças na vazão das hidrelétricas, a situação estará ainda mais crítica, com os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste (o principal sistema em armazenamento do sistema no país), chegando ao final do ano com apenas 7,5% de energia armazenada.
“Situação crítica e abaixo de todos os níveis mensais em histórico de 20 anos”, disse
Com as ações implementadas, o sistema chega a 10,3% de energia armazenada, disse ele, “o que ainda é um nível preocupante, mas mostrando que não teremos nenhum problema de energia ou potência ao final de novembro de 2021”, quando tem início a estação chuvosa.
Para o diretor, a primeira e mais importante medida tem relação com as vazões dos reservatórios de Jupiá e Porto Primavera e a flexibilização da operação de reservatórios da bacia do Paraná, principalmente Furnas.
“Essa ação busca segurar essas águas, não usar as águas para geração de energia elétrica, para garantir a governabilidade em todas as cascatas, interligadas. Precisamos garantir que todas as usinas tenham nível mínimo de água para que sejam operadas e manobradas”, disse.
Segundo ele, as medidas permitem maior geração das usinas termelétricas, que poderão ser despachadas com a redução na geração das hidrelétricas neste momento.
Outra medida prevista é a redução do calado ou até a paralisação da hidrovia Tietê-Paraná a partir de 1 de julho.
“Estamos discutindo em nível federal”, afirmou, dizendo que vários departamentos do governo estão sendo mobilizados, incluindo no Estado de São Paulo.
Ele citou ainda a flexibilização da operação dos reservatórios do rio São Francisco. No que diz respeito a este sistema, a Agência Nacional de Águas (ANA) publicou nesta terça-feira resolução que autoriza a operação excepcional nos meses de junho, julho, setembro, outubro e novembro de 2021.
“Isso porque hoje os reservatórios do Nordeste estão com mais água que no Sudeste e o Centro-Oeste. Mais à frente, quando precisarmos dessas águas, dessa energia, possamos contar.”
Ele esclareceu que, até o momento, as medidas não vão trazer restrições para o consumo humano de água, mas sim no uso de hidrovias e para a geração hidrelétrica e o turismo.
“Com essas medidas implementadas conseguiremos uma travessia segura deste nosso ano de 2020/21 tão castigado do ponto de vista hídrico”, afirmou o diretor, citando a pior estação chuvosa para as hidrelétricas em 91 anos.
“Se não adotar essas medidas, chegaremos no próximo ano em condição muito frágil, as ações são fundamentais”, afirmou.