No passado, enfrentávamos a ausência de um arcabouço regulatório adequado para disciplinar e viabilizar a criação de uma Bolsa ou de uma clearing.
Não havia clareza sobre como proceder, e os órgãos reguladores não possuíam diretrizes consolidadas. Cada entidade seguia o seu próprio entendimento, o que dificultava o processo.
Para que isso fosse viável, era necessário apresentar documentos e atender a exigências de governança que não estavam bem definidas.
Além disso, antes mesmo da questão regulatória, havia um desafio estrutural: o monopólio. Por razões históricas, a Bovespa — e, posteriormente, a B3 — consolidou-se como a única bolsa de valores no Brasil.
Isso resultou em um cenário onde não havia incentivos, por parte da própria instituição, para permitir a entrada de concorrentes no mercado nacional.
Diversos players solicitaram acesso à depositária da B3 e tiveram suas solicitações negadas, evidenciando as barreiras enfrentadas por quem buscava abrir o mercado à concorrência.
Money Times: Você então enxerga a possibilidade de ter novas bolsas, além da Bolsa do Rio de Janeiro?
Cláudio Pracownik: Sim, e jamais teremos um discurso hipócrita afirmando que o mercado comporta apenas duas bolsas. O mercado comporta tantas bolsas quantas forem necessárias para atender à demanda e à resolução eficiente dos seus desafios.
Acredito que, em qualquer mercado, a existência e o tamanho da concorrência são determinados pela competência. Players que demonstrem competência, possuam vantagens tecnológicas, operacionais e de produto, poderão se estabelecer no Brasil.
Isso, claro, desde que avaliem a viabilidade econômica e financeira de seus modelos de negócio e consigam gerar superávits.
É simples assim, como em qualquer outro setor — seja uma sorveteria, um restaurante japonês ou o jornalismo. Sempre há espaço para quem é bom no que faz.
Money Times: Qual será o diferencial em relação à B3?
Cláudio Pracownik: Somos uma empresa centrada no cliente. Atualmente, a ATG entende que, se não atendermos bem, com preços competitivos, os clientes simplesmente buscarão alternativas.
Por isso, estamos construindo uma empresa próxima dos clientes, ouvindo suas demandas. Contamos com canais de atendimento que permitem ao cliente sugerir dias mais convenientes para operar, visitar nosso escritório e colaborar no desenvolvimento de novos produtos que sejam importantes para ele. Nosso objetivo é ser uma empresa mais amigável e centrada no cliente (“client-centric”).
A segunda vantagem que oferecemos é nossa tecnologia. Nossa solução é mais eficiente, rápida e determinista, com uma latência consistente e de baixa variação. Para quem depende de velocidade, acreditamos estar apresentando um produto de excelência.
A terceira vantagem está nos custos. Estamos lançando nossa bolsa com 180 funcionários, enquanto nossa concorrente, a B3, é uma organização muito maior, com 2.700 colaboradores.
Money Times: Por quê?
Cláudio Pracownik: Por sermos uma empresa mais enxuta, conseguimos ter uma estrutura de custos mais leve, o que se reflete diretamente em preços mais competitivos para nossos clientes.
Além disso, no campo tecnológico, nossa solução é 100% proprietária. Não dependemos de nenhum provedor externo para nossas principais tecnologias, tanto da Bolsa quanto da Clearing.
Isso nos confere agilidade para implementar mudanças rapidamente e desenvolver inovações de forma eficiente, colocando-as em operação no mercado sem amarras ou restrições contratuais.
Nossa tecnologia proprietária nos permite oferecer produtos que se adaptam rapidamente às necessidades do mercado, com maior velocidade e aderência.
Essa flexibilidade é uma vantagem estratégica, que fortalece nossa capacidade de expandir e atender às demandas em constante evolução do mercado financeiro.
Money Times: Selic mais alta pode atrapalhar?
Cláudio Pracownik: Sabe qual é a vantagem de não estar autorizado com a Bolsa ainda? É que isso não me afeta. Isso não me atinge na física. Afeta as empresas e a economia do país, que é muito grande, mas existe uma razão para que isso aconteça, para que as casas tenham esse valor.
Mas para o meu negócio, isso não me afeta porque a Bolsa vai ser autorizada no final do ano que vem ou no início do ano seguinte. Então, espero e torço para que o mercado melhore até lá. Há um indicativo de que o mercado vai melhorar exatamente no final do ano que vem.
Vamos pegar o vento a favor. Mas se vier um vento contra, vamos estar prontos para lançar também. Vamos lançar e o valor do país como um todo pode ser menor, mas, nesse período, vamos ganhar maturidade e tudo certo com o tempo.
Acho que o que mais é afetado nessa taxa de juros, de fato, é a diminuição do apetite do investidor pelas empresas, principalmente em termos de capacitação, porque o custo de capacitação é muito alto, o investimento é caro. Isso é muito ruim para o país, especialmente para as médias e pequenas empresas.
O que podemos fazer para esse país crescer? A nossa intenção, a nossa missão, é contribuir para isso, junto com a B3 e o mercado, para criar um mercado de capitais mais acessível, democratizando-o, para que o mercado de apostas esportivas não seja superior ao mercado de capitais brasileiro, pois, para o desenvolvimento do nosso país, o mercado de capitais é muito mais importante.