Money Times Entrevista

Brasil pode ter multiplicação de bolsas? ‘Seria hipocrisia dizer que só cabem duas’, diz CEO da bolsa no Rio

11 dez 2024, 7:00 - atualizado em 11 dez 2024, 10:24
Cláudio Pracownik
Em entrevista ao Money Times, o executivo afirmou que não há mais qualquer impedimento para a entrada de concorrência (Imagem: Divulgação SMDUE/Jeff Augusto)

A ‘porteira’ foi aberta e agora o Brasil poderá ter quantas bolsas o mercado achar necessário, vê o CEO da ATG, Cláudio Pracownik, que está por trás da nova bolsa no Rio de Janeiro.

Em entrevista ao Money Times, o executivo afirmou que não há mais qualquer impedimento para a entrada de concorrência.

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“Quem possui pessoas qualificadas, tecnologia adequada e recursos financeiros suficientes precisa apenas seguir os princípios regulatórios. O processo deixou de ser subjetivo e passou a ser totalmente objetivo”, disse.

A ATG foi fundada em 2010 por ex-executivos da Ágora Investimentos, e desde então sonhava com uma concorrente da B3 (B3SA3).

Porém, a companhia esbarrava na falta de acesso às informações necessárias para colocar a ‘operação na rua’. Foi somente em 2019 que, por meio de arbitragem do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), houve um acordo para acesso a sua central depositária.

Depois da ATG, a CSD BR, que tem entre os seus sócios SantanderBTG e Bolsa de Chicago (CBOE), é outra forte candidata a abrir uma bolsa. A empresa conseguiu licença do Banco Central para operar uma depositária, conforme noticiado pelo Brazil Journal.

“Acredito que, quando qualquer mercado permite a existência de concorrência ou define o tamanho dessa concorrência, o fator determinante é a competência. Assim, diversos players que demonstrem competência e possuam vantagens tecnológicas, de processos e de produtos poderão se estabelecer no Brasil”, afirmou.

Selic alta pode atrapalhar?

Pracownik também foi questionado se uma nova alta da taxa básica de juros pode atrapalhar os planos, visto que a Selic mais elevada ‘suga’ o volume de negociação.

Contudo, afirma que isso não é um problema, pelo menos por enquanto. A expectativa é de uma Selic em 13,5% para o ano que vem.

“Sabe qual é a vantagem de não estar autorizado com a Bolsa ainda? Não me afeta porque a Bolsa vai ser autorizada no final do ano que vem ou no início do ano seguinte. Então, espero e torço para que o mercado melhore até lá.

Ele lembra que há um indicativo de que o mercado vai melhorar exatamente no final de 2025.

“Vamos pegar o vento a favor. Mas se vier um vento contra, vamos estar prontos para lançar também”, disse.

Atualmente, a Base Exchange, nome da nova bolsa, se encontra em fase de testes na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e no Banco Central. A expectativa é que essa etapa dure até o meio do ano, com a pretensão de que comece a operar no segundo semestre.

No início, serão ofertados produtos como açõesBDRsEFTs, fundos imobiliários e aluguel de ações. Está no plano negociação de renda fixa, porém não agora.

Veja os trechos da entrevista:

Money Times: Podemos dizer que a bolsa no Rio é uma realidade?

Cláudio Pracownik: Sim. Acredito que estamos vivendo uma mudança conjuntural e estrutural que agora permite que essas iniciativas se tornem realidade de maneira concreta.

No passado, enfrentávamos a ausência de um arcabouço regulatório adequado para disciplinar e viabilizar a criação de uma Bolsa ou de uma clearing.

Não havia clareza sobre como proceder, e os órgãos reguladores não possuíam diretrizes consolidadas. Cada entidade seguia o seu próprio entendimento, o que dificultava o processo.

Para que isso fosse viável, era necessário apresentar documentos e atender a exigências de governança que não estavam bem definidas.

Além disso, antes mesmo da questão regulatória, havia um desafio estrutural: o monopólio. Por razões históricas, a Bovespa — e, posteriormente, a B3 — consolidou-se como a única bolsa de valores no Brasil.

Isso resultou em um cenário onde não havia incentivos, por parte da própria instituição, para permitir a entrada de concorrentes no mercado nacional.

Diversos players solicitaram acesso à depositária da B3 e tiveram suas solicitações negadas, evidenciando as barreiras enfrentadas por quem buscava abrir o mercado à concorrência.

Money Times: Você então enxerga a possibilidade de ter novas bolsas, além da Bolsa do Rio de Janeiro?

Cláudio Pracownik: Sim, e jamais teremos um discurso hipócrita afirmando que o mercado comporta apenas duas bolsas. O mercado comporta tantas bolsas quantas forem necessárias para atender à demanda e à resolução eficiente dos seus desafios.

Acredito que, em qualquer mercado, a existência e o tamanho da concorrência são determinados pela competência. Players que demonstrem competência, possuam vantagens tecnológicas, operacionais e de produto, poderão se estabelecer no Brasil.

Isso, claro, desde que avaliem a viabilidade econômica e financeira de seus modelos de negócio e consigam gerar superávits.

É simples assim, como em qualquer outro setor — seja uma sorveteria, um restaurante japonês ou o jornalismo. Sempre há espaço para quem é bom no que faz.

Money Times: Qual será o diferencial em relação à B3?

Cláudio Pracownik: Somos uma empresa centrada no cliente. Atualmente, a ATG entende que, se não atendermos bem, com preços competitivos, os clientes simplesmente buscarão alternativas.

Por isso, estamos construindo uma empresa próxima dos clientes, ouvindo suas demandas. Contamos com canais de atendimento que permitem ao cliente sugerir dias mais convenientes para operar, visitar nosso escritório e colaborar no desenvolvimento de novos produtos que sejam importantes para ele. Nosso objetivo é ser uma empresa mais amigável e centrada no cliente (“client-centric”).

A segunda vantagem que oferecemos é nossa tecnologia. Nossa solução é mais eficiente, rápida e determinista, com uma latência consistente e de baixa variação. Para quem depende de velocidade, acreditamos estar apresentando um produto de excelência.

A terceira vantagem está nos custos. Estamos lançando nossa bolsa com 180 funcionários, enquanto nossa concorrente, a B3, é uma organização muito maior, com 2.700 colaboradores.

Money Times: Por quê?

Cláudio Pracownik: Por sermos uma empresa mais enxuta, conseguimos ter uma estrutura de custos mais leve, o que se reflete diretamente em preços mais competitivos para nossos clientes.

Além disso, no campo tecnológico, nossa solução é 100% proprietária. Não dependemos de nenhum provedor externo para nossas principais tecnologias, tanto da Bolsa quanto da Clearing.

Isso nos confere agilidade para implementar mudanças rapidamente e desenvolver inovações de forma eficiente, colocando-as em operação no mercado sem amarras ou restrições contratuais.

Nossa tecnologia proprietária nos permite oferecer produtos que se adaptam rapidamente às necessidades do mercado, com maior velocidade e aderência.

Essa flexibilidade é uma vantagem estratégica, que fortalece nossa capacidade de expandir e atender às demandas em constante evolução do mercado financeiro.

Money Times: Selic mais alta pode atrapalhar?

Cláudio Pracownik:  Sabe qual é a vantagem de não estar autorizado com a Bolsa ainda? É que isso não me afeta. Isso não me atinge na física. Afeta as empresas e a economia do país, que é muito grande, mas existe uma razão para que isso aconteça, para que as casas tenham esse valor.

Mas para o meu negócio, isso não me afeta porque a Bolsa vai ser autorizada no final do ano que vem ou no início do ano seguinte. Então, espero e torço para que o mercado melhore até lá. Há um indicativo de que o mercado vai melhorar exatamente no final do ano que vem.

Vamos pegar o vento a favor. Mas se vier um vento contra, vamos estar prontos para lançar também. Vamos lançar e o valor do país como um todo pode ser menor, mas, nesse período, vamos ganhar maturidade e tudo certo com o tempo.

Acho que o que mais é afetado nessa taxa de juros, de fato, é a diminuição do apetite do investidor pelas empresas, principalmente em termos de capacitação, porque o custo de capacitação é muito alto, o investimento é caro. Isso é muito ruim para o país, especialmente para as médias e pequenas empresas.

O que podemos fazer para esse país crescer? A nossa intenção, a nossa missão, é contribuir para isso, junto com a B3 e o mercado, para criar um mercado de capitais mais acessível, democratizando-o, para que o mercado de apostas esportivas não seja superior ao mercado de capitais brasileiro, pois, para o desenvolvimento do nosso país, o mercado de capitais é muito mais importante.

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
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