Brasil pode ser pego nadando pelado, alertam economistas
Em meio às incertezas quanto à aprovação de novas regras na Previdência, analistas temem o efeito na taxa de câmbio em caso de fracasso na votação, prevista para começar em 19 de fevereiro. Para Dev Ashish, economista do Société Générale, sem a reforma, a economia dependerá do impulso das commodities para assegurar o crescimento.
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“Isso poderia expor os sinais de recuperação quando a situação política se tornar incerta no segundo semestre do ano. Estamos cautelosamente otimistas quanto a uma maior aceleração do crescimento no curto prazo. No entanto, o risco de um retorno da incerteza no médio prazo é bastante real”, interpreta Ashish em relatório do banco enviado a clientes.
Tal situação do Brasil, corroborada por outros especialistas, lembra uma famosa frase de Warren Buffett segundo a qual você só descobre quem está nadando pelado quando a maré baixa.
Em entrevista ao Money Times na semana passada, Marcos Lisboa, presidente do Insper e ex-secretário de política econômica (2003-2005), reiterou o alerta sobre o drama das contas públicas do Brasil: o espaço para empurrar o problema com a barriga está por um fio. “Não dá para esperar a eleição. O risco de paralisia da máquina pública por falta de recursos em 2019 é muito elevado. Eu disse há alguns anos que o Brasil poderia virar um grande Rio de Janeiro, e ele pode. Essa chance é já em 2019.”
Sem a reforma, ventos contrários à expansão do PIB poderiam enfraquecer a tese de cientistas políticos na qual o eleitor votaria pela continuidade da agenda atual, seduzido pela maior oferta de trabalho. Na visão do economista do SocGen, o viés pró-mercado assumido pelo governo Temer em 2016, o aumento da confiança, o salto nas commodities e a queda nos preços dos alimentos contribuíram para a reversão da recessão no Brasil.
Tudo isso valorizou os ativos brasileiros, auxiliando em certa estabilidade do dólar frente ao real, em um movimento agora sob atenção dos analistas. Sidnei Nehme, economista e diretor executivo da NGO, vê “perspectivas preocupantes” que deverão provocar a depreciação do câmbio rumo à faixa de R$ 3,50 ao fim do primeiro trimestre.
“O fato do governo ter recuado [na questão da ‘regra de ouro], amparado pela manifestação do BNDES, pontual e sincronizado, de retornar ao Tesouro Nacional recursos da ordem entre R$ 130 bilhões a R$ 150 bilhões ‘soluciona’ o problema de 2018, mas arremete de imediato as discussões já focando 2019”, avalia Nehme.
O economista da NGO acrescenta: ”Parece irônico, mas 2018 no nascedouro já parece absorvido pelas preocupações em torno de 2019, pois se solução não for encontrada para a elaboração da peça orçamentária, o risco de calote em perspectiva ficará inconteste para 2019”.
Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, acredita que o governo Temer terá apoio no Congresso para aprovar a reforma da Previdência depois das eleições. “Esperamos que até a definição do quadro eleitoral, a taxa de câmbio apresente alguma volatilidade dependendo do cenário eleitoral mais provável e que tenha leve viés para depreciação por conta do risco de cenário adverso.”
O Ibovespa, principal índice de ações da B3, recua nesta terça-feira (9), oscilando pouco abaixo dos 79 mil pontos após 11 valorizações seguidas. A série positiva foi alimentada pelo cenário externo otimista e pela aposta de Lula fora da corrida presidencial. No câmbio, o dólar avança frente ao real, cotado na faixa dos R$ 3,24.