Brasil pode perder até US$ 10 bilhões na balança comercial com taxas de Trump, calcula BTG

O Brasil pode perder aproximadamente US$ 3 bilhões na balança comercial se Donald Trump aplicar uma tarifa média similar à que o país impõe aos Estados Unidos (EUA), de 5,8%, estima o BTG Pactual.
A equipe do banco alerta, porém, que os EUA podem impor taxas maiores para compensar as barreiras regulatórias, o que pode comprometer a competitividade dos produtos brasileiros. Em caso extremo de tarifa linear de 25%, a perda na balança brasileira poderia ultrapassar US$ 10 bilhões em 2026.
O impacto poderia ser ainda mais severo em um contexto de escalada da guerra comercial entre os EUA e a China, dizem. Isso poderia reduzir a demanda chinesa por commodities brasileiras e afetar os preços internacionais.
“Esses números consideram principalmente efeitos diretos, não contemplando o possível redirecionamento do comércio (com efeitos mais graduais)”, explicam Iana Ferrão e Pedro Oliveira.
Nesta quarta-feira (2), deve acontecer o evento que o presidente norte-americano tem chamado de “o dia da libertação”, quando devem ser anunciadas taxas de reciprocidade de importação pelos EUA. A abordagem busca equilibrar o déficit comercial do país e estimular a produção interna.
O Brasil se tornará um alvo potencial da taxação se Trump mirar em países com barreiras comerciais elevadas ou se forem aplicadas tarifas generalizadas a setores específicos, avalia a equipe do banco.
Por outro lado, se os EUA focarem apenas em nações com as quais mantêm grandes déficits comerciais ou em mercados com forte presença na economia norte-americana, o Brasil pode inicialmente escapar de sanções diretas.
“Ainda há incerteza sobre quais países e setores serão atingidos”, afirmam Ferrão e Oliveira.
Brasil pode ser alvo de tarifas Trump
Com uma tarifa média ponderada de importação de 5,8%, contra 1,3% dos EUA, e um índice de barreiras não tarifárias (BNT) de 86,4% — superior à média internacional de 72% –, o Brasil figura entre os países mais fechados ao comércio exterior.
Segundo a equipe o BTG, a diversificação da pauta exportadora brasileira pode limitar o impacto geral na balança comercial, mas setores com alta dependência do mercado dos EUA correm risco significativo.
Entre os produtos mais vulneráveis estão semimanufaturados de ferro e aço (72,5% das exportações para os EUA), aeronaves (63,2%), materiais de construção (57,5%), etanol (48,5%), madeira e derivados (43,3%) e petróleo e derivados (27,9%).
Caso os EUA adotem uma abordagem de reciprocidade “produto a produto”, alguns itens, como petróleo e derivados, podem ser menos impactados. No entanto, essa estratégia é considerada menos provável pelos analistas.
O setor siderúrgico já sente os efeitos da política protecionista americana, uma vez que os EUA impuseram tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio. O governo brasileiro, por ora, evita retaliar e aposta no diálogo para mitigar impactos, seguindo a estratégia adotada em negociações passadas, como em 2018 e 2019.