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Brasil pode ganhar ‘no vácuo’ das tarifas de Trump, mas espaço hoje é mais limitado, diz especialista

06 fev 2025, 12:53 - atualizado em 06 fev 2025, 12:56
donald trump grãos
(Imagem: REUTERS/Alyssa Pointer)

Há duas semanas, Donald Trump tomou posse para seu segundo mandato à frente da Casa Branca. Em sua volta, o presidente aplicou uma série de tarifas, com destaque para China, com encargos de 10%. Trump ainda anunciou tarifas de 25% para México e Canadá, mas decidiu adiar a medida por um mês.

A China acabou reagindo na terça-feira (4), anunciando medidas de retaliação, incluindo um adicional de tarifas de 15% sobre as importações de GNL e carvão americano e de 10% sobre petróleo, máquinas agrícolas e alguns veículos.

O aumento das tensões comerciais desde a posse de Trump levou o mercado a avaliar os possíveis impactos das tarifas no fluxo comercial entre os países.

Para Leandro Gilio, professor e pesquisador especializado em agronegócio no Centro de Agronegócio Global do Insper, o Brasil pode até ser eventualmente se beneficiar “no vácuo” da nova guerra comercial. Mas o espaço desta vez é mais limitado em relação ao mandato anterior de Trump.

No momento da posse de Trump, ainda havia uma dúvida se ele ainda seria agressivo no sentido de elevar tarifas ou se essa taxação viria por meio de fases.

Isso porque, os EUA convivem com uma inflação em alta, o que obriga o Federal Reserve (Fed) a manter o patamar de juros elevado.

“O principal impacto fica para o consumidor norte-americano, dado que a indústria manufatureira dos EUA é altamente integrada com esses três países. Cenário que exerce pressão interna de preços”.

O pesquisador comenta que México e Canadá importam quase US$ 7 bilhões em carnes bovina, suína e de aves anualmente dos EUA.

E o Brasil?

Mesmo com o Brasil aparecendo como um dos possíveis alvos das tarifas adotadas, Gilio avalia que não há grandes preocupações.

“Não é como houvesse um grande fluxo de comércio e superávit com os EUA. E com o Brasil sendo aliado do Mercosul, que conta com aliados como Javier Milei, há dúvidas se os EUA vão implementar algo contra o Brasil – não é prioridade, como o próprio Trump propaga”.

O presidente Lula disse que será recíproco caso Trump decida taxar o Brasil. “Se ele ou qualquer país aumentar a taxação do Brasil, nós iremos utilizar a reciprocidade e taxar eles também, ou seja, é simples e democrático.”

Quanto a benefícios, Gilio acredita que o país pode ganhar com alguns “vácuos” da guerra comercial, como o que aconteceu entre China e EUA em 2018, quando o Brasil se tornou o principal fornecedor de soja ao país asiático.

“Atualmente, há espaço limitado para o Brasil crescer na China, até por substituição. Importante lembrar que a China foi cautelosa ao retaliar os EUA, não incluindo produtos agropecuários desta vez. De qualquer forma, eventualmente as compras do país asiático podem ser mais direcionadas ao nosso mercado”.

Para o pesquisador do Insper, uma das dúvidas fica para um acordo exclusivo entre China e EUA, uma possibilidade ventilada em 2019, mas que não ocorreu.

“Se eventualmente os EUA conseguem um acordo do tipo com a China, isso pode representar um risco ao Brasil também, dado que é nosso maior mercado consumidor.” 

O mercado do petróleo

Segundo a StoneX, com base em dados do Departamento de Energia dos EUA, o Canadá responde por 61% das vendas de petróleo dos Estados Unidos, enquanto o México responde por 7,1% das vendas, seguido pela Arábia Saudita (4,3%), Iraque (3%), Colômbia (3,3%) e Brasil (3,3%).

No caso do Canadá, vale destacar que as taxações seriam menores para o petróleo, em 10%, em meio à importância do produto para as refinarias norte-americanas.

Para os analistas Bruno Cordeiro e Isabela Garcia, caso a guerra comercial com os Estados Unidos se aprofunde, é possível também uma desaceleração da demanda por petróleo na China — influenciada pelo menor crescimento econômico.

“Isso, por sua vez, pode refletir sobre o crescimento da demanda global da commodity, contribuindo para aumentar o superávit esperado para 2025”.

O Brasil, que vem ampliando suas vendas de petróleo ao exterior, atingindo recorde em 2024, com um volume próximo à 1,74 mbpd, exporta quase metade do seu óleo bruto para China, enquanto os EUA respondem por 13,6% e os países da UE representam cerca de 24,3% do total.

De acordo com a StoneX, a política tarifária norte-americana e a consequente redução das atividades entre EUA e os países taxados, por consequência, podem gerar uma contrapartida dessas nações através da imposição de tarifas para produtos americanos.

“Apesar de ser um volume pequeno negociado entre os dois países, a medida anunciada abre oportunidade para o maior escoamento da commodity pelo Brasil à nação asiática”, avaliam.

Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo. Em 2024, ficou entre os 80 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.
pasquale.salvo@moneytimes.com.br
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo. Em 2024, ficou entre os 80 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.