Brasil não merece a má reputação que tem, diz presidente do BTG
O Brasil não merece a má reputação que tem, disse um dos principais banqueiros do país.
“Se você lê os jornais, parece que estamos todos morrendo nas ruas ou a caminho para queimar a Amazônia”, disse Roberto Sallouti, presidente do Banco BTG Pactual, em entrevista por vídeo com jornalistas da Bloomberg. “Nós que vivemos aqui sabemos que não é assim.”
A história vai além, na visão dele, do punhado de estatísticas sombrias que o país tem acumulado. O Brasil está enfrentando o segundo surto de Covid-19 mais letal do mundo – com mais de 510.000 mortos – enquanto lida com um número recorde de desempregados e aumento de áreas desmatadas na maior floresta tropical do planeta. No mês passado, os incêndios na Amazônia atingiram o maior nível em 14 anos para o mês de maio, segundo o governo.
Mas o Brasil “vai terminar o ano muito melhor do que qualquer um esperava, e o crescimento está de volta”, disse Sallouti. É “ainda uma economia próspera, dinâmica e de mercado e isso atrai investidores”.
Os mercados têm refletido essa visão otimista. A bolsa local atingiu recordes consecutivos no início de junho e o dólar caiu ao menor nível ante o real desde junho de 2020.
As empresas estão emitindo ações em um ritmo vertiginoso, com um aumento de 70% nas ofertas em comparação com o mesmo período do ano passado, e os investidores estrangeiros estão começando a voltar.
Mesmo as previsões de crescimento estão melhorando, agora mais próximas de 5% para 2021, em comparação com os cerca de 3,5% no início do ano, de acordo com a pesquisa Focus, do Banco Central.
Ainda assim, em um país onde cerca de 12% da população de 210 milhões foi vacinada com duas doses contra o Covid-19, “a aplicação de vacinas poderia ter sido um pouco melhor”, disse Sallouti. “Mas não é um desastre em comparação com o resto do mundo.”
Sallouti, 49, também não está preocupado com as próximas eleições presidenciais no Brasil. Embora ainda falte mais de um ano, as pesquisas mostram que a disputa será entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual Jair Bolsonaro.
“Nossa expectativa é que quem vencer terá políticas econômicas responsáveis”, disse Sallouti. “Uma coisa é a retórica, mas sabemos quais são as políticas econômicas do Bolsonaro e quais são as políticas econômicas de Lula, e elas são responsáveis.”
É uma visão semelhante à expressa por André Esteves, fundador do BTG Pactual e seu maior acionista. Esteves disse em um evento do BTG neste ano que quem quer que ganhe a eleição terá que fazer concessões a uma agenda mais centrista.
Gerenciamento de crise
Sallouti é um veterano dos muitos altos e baixos do Brasil. Ele fez um estágio no BTG em 1992 e, dois anos depois, se juntou ao time de renda fixa do banco. Após 14 anos, se tornou diretor de operações e foi promovido a presidente executivo em 2015, em meio a uma crise de liquidez sem precedentes que quase destruiu o banco.
Cinco anos depois, Sallouti está conduzindo o BTG em uma fase muito melhor. O banco nunca foi tão valioso, com um valor de mercado de quase US$ 24 bilhões. Também está se beneficiando de taxas de juros baixas em termos históricos, que estão levando muitos investidores a buscar ativos de maior risco e trazendo captações recorde para os negócios de gestão de fundos de investimento e de fortunas do BTG. Enquanto isso, uma enxurrada de operações no mercado de capitais engorda a receita com comissões de banco de investimento.
As ações do banco subiram quase 60% desde o fim de 2019, em comparação com os 9,6% de alta no Ibovespa no mesmo período, segundo dados compilados pela Bloomberg. O banco se beneficiou de um movimento de “busca pela qualidade” durante a pandemia, disse Sallouti.
Mas a maior mudança é que o BTG agora também é um banco de varejo. Semelhante ao Goldman Sachs, o BTG lançou seu próprio banco digital com foco em pessoas físicas e pequenas empresas, com produtos que vão dos cartões de crédito a empréstimos pessoais e fundos de investimento que antes estavam disponíveis apenas para os ultra-ricos. Isso levou a uma série de pequenas e médias aquisições, à medida que o banco tenta atrair um número maior de investidores e expandir sua marca.
“Temos o tipo de crescimento que você vê em bancos novos com a lucratividade dos mais tradicionais”, disse Sallouti.