Brasil inicia hoje, sem alarde, o mercado bilionário de créditos de descarbonização
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O RenovaBio (Política Nacional de Biocombustíveis), lançado em 2016 pelo Ministério de Minas e Energia, pode movimentar até R$ 1,2 trilhão em investimentos e na economia em 10 anos, segundo projeções do governo, e inicia nesta terça-feira (24) a sua fase mais inovadora.
Por meio da emissão dos créditos de descarbonização (CBios), o programa visa garantir receita adicional ao produtor de biocombustível pela redução de emissões de gases de efeito estufa proporcionada pelo uso de etanol, biodiesel e biometano.
A expectativa é de que os participantes deste novo mercado emitam em torno de 590 milhões de CBios até 2030, o que representaria um ganho anual para o setor de R$ 2,6 bilhões.
Segundo o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), o RenovaBio deve reduzir em 10,1% as emissões de carbono do setor de combustíveis até 2028.
Emissores: o “IPO” do CBio
Em um comunicado distribuído hoje, a ANP explica que os emissores primários já podem inscrever os certificados por meio da plataforma CBio, que está em “pré-produção”.
O ambiente entrará em “produção” a partir de 8 de janeiro de 2020 e levará em conta as notas fiscais emitidas pelos participantes em 24 de dezembro de 2019.
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Biometano
De acordo a ABiogás (Associação Brasileira de Biogás), dentre os combustíveis do programa, o biometano possui uma das notas energético-ambiental mais altas, com um grande potencial de emissão de créditos de descarbonização, o que vai incentivar o uso do gás em ônibus e veículos pesados.
“Temos visto no mercado empresas investindo neste segmento e lançando motores preparados para o biometano (purificação do biogás)”, destaca Gabriel Kropsch, vice-presidente da ABiogás.
O segmento é representado pela empresa Ecometano, que está com seu processo certificado e aguardando a consulta pública, última etapa antes da autorização final pela ANP.
A previsão da companhia é que possa emitir seus primeiros Cbios já em janeiro. A autorização para emissão dos créditos está baseada na planta GNR Fortaleza, instalada no Aterro Sanitário Municipal Oeste de Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza, Ceará.
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Outra planta da companhia que está em contagem regressiva para emitir CBios é a GNR Dois Arcos, que, segundo informações da Ecometano, foi a primeira usina de tratamento de biogás do país a produzir biometano em escala comercial, a partir de 2014.
O presidente da ABiogás, Alessandro Gardemann, acrescenta que o biometano pode ajudar produtores de etanol e de biodiesel a ficarem com pegadas de carbono melhores.
“Se eles deixam de usar o diesel na produção, seja em logística ou em máquinas e equipamentos da produção, substituindo pelo biometano, a análise de ciclo de vida deles será mais positiva, gerando notas mais altas”.