Economia

Brasil ganha com guerra comercial de Trump, mas inflação pode sentir o impacto, alerta economista-chefe do PicPay

03 fev 2025, 9:48 - atualizado em 03 fev 2025, 11:58
Trump tarifas
As exportações brasileiras tendem a crescer, com o dólar valorizado e as tarifas de Trump para outros países. (REUTERS/Carlos Barria)

Desde antes de ser eleito, Donald Trump já vinha avisando que o seu segundo mandato seria marcado pelo que está sendo chamado de “tarifaço” — que é a taxação de produtos importados para os Estados Unidos. Neste final de semana, começaram a valer tarifas de 25% para o Canadá México; além de 10% para os importados da China. E a União Europeia que se prepare, porque ela será a próxima.

Embora o Brasil também acabe sofrendo com alguma taxa extra nos próximos meses, Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, afirma que o país sai ganhando enquanto Trump estiver distraído com a guerra comercial contra o México e a China.

“O Brasil é um grande fornecedor para o mundo, e os Estados Unidos são nosso segundo maior cliente. No entanto, Trump deve focar primeiramente em suas disputas com a China e o México, deixando o Brasil em segundo plano. Esse período de atritos comerciais pode, na verdade, beneficiar o Brasil, pois continuaremos exportando e aproveitando a valorização do dólar”, disse em entrevista exclusiva para o Money Times.

Segundo a economista, com uma moeda mais desvalorizada, as exportações brasileiras tendem a crescer. “Dificulta um pouco o cenário do México, mas favorece a gente”, completa.

Por outro lado, isso pode gerar uma preocupação adicional com a inflação doméstica. Com os produtores optando por direcionar parte da produção para o mercado externo, pode reduzir a oferta interna e pressionar ainda mais os preços.

Vale lembrar que as apostas para a inflação de 2025 foram elevadas de 5,50% para 5,51% no Boletim Focus desta segunda-feira (3). Trata-se da 16ª alta consecutiva na projeção.

A economista lembra que tivemos aumentos expressivos em itens como café moído e tomate nos últimos meses. “Costumo brincar que o preço do tomate sobe todo dia, pois há uma forte influência do clima. No entanto, não esperávamos um aumento tão concentrado, pois, ao analisarmos as condições climáticas, não havia sinais de que isso aconteceria. O fator determinante, nesse caso, foi o impacto cambial no custo de produção, especialmente nos insumos essenciais, como fertilizantes e adubos. Com a depreciação do câmbio, esses produtos importados ficaram mais caros, pressionando os preços”, disse.

Segundo ela, no caso das exportações, a soja e o milho não devem exercer pressão sobre os preços no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), já que houve uma antecipação da produção e as perspectivas para o plantio são positivas, indicando um cenário favorável para esses produtos. Como resultado, a influência desses grãos no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPCA) deve ser menor neste início de ano.

Por outro lado, o café moído deve continuar pressionando os preços. Outro item que merece atenção é a batata inglesa, que, devido ao aumento dos custos com fertilizantes, pode sofrer um impacto em fevereiro e acelerar ainda mais em março, quando historicamente registra aumentos.

Benedito ainda destaca que, no contexto da disputa tecnológica entre China e Estados Unidos, o Brasil também pode sair beneficiado.

“Como não somos exportadores de tecnologia, mas sim importadores, qualquer redução nos custos desse setor tende a nos favorecer. Infelizmente, a qualidade do nosso PIB seguirá baixa em comparação com economias desenvolvidas e até mesmo com alguns de nossos pares, como o México, que tem conseguido melhorar seu indicador qualitativo. No entanto, do ponto de vista de custos, quanto mais EUA e China competirem para baratear tecnologia, melhor para o Brasil”, afirma.

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
Editora
Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
juliana.americo@moneytimes.com.br
Linkedin
Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
Linkedin
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar