Brasil está perto de “cenário terminal” por culpa de Bolsonaro
O presidente da República, Jair Bolsonaro, escolheu conduzir o Brasil para um caminho em que um “cenário terminal” parece cada vez mais provável, avalia a MCM Consultores em um relatório enviado a clientes nesta sexta-feira (24) e obtido pelo Money Times.
A saída do ministro Sergio Moro do governo, nesta manhã, gerou novas instabilidades no mercado financeiro e alimentou os debates sobre um possível pedido de impeachment.
“Parece inevitável temer que a política econômica acabe saindo dos trilhos, mais cedo ou mais tarde, por culpa do presidente Bolsonaro, cuja forma de governar, especialmente diante do surto e de suas possíveis consequências econômicas e políticas, tem feito crescer as chances de materialização de ‘cenários terminais’, os quais, como ensina o passado, são usualmente marcados por enfraquecimento político e populismo econômico”, diz a consultoria.
Em um pronunciamento realizado hoje, o presidente partiu para o confronto com Moro, que o acusou durante o seu pedido de demissão de exigir o controle da Polícia Federal. “Ele [Moro] fez acusações infundadas e eu lamento. Estou surpreso e decepcionado”, afirmou.
Bolsonaro insinuou que Moro teria usado o cargo da PF como moeda de troca para uma indicação ao STF. O ex-ministro prontamente o rebateu.
“A permanência do Diretor Geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF. Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição do Diretor Geral da PF”, disse Moro em sua conta no Twitter.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de um inquérito criminal para apurar os “fatos narrados e as declarações” apresentadas mais cedo por Moro.
Aras pediu que Moro seja ouvido no inquérito para apresentar provas que comprovem os fatos que narrou.
O Bank of America cortou a sua recomendação de compra para os títulos da dívida externa brasileira em dólar para neutra, mostra um relatório enviado a clientes nesta sexta-feira (24) e obtido pelo Money Times.
O banco calcula que, embora o Brasil tenha âncoras fiscais em vigor, como o limite de gastos, ainda precisa oferecer um corte “desafiador” de 1,6 ponto percentual de aperto fiscal para estabilizar seu índice de dívida.
“No entanto, uma polarização política mais alta aumenta os riscos de atraso nas reformas e que uma derrapagem fiscal ocorra”, apontam.
“O governo, em uma completa dificuldade de encontrar uma resposta à crise de saúde e econômica, agora enfrenta uma terceira crise, absolutamente constrangido, e sob um risco enorme de sofrer um processo de impeachment”, avalia Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus.
Para o UBS, se quiser sobreviver à tempestade política criada pela demissão de Sergio Moro, o presidente deve dar sinais claros de apoio ao único trunfo que lhe resta: o ministro da Economia, Paulo Guedes. A avaliação é do UBS, em relatório obtido pelo Money Times.
“Para os resultados do mercado, acreditamos que os pontos chaves, no curto prazo, são os sinais de contínuo apoio de Bolsonaro a Paulo Guedes e a relação do governo com o Congresso”, afirmam Tony Volpon e Fabio Ramos, que assinam a análise.
A saída de Guedes “seria o fim da ‘boa história’ para o Brasil”, disse Delphine Arrighi, gestor de fundos da Merian Global Investors em Londres, em uma entrevista para a Bloomberg.
Pedidos já feitos
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado, afirmou que pedirá o impeachment do presidente Jair Bolsonaro ainda hoje, diante das “graves denúncias feitas pelo agora ex-ministro da Justiça”. A declaração foi feita em sua conta no Twitter.
Entraremos ainda hoje com pedido de impeachment do Presidente da República, a partir das graves denúncias feitas pelo agora ex-ministro da justiça.
— Randolfe Rodrigues (@randolfeap) April 24, 2020
Na quinta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello decidiu pedir à Câmara dos Deputados informações a respeito do andamento de um pedido de abertura de processo de impeachment por crime de responsabilidade contra o presidente Jair Bolsonaro apresentado por dois advogados, segundo decisão do magistrado divulgada nesta quinta-feira.
Os autores da ação questionaram o fato de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ainda não ter se manifestado sobre o pedido, mesmo depois de mais de 15 dias de ele ter sido apresentado.
Processo de impeachment
Caso algum pedido de abertura seja aceito por Rodrigo Maia, o presidente Bolsonaro será notificado e deve deixar o cargo, permanecendo afastado por até 180 dias.
Quem assume é o vice, Hamilton Mourão.
ele será analisado por uma comissão especial de 66 deputados titulares e igual número de suplentes, com presidente e relator eleitos.
Para ser aprovado na Câmara, o processo do impeachment deve ter o apoio de dois terços dos parlamentares, ou seja, 342 deputados.
O pedido vai ao Senado, que também cria uma comissão para julgar o mérito.
É marcada uma sessão do Congresso Nacional, comandada pelo presidente do STF, para uma votação final e afastamento definitivo.