Economia

Brasil está blindado do caos aéreo na Europa; entenda como está o setor de aviação

27 jun 2022, 16:43 - atualizado em 27 jun 2022, 16:48
Aeroporto de Denver nos Estados Unidos
Europa sente falta de funcionários no setor de aviação. (Imagem: REUTERS/Kevin Mohatt)

O tempo fechou nos aeroportos europeus: a alta demanda entrou em choque com a falta de funcionários das companhias aéreas e criaram um verdadeiro caos em pleno verão – um dos períodos mais movimentados no continente.

O resultado disso são voos cancelados ou atrasados, bagagens extraviadas, falta de funcionário no raio-x e passageiros sem orientação de quando eles vão viajar.

Tudo começou quando funcionários da British Airways e da Ryanair anunciaram, na sexta-feira (24), uma greve de três dias exigindo melhores condições de trabalho. Isso inflamou os ânimos das demais tripulações: os funcionários das companhias que trabalham na Espanha, França, Bélgica, Portugal e Itália, além da Brussels Airlines, subsidiária da Lufthansa, também aderiram ao movimento.

Novas paralisações já estão marcadas para os próximos dias em diferentes países europeus.

Além disso, a demanda no setor de turismo estava represada por causa das medidas restritivas para controlar o avanço do coronavírus. Por outro lado, as companhias aéreas precisaram demitir os colaboradores durante o período de redução nos voos – o setor perdeu mais de 2 milhões de empregos durante a pandemia.

Ou seja, a busca por passagens aéreas foi mais rápida do que a recomposição do quadro de funcionários.

A Lufthansa, por exemplo, anunciou o cancelamento de mais de 3 mil voos por causa da falta de tripulação – os poucos que estavam trabalhando estão de licença após uma onda de contaminações pela Covid. Já a British Airways reduzirá 10% dos voos até outubro.

O diretor de segurança e operações de voo da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR), Ruy Amparo, destaca que quando as companhias aéreas começaram a demitir na Europa, houve uma fuga dos profissionais do setor de aviação para outros setores.

“Os comissários de bordo, por exemplo, ganharam espaço na hotelaria, porque falam mais de um idioma e têm experiência com atendimento. As equipes de manutenção também foram atuar com trem, metrô e ônibus. Então, as companhias aéreas precisam recuperar essas pessoas”, afirma. Ele ainda lembra que a retomada de um piloto, pode levar de 4 a 6 meses.

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E o Brasil com isso?

Só no Aeroporto de Guarulhos, por semana, acontecem pelo menos cem voos ligando Europa e Brasil. Então, os viajantes podem perceber um atraso nos voos e dificuldades lá nos aeroportos europeus. No entanto, essa crise não deve atingir o Brasil.

De acordo com o presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Henrique Hacklaender, a sobrecarga na demanda e falta de tripulação não é um problema para o nosso mercado.

“A gente tem uma margem de tripulantes no mercado prontos para assumir qualquer demanda crescente, por causa do fechamento da Avianca e da Itapemirim. E as empresas brasileiras ainda não atingiram o mesmo nível de demanda que tinham antes da pandemia.”

De acordo com os dados compartilhados por Ruy, em julho, as decolagens de voos domésticos devem atingir 90% do patamar do mesmo período em 2019. Já nos voos internacionais, a demanda ainda está baixa: o patamar ainda está em 59%, porque as restrições sanitárias diferentes para cada país atrasaram a retomada das operações.

Além disso, por aqui, o setor é mais aquecido no final do ano, durante o período de festas e as férias de verão. “As vendas para esse período começam entre agosto e setembro, então as empresas têm tempo de se preparar”, diz Ruy.

Agora, no quesito condições de trabalho, a história é outra: em média, 60% do salário dos tripulantes é variável – depende da ponte aérea, distância, horário, entre outros fatores. Durante a pandemia, a redução dos voos obrigou o grupo a viver com só com o salário fixo. E para não demitir, as companhias aéreas chegaram a fazer acordos de redução de até 70% desse valor.

Esse foi o motivo que levou a categoria a votar a favor de uma greve em novembro do ano passado. Na época, o grupo aceitou um acordo de reajuste de 75% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) dos últimos 12 meses na parte fixa e variável do salário. Além de 100% do INPC dos últimos 12 meses nas diárias de alimentação nacionais e vale-alimentação.

Apesar do acordo, Henrique ressalta que a insatisfação continua, uma vez que os salários continuam baixos. “A categoria teve uma redução salarial brusca durante uns 18 meses e já existe uma mobilização para novas negociações.”

O Money Times entrou em contato com as companhias aéreas brasileiras que possuem voos para a Europa. Tanto a Latam quanto a Azul informaram que, até o momento, não tiveram impacto nas operações. A Gol, por sua vez, não atende o continente europeu.

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