Brasil em xeque-mate: a realidade nua pelo economista-chefe do Fator
As expectativas econômicas, fator-chave para propagação de otimismo capaz de promover empregos e negócios, apresenta-se com certa nebulosidade, diante da falta de ações concretas e efetivas para melhora do cenário-base.
A partir de uma pergunta simples, “como elevar a taxa de investimento no Brasil?”, o economista-chefe do banco Fator José Francisco de Lima Gonçalves discursou por quinze minutos, interligando conceitos econômicos e elucidando claramente o quão grande é o desafio para trazer o país de volta aos trilhos.
Em entrevista exclusiva ao Money Times, José Francisco de Lima Gonçalves apresenta a realidade nua e crua da economia brasileira.
Confira abaixo os pontos principais da entrevista:
Investimento
A questão da baixa taxa de investimento no Brasil tem dois fatores principais, privado e público. Do lado das empresas, é necessário ter expectativa de maior demanda futura para promoção do investimento. Deve-se ter expectativa de maiores vendas para conseguir elevar a capacidade produtiva, baixa no momento. Pela alta taxa de desemprego, dentro do fluxo clássico da renda, difícil projetar melhoria da demanda. Temos que pensar primeiro no Natal para depois poder visualizar a frente.
Por sua vez, outro ponto reside no investimento público, via concessões de infraestrutura. É mais simples para os investidores alocar recursos em projetos já concretos, ou seja, promover investimento em rodovias, por exemplo, já construídas: cobra-se pedágio e pronto.
No entanto, em projetos novos, fica mais difícil convencer os investidores a terem taxa de retorno atrativa e alocarem recursos em concessões, capazes de promover emprego de verdade. Por exemplo, no setor de energia, uma empresa deve investir no momento presente para conseguir auferir retornos da demanda de uma determinada região daqui 10 anos.
Reformas
O que existe de concreto na reforma da Previdência é: todos terão que trabalhar mais, por mais tempo, para obterem o benefício. A contraparte de melhora nas expectativas não é garantida, por mais que possa ocorrer.
Existem outras reformas também em jogo, como a tributária, por exemplo. Porém, lembrando a desoneração da folha de pagamento ocorrida no governo Dilma, as empresas simplesmente ignoraram o esforço do governo e tomaram para si a desoneração: não ocorreu maior número de contratações por isso como esperado pelo governo.
As coisas não ocorrem da noite para o dia: foi aprovada a reforma da Previdência e os setores produtivos começam a contratar, investir.
Riscos externos
O maior risco externo é o presidente Donald Trump com suas tarifas: nesta semana ele resolveu brigar com o México. Se por um lado não há pressão externa pro Brasil, por outro, a economia global em desaceleração deverá afetar a demanda externa. Neste sentido, é preciso se atentar a demanda interna.
Projeções
A Selic deve encerrar o ano em 5,5% ao ano. A taxa de câmbio deverá ser de R$ 3,95. Para o PIB, espera-se crescimento de 0,7% – sob revisão, para baixo.