Internacional

Brasil depende da Argentina? ‘Tentar ajudar mais do que já está sendo feito é loucura’, diz economista

30 ago 2023, 16:23 - atualizado em 30 ago 2023, 16:23
exportações brasil argentina
Os ministros responsáveis pela área econômica de ambos os países se encontraram nesta (28) segunda-feira para firmarem um acordo. (Foto: Governo Federal)

O governo argentino anunciou no último domingo (27) o Novo Programa de Fortalecimento da Atividade Econômica e da Renda para as famílias argentinas. As medidas apresentadas tem como principal objetivo auxiliar a Argentina a conter a desvalorização da moeda local e conter a inflação.

Em sua rede social, Sérgio Massa, Ministro da Economia na Argentina e atual candidato à presidência,  explicou cada ponto do programa.

As medidas anunciadas por Massa englobam o pagamento de bônus a trabalhadores e aposentados, abonos fiscais e a criação de um fundo de US$ 770 milhões para financiar as exportações. O valor será realizado via aportes financeiros do Banco Nación e do Banco de Inversión y Comercio Exterior (Bice).

Além disso, ainda serão eliminados impostos sobre a exportação de produtos agrícolas que tenham valor industrial agregado.

“A Argentina tem um empréstimo junto ao Fundo Monetário Internacional desde 2018, que forçou uma desvalorização da nossa moeda nos últimos dias, e a pior seca da nossa história, que prejudicou nossas reservas e contas, mas que também atingiu a economia de muitas famílias”, explicou Massa em suas redes sociais.

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Qual o impacto no Brasil?

A Argentina é o terceiro país que mais exporta produtos brasileiros, segundo dados da balança comercial de julho de 2023. Portanto, a profunda crise enfrentada pelos vizinhos, que pode se agravar nos próximos anos, afeta direta e indiretamente o País em diversos pontos.

O analista e cientista político argentino Leandro Gabiati destacou que as medidas implementadas pelos “hermanos” podem impactar o Brasil, principalmente, no que tange às exportações e importações. Com os incentivos fiscais adotados e a desvalorização da moeda, o produto argentino tende a ficar mais barato e se torna mais competitivo para terceiros. A mesma coisa acontece quando estes produtos são importados pelo Brasil por estarem mais competitivos dos que os nacionais. Um ótimo exemplo é o vinho.

De acordo com Gabiati, a economia argentina e brasileira dependem muito uma da outra e, por isso, tendem a se apoiar. “Quando Brasil vai bem é bom para a Argentina e vice-versa”, disse.

Neste cenário, o Brasil busca alternativas para auxiliar a Argentina e consequentemente não levar calote e perder um dos seus principais parceiros econômicos.

Os ministros responsáveis pela área econômica de ambos os países se encontraram nesta (28) segunda-feira para firmarem um acordo de R$ 600 milhões para financiar as exportações do país vizinho.

O acordo surge de uma cooperação entre Banco do Brasil (BBAS3), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF).

Na contramão

Na visão de Claudio de Moraes, professor de macroeconomia e finanças do Coppead UFRJ, as medidas adotadas pelo Brasil ultimamente não vão além do discurso político, já que a Argentina se encontra em um momento de “completo caos” economicamente.

“É claro que, politicamente, não podemos dar às costas para um vizinho de fronteira, mas tentar ajudar mais do que já está sendo feito é loucura”, analisou.

“Até vi o Haddad dando suporte para que o FMI ajude mais intensamente a Argentina e está certo, essa é a função deles, não deixar os países quebrarem. Agora o Brasil vai precisar deixar a Argentina um pouco de lado”, completou.

As eleições na Argentina

Os analistas do mercado vêm a prévia da eleição Argentina com pessimismo. O Candidato Javier Milei que está à frente até então, já apresentou inúmeros discursos conflituosos e que poderiam deixar a Argentina em uma situação muito pior do que se encontra hoje.

Para o cientista político e professor de sociologia da ESPM, Paulo Niccoli Ramirez, a ascensão de partidos políticos e personalidades ligadas à ultradireita vem se tornando temática recorrente no cenário político internacional nos últimos anos.

“O candidato Javier Milei é um desses e vem seguindo os passos do ex-presidente Jair Bolsonaro. Eles têm em comum o discurso de sistema e uma crítica ferrenha ao funcionamento do Estado. Também compartilham a crítica a direita tradicional e a esquerda, que não foram capazes de resolver os problemas sociais dos respectivos países, bem como desqualificam o sistema judiciário”, coloca.

O 1º turno está marcado para 22 de outubro e o 2º turno, se necessário, será realizado em 19 de novembro.

Nas prévias, Milei aparece com 38,5% das intenções de votos válidos, enquanto Massa vem na sequência, com 32,3%. A margem de erro é de 1,4 ponto percentual para mais ou para menos.