Brasil corteja investidores para reverter imagem ruim na Amazônia
Diante da pressão internacional sobre a política ambiental brasileira, o governo decidiu pedir a investidores estrangeiros ajuda para preservar a Amazônia e outras áreas ameaçadas.
A abordagem marca um afastamento substancial do estilo combativo adotado no ano passado pelo presidente Jair Bolsonaro, que não apenas recusou ajuda de organizações internacionais para combater os incêndios na Amazônia, mas também culpou algumas delas por incendiar a floresta, sem apresentar evidências.
O país muda de estratégia à medida que o governo depende cada vez mais de financiamento privado para seus projetos de infraestrutura, muitos dos quais requerem licenciamento ambiental.
Os que envolvem a Amazônia, por exemplo, terão um selo ambiental desde a partida para serem financiados com a venda de títulos verdes, disse o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.
O ministro, que tem lutado para encontrar recursos para realizar as obras de infraestrutura que o Brasil precisará no período pós-pandemia, disse em entrevista que o programa de concessões do governo, de R$ 250 bilhões em dois anos, está avançando, apesar das críticas generalizadas dos investidores ao crescente desmatamento na Amazônia.
Em junho, investidores institucionais que administram cerca de US$ 3,7 trilhões em ativos pediram ao Brasil que abandonasse uma proposta que, em sua visão, aumentaria o desmatamento e violaria os direitos de grupos indígenas na Amazônia.
Em julho, um grupo de 61 empresas, incluindo a fabricante de celulose Suzano (SUZB3) a frigorífica Marfrig (MRFG3) e a gigante do agronegócio Cargill enviaram uma carta às autoridades afirmando que as percepções negativas são potencialmente prejudiciais à reputação e às perspectivas de negócios.
Essa pressão também foi observada pela equipe de Freitas. “A preocupação ambiental apareceu em roadshows, mas já estávamos preparados”, disse o ministro. “Está claro que o fluxo de investimentos privados estará cada vez mais vinculado aos padrões ambientais.”
Uma das primeiras obras a ter o selo verde na partida será a Ferrogrão, ferrovia de 933 km que promete ser o principal centro de escoamento de grãos entre Mato Grosso e Pará.
O governo já está trabalhando com a Climate Bond Initiative para obter credenciais que permitirão às empresas privadas financiar seus investimentos por meio da venda de green bonds.
Para a Ferrogrão, esses títulos verdes podem vir de uma potencial redução no número de caminhões que transportam grãos na região, diminuindo as emissões de carbono.
Membros do governo continuam a usar um tom combativo em relação às políticas ambientais do Brasil – na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, repreendeu as críticas ao histórico do governo na Amazônia, dizendo que os países desenvolvidos já destruíram suas florestas e dizimaram suas populações indígenas. Mas esse tipo de linguagem não é uma preocupação para Freitas.
“Os investidores são muito pragmáticos. Eles não se importam com o que uma pessoa disse hoje. Eles pensam em concessões que vão durar pelos próximos 70 anos”, disse.
Apesar do tom de Guedes, o governo vem tentando melhorar a imagem do país no exterior. Bolsonaro, por exemplo, pode estender um decreto que mantém tropas militares na Amazônia até o final de 2022 para monitorar o desmatamento de forma mais eficaz, disse o vice-presidente, Hamilton Mourão, em evento na segunda-feira.
Há investidores interessados em explorar a Amazônia de forma sustentável e é necessário definir um marco regulatório para isso, acrescentou Mourão.