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Bradesco (BBDC4): Por que ação chegou a derrapar 4%, apesar de lucro 86% maior

07 fev 2025, 12:23 - atualizado em 07 fev 2025, 14:57
Bradesco
O banco não conseguiu superar a rentabilidade dos seus rivais, com um ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) de  12,7% (Imagem: Kaype Abreu/Money Times)

A ação do Bradesco (BBDC4) não reagiu bem aos resultados do quarto trimestre de 2024. Por mais que o banco tenha entregado lucro de R$ 5,4 bilhões, alta de 86% e dentro da expectativa da média do mercado, a ação chegou a cair mais de 4%. Por volta das 12h21, ação exibia queda de 2,88%.

Apesar disso, a analista Larissa Quaresma, da Empiricus, afirma que o resultado ficou abaixo da expectativa, especialmente retirando o ajuste positivo de R$ 468 milhões vindos de “não-recorrentes”, relacionados majoritariamente ao fechamento de agências, segundo o comunicado.

“Além disso, R$ 3,7 bilhões de marcação a mercado dos títulos que passaram por fora do resultado, reduzindo o patrimonio liquido. ROE com pequena expansão marginal, mas ainda bem abaixo do custo de capital”, diz.

Segundo o CEO, a recuperação do retorno sobre capital poderá crescer em velocidade menor. No final de 2023, a narrativa era de que o ROE igualaria o custo de capital em algum trimestre de 2026 —um objetivo que, diante das novas condições, parece cada vez mais desafiador.

O banco não conseguiu superar a rentabilidade dos seus rivais, com um ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) de  12,7%, alta de 5,8 pontos percentuais no ano, enquanto o Santander (SANB11) encerrou o período com ROE de 17,6% e Itaú (ITUB4) 22%. No trimestre, a melhora foi de 0,3 ponto percentual.

“Agora, com essa nova taxa de juros e os componentes necessários para compor a taxa americana, o custo de capital para todos será superior a 15%. Portanto, é claro que, se o crescimento desacelera, o nível de retorno esperado também é impactado”, afirma.

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Guidance agradou?

Junto com o resultado, o Bradesco divulgou o seu guidance (projeção) com a expectativa de crescer de 4% a 8% a carteira de crédito expandida e margem financeira de R$ 37 a R$ 41 bilhões.

Na avaliação do Itaú BBA, a perspectiva para o novo ano foi divulgada com menos pontos de dados, terminando com uma perspectiva bastante otimista para R$ 21 a R$ 23 bilhões em lucro líquido (ante a previsão de R$ 21,5 bilhões).

“Acreditamos que ele assume um custo de risco estável com o NII do cliente crescendo acima do livro de empréstimos, uma combinação na qual divergimos”.

Na visão dos analistas, os mercados precisarão de tempo antes de “comprar” essa expansão implícita de lucro de 10-15%, especialmente devido aos riscos de execução e à perspectiva macro incerta.

Custos tiraram o brilho

Já o BB Investimentos diz que o Bradesco teve resultados mistos, com um lucro favorecido por uma surpreendente margem com mercado, e por fortes receitas de serviços e seguridade. A linha disparou 144% em relação ao terceiro trimestre.

“A volatilidade, explicada neste trimestre por um melhor resultado com arbitragem adiciona um tempero de imprevisibilidade que não nos soa bem-vindo”, diz.

O BB destaca ainda as despesas, que segundo os analistas, continuaram ofuscando os avanços operacionais.

Houve crescimento de 9,1% no trimestre e 9,9% no agregado, neste trimestre bastante prejudicadas pelo item outras despesas, explicado majoritariamente pela movimentação de contingências cíveis, trabalhistas e fiscais.

Bradesco: Cautela continua

Na visão da Levante, os números ficaram pouco abaixo das expectativas. A carteira de crédito do banco, no entanto, cresceu 11,9% no ano, refletindo o forte desempenho do segmento no ano de 2024.

“Com essa expansão, a qualidade da carteira nos pareceu ter ganho qualidade quando analisada diante da exposição por rating (AA-H). Os níveis de NPL 90 e índice de cobertura atingiram, respectivamente, 4% e 168,6%, apresentando certo nível de estabilidade, em nossa visão”.

Outro destaque ficou com a seguradora, que atingiu no trimestre um ROE de 25,1% e um lucro líquido de R$ 2,5 bilhões, equivalendo a 47% do resultado líquido do grupo, composto pela operação bancária e seguradora.

“O resultado refletiu uma melhor dinâmica de sinistralidade e uma nível mais elevado de resultado financeiro da operação, beneficiada pela abertura da curva de juros. No ano, a seguradora atingiu R$ 9,1 de lucro líquido”.

Mesmo assim, a casa continua cautelosa diante da dinâmica para 2025 diante do cenário mais desafiador para o crédito.

Comprar ou vender?

De maneira geral, os resultados não foram suficientes para fazer os analistas mudarem suas avaliações, que permanecem neutras na maioria das casas. Parte do mercado ainda enxerga risco, com longo trabalho a ser feito para recuperar as suas margens.

“Transformar o banco seria uma tarefa enorme, mesmo com uma economia em aceleração e taxas de juros em queda. Fazer isso com a deterioração das condições macroeconômicas é um desafio ainda maior, o que deve significar um processo longo e lento de recuperação”, diz o BTG.

Segundo os analistas, o Bradesco tem pouco espaço para erros, dado o seu momento de lucro ainda pressionado, o ambiente competitivo/regulatório desafiador (PIX automático, empréstimo consignado privado, Open Finance, etc.) e sua situação de capital mais apertada.

“Embora a ação possa parecer barata a 0,8x o último VP, continuamos cautelosos com a tese de investimento e continuamos com uma recomendação Neutra para as ações por enquanto”.

A XP até reconhecemos o progresso ao longo do ano; o Bradesco melhorou suas taxas de inadimplência e iniciou uma trajetória positiva de recuperação da rentabilidade após um ciclo de crédito desafiador.

“Em 2025, o banco entra na segunda fase de seu plano, focado na recuperação do crescimento do NII. No entanto, o cenário macroeconômico desafiador apresenta dificuldades para a recuperação dos spreads, e acreditamos que será difícil para crescer acima de seu custo de capital em 2025”, diz.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.