Bradesco (BBDC4): O que o mercado não gostou no balanço do 3T24; hora de desistir da ação?
O Bradesco (BBDC4) parecia que teria dia mais tranquilo nesta quinta-feira (31) de resultados. O lucro subiu 13% e ficou pouco acima da expectativa da Bloomberg, que aguardava R$ 5 bi.
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As provisões para calotes caíram, enquanto a inadimplência se manteve controlada. A carteira de crédito também avançou, para R$ 943 bilhões. As despesas operacionais até tiveram alta de 4%, mas, por outro lado, o ROE (retorno sobre o patrimônio) cresceu.
Porém, o que se viu foi uma ação que amanheceu com queda de mais de 4%. No meio do dia, até houve uma melhora, mas por volta das 13h12, a ação tinha recuo de 3,33%. O que, afinal, o mercado não gostou?
O problema, segundo analistas, não é nem o Bradesco, mas o cenário. Não custa lembrar que o banco ainda está em um processo de recuperação, que começou nos trimestres anteriores e rendeu bons frutos. A ação disparou 24% desde a mínima do ano.
Enquanto isso, o cenário macroeconômico caminha para uma piora, com alta dos juros, em uma Selic que pode ultrapassar 12%, segundo alguns analistas. O próprio Bradesco vê juros em 12,25% no pico do ciclo.
Ou seja, a melhora dos indicadores do BBDC pode demorar mais que o esperado para ocorrer. “Como frequentemente observamos em nossos relatórios, mudar o curso de um navio transatlântico é uma tarefa difícil que esperamos ver evoluir em pequenos passos”, escreveu o BTG em relatório.
A XP também jogou banho de água fria ao dizer que o NII (margem financeira) de clientes teve uma recuperação mais modesta, crescendo apenas 2% no trimestre (e caindo 1% no ano), indicando uma reprecificação ainda lenta em linhas com spreads mais altos.
“Os indicadores de qualidade de crédito continuam melhorando, com os NPLs acima de 90 dias diminuindo em 10 bps. Embora confirmando a tendência de recuperação, a curva de crescimento esperada parece um pouco mais lenta, e o ambiente macro pode atrasar essa recuperação no crescimento do crédito”, completa.
Ao Money Times, Pedro Dietrich, analista da Ativa Investimentos, disse que o mercado deu bastante ênfase à margem financeira com clientes.
“De fato, é o core-business do banco, e acredito que as expectativas estavam muito altas com a recuperação vista no trimestre passado. O que causou preocupação foi o fato de a margem financeira ter crescido pouco, mesmo com uma evolução consistente da carteira de crédito, o que indica que o spread não foi tão bom quanto no segundo trimestre”, coloca.
Para ele, o ponto principal é: o investidor que imaginava uma expansão mais forte ficou frustrado, e com o cenário macroeconômico piorando para o crédito, é difícil visualizar uma expansão nesta linha. Outro motivo foi que a inadimplência caiu pouco, o que pode indicar que o movimento já está no fim do processo.
“No entanto, discordo um pouco dessa visão. Já esperava uma desaceleração na expansão da margem financeira líquida, e outros segmentos indo bem foram o que me surpreendeu, como a receita de serviços. O resultado pode ter frustrado os investidores que esperavam uma evolução mais rápida do ROE, mas, para mim, o balanço é consistente e transmite confiança de que o banco chegará a um ROE ao custo de capital e em um ritmo adequado”, afirmou.
Larissa Quaresma, da Empiricus, acredita que a performance ruim tem a ver com a evolução lenta do ROE (12,4% no trimestre), que ainda está longe do custo de capital (15%), enquanto a ação estava precificada a 1,0x o valor patrimonial (compatível com um ROE = custo de capital).
“Além disso, a gestão do banco afirmou que o resultado de tesouraria, que está em recuperação, não deve ser tão bom nos próximos trimestres, em função da alta da Selic”.
Na visão do Safra, o resultado deveria ter sido neutro para o papel. O banco diz os números evidenciam um cenário mais equilibrado, com uma abordagem para aumentar a lucratividade em vez de mudar seu apetite ao risco.
“Com uma “mão gentil”, o banco priorizou exposições colateralizadas e clientes de alta renda em empréstimos não garantidos. Em nossa opinião, isso reflete um compromisso em entregar resultados mais consistentes, especialmente em meio a um ambiente macroeconômico incerto e novas pressões regulatórias em 2025”, disse.
Bradesco está preparado, diz CEO
Em teleconferência de resultados, o banco diz que está mais preparado do que em períodos anteriores, quando teve explosão na inadimplência e piora na rentabilidade. Marcelo Noronha, inclusive, completou um ano no cargo. Ele assumiu o banco, justamente, para colocar a “casa em ordem”.
“Hoje, o nível de desemprego está em 6,7% e, no crédito, estamos focados em linhas seguras e consignado. Estamos evitando expandir crédito para clientes mais estressados. Para o próximo ano, espera-se que o desemprego chegue a 8%”, afirmou.
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Ainda sobre crédito, o CEO disse que o banco está com o risco bastante controlado e que espera que a inadimplência continue recuando, embora em ritmo menor.
“A carteira de crédito cresce com equilíbrio em todos os segmentos… e com índice na inadimplência que melhora em todos os segmentos de clientes”, afirmou em teleconferência com jornalistas após o banco divulgar balanço trimestral mais cedo.
O que fazer com Bradesco?
Para o BTG, as provisões pós-NII (margem financeira) foram melhores do que o esperado. Porém, o banco põe na balança perspectiva desafiadora para o crescimento, dada a Selic mais alta e o estreitamento dos spreads de empréstimos.
Isso, segundo os analistas, pode decepcionar aqueles que esperavam para uma recuperação mais rápida do ROE, especialmente agora que as ações retornaram a 1x o preço/valor patrimonial da ação após disparar 24% desde a mínima do ano. O BTG reiterou a recomendação neutra.
Já o Safra diz que comparado às previsões anteriores, o resultado final veio amplamente em linha, mas com uma construção mais conservadora. “Não acreditamos que o terceiro trimestre deva levar a revisões de lucros, e mantemos nossa classificação de desempenho superior (compra) inalterada”.
O Itaú BBA também reafirmou o seu otimismo com o papel, com recomendação de compra.
“No geral, os resultados evidenciam que o Bradesco está gerando tração nos negócios e restaurando sua capacidade de lucro. As fortes métricas de qualidade de crédito provavelmente lhe dão confiança para continuar acelerando os empréstimos até 2025. Apesar da pequena falha no resultado final, gostamos das tendências operacionais”.
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Segundo a Ativa, embora a inadimplência e os spreads praticados tenham ficado levemente abaixo das projeções, a provisão para devedores duvidosos (PDD) expandida se mostrou benigna, impulsionada pela recuperação de crédito, o que contribuiu para uma margem financeira líquida “que superou nossas expectativas”.
“Além disso, a melhora nas receitas de seguros, e especialmente nas receitas de serviços, são bons indicadores para o banco, refletindo em um resultado operacional que ficou 9% acima de nossas projeções.
Assim, diz a casa, esses resultados sustentam a perspectiva de uma melhora na rentabilidade do banco em um ritmo superior ao que está precificado em suas ações, com o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) trimestral podendo atingir o custo de capital do Bradesco já no final de 2025.