Bradesco (BBDC4): Não se engane com os ganhos de 12% em maio; analistas preferem ficar de fora da ação
As ações do Bradesco (BBDC4) foram destaque de alta entre os bancões no último mês. Em maio, o segundo maior banco privado do Brasil mostrou recuperação de 12% na Bolsa, seguido de Santander Brasil (SANB11), Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú (ITUB4).
Com o saldo positivo de maio, os papéis do Bradesco passaram a negociar acima de 1 vez P/VP (preço sobre valor patrimonial e com prêmio P/L (preço sobre lucro para os principais pares, destaca o Itaú BBA, em relatório de atualização de estimativas para a empresa.
Os analistas Pedro Leduc, Mateus Raffaelli e William Barranjard entendem os motivos por trás da recuperação das ações, mas não acham que os investidores devem seguir com o movimento, apoiados na perspectiva de uma retomada lenta nos resultados e desafios estruturais pela frente.
Na avaliação do time de análise, o ritmo de recuperação dos negócios do Bradesco deve perder para os pares em 2023-24.
“O banco provavelmente terá que navegar por mais tempo seus períodos ruins de crédito do que os seus competidores, que já estão mais avançados em domar os NPLs (empréstimos inadimplentes)”, afirma o BBA.
A instituição também enxerga o Bradesco com menos espaço em termos de provisões e capital para arriscar uma aceleração muito cedo.
“Uma taxa Selic mais baixa pode ajudar seu NII (margem financeira) de mercado, mas não na extensão como costumava ajudar”, dizem os analistas.
Curto prazo pressionado…
O BBA assume que o Bradesco verá métricas melhores de qualidade de crédito, então conseguirá acelerar a originação apenas no último trimestre deste ano. O portfólio deve crescer 5% em 2023 e 8% em 2024, enquanto os benefícios para NII virão somente no segundo semestre de 2024, dada a duração de cerca de 18 meses do portfólio, avalia.
O BBA acredita que o NII deve se expandir apenas 5% em 2023, para acelerar a 10% em 2024. Já as despesas com provisões devem permanecer elevadas ao longo de 2023 e não cair muito no próximo ano.
“É improvável que o NII de mercado retorne ao nível histórico de R$ 8-10 bilhões/ano, dada a nova política introduzida para administração de risco”, complementam Leduc, Raffaelli e Barranjard.
e médio prazo igualmente desafiador
A recuperação no médio prazo também tem seus desafios. Analistas afirmam que deve ser bem difícil recuperar ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) a níveis pré-pandemia (18-20%), enquanto os spreads de crédito estão sendo pressionados pela indústria, que está se movendo para uma abordagem de lucro voltada a “por cliente”, e não mais “por produto”. Com isso, os bancos estão aceitando yields menores em cada um dos produtos.
O BBA espera ver uma queda ano a ano de 10% nos resultados do Bradesco neste ano, a R$ 18,6 bilhões, recuperando para R$ 23,4 bilhões em 2024 (12% abaixo do consenso).
A recomendação para o nome é de “underperform” (desempenho esperado abaixo da média do mercado, equivalente a “venda”), com preço-alvo ao fim de 2023 de R$ 15.