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BP Bunge inova com barter e cana a termo, mas cultura do produtor pode atrapalhar

27 maio 2021, 10:38 - atualizado em 28 maio 2021, 10:52
Colheita de cana-de-açúcar
Relações de negócios entre fornecedores de cana e usinas ganham novo capítulo com oferta de BP Bunge (Imagem: REUTERS/Marcelo Teixeira)

O programa de parceria que a BP Bunge Bioenergia lançou para os canavieiros fornecedores de suas 11 unidades no Brasil está sendo visto como um avanço importante na gestão de negócios entre as partes do setor, sempre conflituosa.

Enquanto os detalhes não são conhecidos – e Money Times fez essa solicitação ao grupo formado pelas gigantes Bunge e BP, ainda sem reposta -, há uma expectativa positiva sobre dois dos principais termos gerais da proposta.

Um é a possibilidade de fixar o preço do ATR (total de açúcares recuperáveis), ao contrário do que a maioria faz hoje que é fixar em kg de ATR, a partir da referência de preços do Consecana (colegiado setorial que determina os valores mensais).

Como se faz com o boi, é a “venda a termo da cana”, explica importante fornecedor da região central de São Paulo, com assento em importantes entidades. Ele prefere sigilo do seu nome porque acredita que esse modelo poderá não dar certo pela pouca cultura de risco dos produtores tradicionais.

“Se ele fixar o preço, mas lá na frente ver que seus colegas estão ganhando mais por outros modelos de negócios, vai ter muita choradeira”, diz.

A Raízen teria modelo semelhante, continua o produtor, e não agrada a todos. A diferença é que o grupo formado por Cosan (CSAN3) e Shell é um potentado sem concorrência em muitas regiões. E agora ainda vai ficar maior ainda ao incorporar a Biosev.

Mas para o consultor Alexandre Figliolino, sócio-diretor da MB Agro, poderá funcionar porque é uma “alternativa no sentido de tornar a atividade mais previsível e vem numa boa hora, na medida em que os preços atuais de mercado do kg do ATR oferecem boa remuneração”.

Para mitigar o risco de o preço fixado agora for menor do que quando o produtor estiver entregando sua cana, a estruturação da operação com a compra antecipada de insumos “fica mais atrativa”, completa o ex-diretor de agro do Itaú BBA.

E isso a plataforma da BP Bunge vai oferecer também.

É o mesmo processo do barter, a operação comum no setor de grãos Nas commodities o produtor paga pelo valor de venda atrelado aos preços internacionais. Ou, no caso de barter com as tradings, entrega os grãos como pagamento.

No negócio oferecido desde este mês pela grupo de bioenergia também está contemplado o repasse de diesel para os fornecedores.

A Bunge e BP informa a capacidade de 32 milhões de toneladas de cana e administra 450 mil hectares de canaviais.