Perspectivas 2023

‘Boom’ do petróleo em 2023 deve colocar PPI da Petrobras (PETR4) à prova

22 dez 2022, 16:49 - atualizado em 22 dez 2022, 17:23
petróleo
Petróleo pode chegar a US$ 110 no meio de 2023, diz Morgan Stanley (Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes)

Cotado a US$ 83 por barril, o petróleo ainda patina nas mínimas de 2022. Afinal, os mercados continuam deprimidos pela perspectiva de redução da demanda, provocada tanto pelo ciclo de alta de juros em curso na Europa e nos EUA quanto pela duradoura crise sanitária na China.

No entanto, achar que a atual precificação do mercado se sustenta em 2023 é uma ilusão. Ao menos, é isso que disse o Morgan Stanley em nota veiculada pela Reuters na última semana.

Segundo a instituição, sinais de reabertura da economia chinesa e “constrições de oferta provocadas por baixos níveis históricos de investimento, riscos ao fornecimento da Rússia e o reabastecimento dos estoques da Reserva Estratégica de Petróleo dos EUA” devem acelerar a recuperação dos preços até metade de 2023, quando o barril poderá alcançar os US$ 110.

O quadro de déficit estrutural da oferta é corroborado pelas repetidas vezes em que a Opep+ falhou em entregar a produção acordada pelos seus membros. De acordo com levantamento feito pela consultoria Argus Media, a produção em novembro do cartel caiu para 38.29 milhões de barris por dia, 1,81 milhões a menos do que o estipulado.

Para Pedro Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a falta de investimento em capacidade produtiva das big oils responde ao avanço da transição energética, que traz incertezas sobre a demanda pela matéria-prima no longo-prazo, podendo ocasionar novos picos de inflação em razão de crises mais acentuadas de escassez.

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BofA prevê aumento de preços, mas ‘momentum’ limitado na América Latina

Dado um cenário de recuperação da demanda chinesa, o Bank of America (BofA) permanece “construtivo” com relação ao aumento do volume de produção e exportação do setor de óleo e gás da América Latina. 

Para o caso de Colômbia e Brasil, no entanto, o BofA acredita que o faturamento das petroleiras estatais destes dois países, em cima de um novo ‘boom’ de preços, pode ser neutralizado por pressões inflacionárias no capex e por ingerências governamentais nas políticas de preço dessas companhias.

Em uma quadro geral, o banco de investimentos prevê estímulos macroeconômicos “mistos” para a atividade petroleira, com uma retomada da tolerância ao risco mais pronunciada no segundo semestre de 2023.

Ainda assim, o ano não deve presentear margens sólidas para as petroquímicas e desafios para os refinadores.

A PPI da Petrobras suportará outro ‘boom’ do petróleo?

A projeção do BofA para o mercado de petróleo brasileiro representa a expectativa de uma nova postura para a presidência da Petrobras (PETR4), mais alinhada ao intervencionismo que é esperado da equipe de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nesse sentido, é esperado que ciclos de correção do preço praticado domesticamente, previstos pela Paridade de Preço Internacional (PPI) em cenários de valorização do barril, possam se transformar em fontes de atrito entre acionistas e os interesses políticos da empresa.

2023 ameaça riscos para PPI? (Imagem: Agência Petrobras)

O nome mais cotado para o comando da estatal, o senador Jean Paul Prates (PT-RN),  já se manifestou contrário à continuidade da PPI como régua para a política de preços da companhia.

Em uma proposição alternativa divulgada em novembro, o senador sugere alternativas ao PPI que envolvem, por exemplo, a produção de uma conta de estabilização aberta pelo governo, que teria de injetar dinheiro para amortizar o preço nas bombas dos postos de gasolina. Outra delas fala em uma variação regional de preços.

Na análise de Pedro Rodrigues, “o PPI é a única política que funciona, porque o Brasil é um país importador de derivados. Formas de abrasileirar o preço, vendendo por região, ou via políticas governamentais devem gerar artificialidades nos mercados, podendo causar riscos de desabastecimento”.

Rodrigues salienta ainda que o último rombo bilionário da Petrobras, experimentado durante os anos do governo Dilma Rousseff (2011-2016), se deu em grande parte pelo da alta dos combustíveis pelos cofres da companhia.