Bombeiro oficial: Haddad tenta apagar incêndio entre Lula e Banco Central
Fernando Haddad está acumulando funções em Brasília. Além de ministro da Fazenda, ele também virou bombeiro oficial da guerra entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Banco Central – e agora os ânimos para própria equipe.
Nas últimas semanas, Lula vem criticando duramente a postura do Banco Central em relação à Selic. As últimas falas aconteceram ontem, durante a posse de Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Na ocasião, Lula disse que a decisão do Copom é uma “vergonha” e que não há motivos para a taxa Selic estar tão alta.
“Não existe justificativa nenhuma para que a taxa de juros esteja em 13,5% [ao ano]. É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juro”, disse o presidente.
Poucas horas depois, Haddad afirmou que o Copom poderia ter sido mais “generoso” com as medidas econômicas apresentadas por ele no mês passado.
O ministro também voltou a defender uma harmonização entre a política fiscal e a política monetária.
“A política fiscal ajuda a política monetária. Mas não podemos nos esquecer que a política monetária ajuda a política fiscal. Então, é como se fosse um organismo com dois braços que têm que trabalhar juntos em proveito do mesmo objetivo”, disse Haddad a jornalistas.
Coincidentemente, ou não, a ata do Copom desta terça-feira (7) ressaltou que alguns membros acreditam que o pacote econômico apresentado pelo Ministério da Fazenda pode atenuar o risco fiscal.
Haddad: Equipe da Fazenda
No entanto, as falas de Lula estão incomodando parte da equipe do Ministério da Fazenda, incluindo o próprio ministro.
Segundo a colunista Bela Megale, do Globo, o cabo de guerra com o Banco Central gera ruídos e dificulta o trabalho da pasta. A equipe está concentrada na reforma tributária e também na retomada do voto de desempate a favor do governo nos julgamentos do Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf).
Por outro lado, é consenso de que não há espaço para que as manifestações de Lula sejam rebatidas publicamente. Enquanto isso, o Ministério da Fazenda tenta manter uma relação pacífica com Roberto Campos Neto.
Lula vs Banco Central
Lula sinalizou que pode reverter a independência do Banco Central com o fim do mandato de Campos Neto em dezembro de 2024.
“Quero saber do que serviu a independência. Eu vou esperar esse cidadão [Campos Neto] terminar o mandato dele para a gente fazer uma avaliação do que significou o Banco Central independente”, disse Lula em entrevista à RedeTV!, na noite de quinta-feira (2).
Ao ser questionado diretamente sobre o fim da autonomia, Lula disse que pode acontecer, mas que isso é irrelevante para ele. “Isso não está na minha pauta. O que está na pauta é a questão da taxa de juros.”
Lula criticou o atual patamar da Selic, que está em 13,75% ano desde agosto do ano passado. Este é o maior patamar da taxa básica de juros desde janeiro de 2017 e deve continuar assim por um bom tempo.
O presidente afirmou que não existe razão para taxa de juro estar em 13,75% e que começará a cobrar o Banco Central.
“O presidente do Banco Central tem que explicar por que aumenta juro se não tem inflação de demanda”, afirmou Lula, que alega que inflação de 4,5% ou 4,0% no Brasil “é de bom tamanho”.
No começo do ano, em entrevista à GloboNews, Lula afirmou que “a inflação está do jeito que está e o juro está do jeito que está” mesmo com a autonomia da autoridade monetária.
Na ocasião, ele também questionou a meta de inflação. “Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7% [a meta estipulada para 2023 é de 3,25%] e quando faz isso é obrigado a arrochar mais a economia para poder atingir a meta. Por que não 4,5%, como nós fizemos?”