Bolsonaro x Lula: Ainda dá para virar o jogo nas eleições deste ano?
O Datafolha divulgou na tarde de quinta (24) a nova edição da sua pesquisa de intenção de votos para a eleição de 2022. Os dados mostram que Lula (PT) segue liderando a corrida presidencial com 43%. Seu principal concorrente, Jair Bolsonaro (PL), continua em segundo lugar, com 26%.
Hoje (25) foi a vez da pesquisa da XP/Ipespe, que mostrou um cenário praticamente igual ao do Datafolha: Lula com 44% e Bolsonaro também com 26%.
Ainda é cedo para fazer previsões certeiras, já que a eleição é só em outubro. Ainda assim, é difícil pensar em um segundo turno que seja diferente de um embate direto entre os dois.
Sergio Moro (Podemos), terceiro colocado na maioria das pesquisas, tem somado no máximo 10% das intenções de voto, seguido de Ciro Gomes (PDT), que oscila entre 6% e 7%.
Bolsonaro e o antipetismo
Para a MCM Consultores Associados, o atual presidente da República assumiu um posto que era protagonizado pelo PSDB desde a redemocratização — o de oposição ao Partido dos Trabalhadores; a representação do sentimento do antipetismo.
Em 2018, Bolsonaro venceu o então candidato Fernando Haddad (PT) com 57,7 milhões de votos, cerca de 10 milhões a mais do que o candidato do PT. A MCM avalia, no entanto, que o cenário hoje mudou consideravelmente em relação a última eleição presidencial.
O presidente perdeu apoio nas faixas da população com maior renda, entre 5 e 10 salários mínimos. Ainda assim, mesmo que ele recupere eleitores “perdidos”, seu maior desafio é outro.
“Mesmo que consiga repetir o desempenho de 2022 juntos a esses eleitores mais abastados, Bolsonaro não conseguirá se reeleger se continuar a perder para Lula por 40 pontos entre os eleitores de renda familiar abaixo de dois salários mínimos, pois estes representam o principal contingente do eleitorado nacional. Metade dos eleitores está nessa faixa de renda”, dizem os analistas.
Na última eleição, Bolsonaro também perdia para Haddad nesse eleitorado, mas a diferença era consideravelmente menor, de apenas 14 pontos. A desvantagem era compensada pelo fato de que o então candidato do PSL tinha, na ocasião, larga vantagem nos outros segmentos de renda da população.
O cenário hoje também é diferente, justamente porque Lula tem mais força entre a população mais pobre do que Haddad.
“É interessante notar que no eleitorado mais pobre o desempenho de Lula é bem melhor do que o de Haddad, não apenas porque ele consegue virar votos que foram para Bolsonaro, mas também porque há importante redução do não voto nesse segmento. É mais uma evidência da força de Lula entre os eleitores mais pobres (…) Quando Lula não foi candidato, uma parcela importante dos eleitores de baixa renda, segundo a evidência do Datafolha, abriu mão de votar para presidente”.
Nordeste e Sudeste
Para a consultoria, a situação de Bolsonaro não piorou consideravelmente no Nordeste — os números são hoje muito semelhantes aos de 2018, e dificilmente podem subir.
Mas foi na região na região Sudeste do país, que concentra 44% do eleitorado brasileiro, onde ele perdeu mais espaço em relação a última eleição, estando hoje 20 pontos abaixo do que tinha há quatro anos. Ao mesmo tempo, Lula está 21 pontos a frente de Haddad em 2018.
Os consultores apontam que o atual presidente da República pode fazer para tentar reverter a situação, já está fazendo: transferir recursos para a população mais pobre e reforçar seu palanque no Sudeste — lançar o atual ministro Tarcísio de Freitas, ainda sem partido, como pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo é uma dessas estratégias.
“As iniciativas estão na direção correta, resta saber se serão suficientes para reverter a vantagem de Lula, o que, por enquanto, ainda nos parece improvável”, avalia a MCM.