Bolsonaro volta ao Brasil com a missão de ser o líder da oposição ao governo Lula
Após três meses morando na Flórida (EUA), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarcou em Brasília na manhã desta quinta-feira (30). O retorno do capitão reformado era aguardado por apoiadores e, principalmente, membros da classe política que o enxergam como o líder presumido da oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Entre os fatores que contribuem para que Bolsonaro encabece a oposição ao governo está o saldo da eleição passada. Embora tenha perdido o pleito presidencial, ele obteve mais de 58,2 milhões de votos (49,1%).
Além disso, seu partido conquistou a maior bancada da Câmara dos Deputados e a segunda maior do Senado Federal, com 99 deputados e 12 senadores, respectivamente.
Isso não significa, no entanto, que o ex-presidente terá uma vida fácil no Brasil, visto que pesam contra ele inúmeros inquéritos em diferentes instâncias da Justiça, como uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode torná-lo inelegível por abuso de poder.
O líder presumido
Para Rafael Cortez, cientista político e sócio da Tendências Consultoria Integrada, Bolsonaro tem condições para ser o nome mais relevante na oposição ao governo, mesmo que não tenha um cargo representativo e enfrente processos na Justiça.
O cientista político ainda chama a atenção para a força que o ex-presidente tem nas redes sociais e o potencial impacto que o retorno de Bolsonaro terá na agenda legislativa do governo Lula, dificultando a aprovação de medidas importantes no Congresso — como a reforma tributária, por exemplo.
“Essa liderança [de Bolsonaro] tem potencial de afetar negativamente a agenda do governo, visto que a base governista é insuficiente para aprovar medidas, especificamente aquelas que precisam de reforma constitucional”, conta. “Isso significa que vai haver a necessidade do apoio de partidos que apoiaram a reeleição de Bolsonaro”, conclui o cientista político.
Claudio Couto, cientista político e professor da FGV, reforça a leitura do colega de que Bolsonaro vai liderar a oposição ao governo, porém ressalta que o retorno do ex-presidente ao país é acompanhado de riscos.
“Primeiro, que ele pode ser preso”, conta em alusão às acusações que pesam contra Bolsonaro. “Considero muito pouco provável que ele não tenha problemas com a Justiça. [Além disso], é praticamente líquido e certo que ele vai se tornar inelegível”, diz.
Presidente de honra do PL
Jair Bolsonaro assumirá a cadeira de honra do Partido Liberal (PL), com um salário mensal de R$ 41,6 mil. Na avaliação do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, a volta do capitão reformado é fundamental para impulsionar o partido, sobretudo nas eleições municipais em 2024.
“Bolsonaro será o presidente de honra do PL. Ele vai liderar a oposição e rodar o Brasil pregando os valores liberais do partido e ajudando a estruturar e fazer o PL crescer”, disse.
“Um dos primeiros desafios será ajudar o Partido Liberal sair dos pouco mais de 300 prefeitos para mais de mil prefeitos eleitos em 2024. Acreditamos que o presidente Bolsonaro está firmemente motivado para esse desafio”, destacou.
Apesar do entusiasmo de Costa Neto, a avaliação no PL é que, nesse período fora do país, o ex-presidente perdeu parte do capital político que acumulou nos últimos anos.
A expectativa da legenda, segundo fontes ouvidas pela Reuters, é que Bolsonaro faça um trabalho de articulação política da oposição para retomar sua liderança e influência política
Um dos vice-presidentes do PP, deputado Cláudio Cajado disse que a expectativa é grande com a volta de Bolsonaro, mas fez ressalvas. “Se ele for vir para fazer a liderança da oposição e pautar os assuntos que tenham relevância, vai estar construindo e mantendo a liderança que teve”, disse.
O PP foi um dos principais partidos que deu sustentação à gestão Bolsonaro e agora, de maneira geral, tem se dividido em alas que ainda respaldam o ex-presidente e outras que buscam aproximação com a gestão Lula.
*Com informações de agência Reuters