Economia

Bolsonaro volta a culpar governadores e o ICMS pela queda zero dos combustíveis

08 mar 2020, 19:13 - atualizado em 08 mar 2020, 19:14
Jair Bolsonaro
“Pela 5a vez nós baixamos o preço do combustível. A última vez foi 5% na refinaria. Sabe quanto baixou na bomba? Zero” (Imagem: Facebook/Jair Bolsonaro)

Em seu primeiro dia efetivo em Miami, o presidente Jair Bolsonaro usou o tempo livre para ir a um shopping e almoçar em uma churrascaria brasileira, onde encontrou convidados como o ex-piloto de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi, com quem aproveitou para criticar os aumentos nos combustíveis e a reação dos governadores a sua proposta de zerar o ICMS do produto.

O almoço, organizado pelo cônsul do Brasil em Miami, João Mendes Pereira, reuniu no andar de cima de uma churrascaria, a comitiva brasileira e alguns convidados.

Recebido com aplausos e gritos de “mito” por parte de alguns clientes, o presidente fez um rápido discurso em que voltou a alguns de seus assuntos preferidos, como evitar a volta do comunismo e da soberania da Amazônia, com novas críticas ao ator americano Leonardo di Caprio que criticou as queimadas na região.

Ao terminar o almoço, parou para gravar um vídeo ao lado de Fittipaldi e aproveitou para criticar mais uma vez o grupo de governadores que se opõe a sua ideia de mudar a cobrança do ICMS do setor.

“Pela 5a vez nós baixamos o preço do combustível. A última vez foi 5% na refinaria. Sabe quanto baixou na bomba? Zero. Isso é o Brasil. E quando eu falo de quem é a responsabilidade, 20 personalidades fazem listinha para dar pancada em mim, que eu estou atingindo os governadores. Não estou, estou mostrando a realidade”. disse.

Bolsonaro responsabiliza os governadores e a cobrança do ICMS pelo fato dos combustíveis não baixarem de preço ao consumidor final e chegou a desafiá-los a zerar o ICMS que, em troca, zeraria os impostos federais. A proposta foi descartada pela equipe econômica.

Ao sair do restaurante, abordado por jornalistas para falar sobre o jantar com o presidente norte-americano Donald Trump, apenas disse que “continuam as tratativas”, que tudo está indo bem e o relacionamento com Trump está “cada vez melhor.”

Bolsonaro fez questão de testar sua popularidade em meio à comunidade brasileira e latina de Miami, com quem tem encontro oficial na tarde de segunda-feira. Ao sair do restaurante, um grupo o esperava e o presidente tirou fotos e distribuiu abraços.

À tarde, Bolsonaro foi a um outlet, um shopping de descontos a pouco mais de 20 quilômetros do hotel em que está hospedado, Acompanhado de poucos seguranças, tomou um milk shake e tirou fotos com curiosos.

“São jovens basicamente da América do Sul que vieram falar comigo. Sabemos da nossa responsabilidade e torcemos para que o Brasil melhore”, disse em uma live transmitidas nas suas redes sociais.

O que Bolsonaro não sabia é que a polaridade política que tomou conta do Brasil chegou até a churrascaria em que almoçou. Enquanto o garçom Franklin Oliveira, escalado para ser o principal atendente da sua mesa, admitia que fez campanha primeiro para Ciro Gomes (PDT) e, no segundo turno, para Fernando Haddad (PT), os dois jovens que serviram carne à mesa eram bolsonaristas roxos.

Ao mesmo tempo, uma jovem que seria a segunda garçonete, pediu para não ser escalada e chegou a sair do restaurante enquanto o presidente e sua comitiva estavam no local.

“Eu não tenho problema. Minhas opiniões políticas são daqui para fora. Aqui dentro eu atendo todo mundo igual, com a mesma educação e profissionalismo”, contou Franklin.

O brasileiro, que é casado com uma cubana e vive legalmente há quatro anos nos Estados Unidos, admite sem problemas que é de centro-esquerda, não concorda com as políticas do presidente e festejou quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi libertado.

Formado em pedagogia graças ao programa de Financiamento Estudantil (Fies), ampliado e modificado no governo Lula, diz que sua vida e de sua família mudou por causa do ex-presidente.

Lula é meu crush. Se eu estou aqui nos Estados Unidos hoje é por causa dele”, diz Franklin, que além de garçom é escritor. “Mas lá em cima (na mesa de Bolsonaro) ninguém perguntou minha opinião política e nem eu falo de política.”

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Agenda livre

Bolsonaro chegou no início da tarde de sábado à Flórida, na sua quarta viagem aos Estados Unidos em menos de 15 meses, mas foi direto à Palm Beach, onde à noite jantou com Donald Trump.

Neste domingo, começou o dia com uma visita ao Comando Militar norte-americano do Sul, onde foi assinado um acordo de desenvolvimento de tecnologia com o governo dos EUA . Depois disso, apesar do almoço ter sido organizado e pago pelo Consulado brasileiro em Miami, a Presidência o considerou uma agenda privada, e nada foi informado do que faria o presidente tarde e à noite.

Nesta segunda-feira, Bolsonaro abre um seminário empresarial pela manhã e, à tarde, terá um encontro com a comunidade brasileira, cerca de 300 pessoas, organizada pela Associação de Pastores do Sul da Flórida, ligados a igrejas evangélicas.