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Bolsonaro: O Segundo Mandato – calma, é só um bull market

12 jul 2019, 10:29 - atualizado em 12 jul 2019, 10:29

Por Felipe Miranda, CEO da Empiricus Research

Antes da diversão, a obrigação, já diria papai, com a costumeira delicadeza. Lá em casa, não tinha conversinha. O coro comia mesmo.

Conforme prometido, abaixo estão as imagens dos comprovantes da minha doação, em adição à anual que já faço regularmente, e da Empiricus à Fundação Estudar.

Se você ainda não assistiu ao meu bate-papo com o Florian Bartunek, ainda há tempo de fazê-lo e dar sua contribuição para a Estudar. Aqui está o link para assistir . Estamos muito próximos de bater a meta de arrecadação de 100 mil reais, num dos maiores eventos de fundraising por YouTube do Brasil. Seria uma honra poder contar com a sua ajuda.

Florian, como lhe é de costume, falou coisas muito interessantes sobre obstinação, disciplina, liderança e, claro, sobre gestão de portfólio e algumas ações que lhe parecem interessantes agora. Mais importante até do que os papéis individualmente é sua combinação no portfólio, como funcionam harmonicamente numa única cesta. Entre as ações citadas, aparecem Eneva, Banco Inter, Mercado Livre, Lojas Renner, B3 e outras.

Agora, deixe-me dividir uma coisa que falamos nos bastidores — normalmente, são as melhores. A gente falava de musculação — aprendi que a longevidade está bastante associada ao percentual de massa magra no corpo; então, se precisar escolher (obviamente, o melhor é realizar tudo), faça agachamento, barra e supino — e ele confessou já ter treinado braço às 7h da matina. Questionei se ele, assim como eu, também treinava todo dia. Obtive de resposta: “Cara, você precisa ir todo dia. Se começa abrir exceção, aquele ‘só hoje’ começa acontecer três vezes por semana. No final, você vai ver sua frequência diminuir uns 50 por cento. Eu ouvi uma coisa do Abílio uma vez, de que você precisa montar sua agenda em torno da academia, tratando aquilo como prioridade; aí as coisas se encaixam”.

É uma lição de disciplina, sabe? Percebi que eu mesmo faço isso, de forma não tão deliberada e estruturada. Mas, além de uma questão particular ligada ao esporte, eu notei que, no fundo, tudo que é realmente importante (o que é bem diferente de urgente), precisa ser tratado como prioridade, sem tergiversar, sob disciplina espartana.

O processo de construção patrimonial também precisa ser tocado assim. Poxa, isso é o seu futuro e da sua família. Não existe esse negócio de “não tive tempo para pensar minhas finanças hoje”. Como não teve tempo? Mentira. Você apenas não priorizou. Curiosamente, ainda ontem, horas depois, fui ler uma matéria no InfoMoney com o André Jakurski, para mim o grande trader do Brasil, possivelmente o maior da nossa história, dizendo assim: “A boa gestão não pode ser feita pela metade, precisa ser feita intensamente. Caso contrário, a eficiência diminui dramaticamente”. Breve parêntese, super-rapidinho: ele, assim como eu, está muito otimista com as ações da Oi. Para mim, é a maior e mais óbvia assimetria da Bolsa. Tem risco? Você está brincando, né? Tem risco? A empresa está em recuperação judicial. Mas o quanto você pode ganhar é muito mais do que você pode perder aqui. Uma aposta do tipo 4 para 1. Gosto de coisas assim.

Não confunda, evidentemente, pensar o seu dinheiro e sua evolução patrimonial com a necessidade de ficar operando em Bolsa. Ao contrário, quanto menos você operar, provavelmente mais bem-sucedido será. Num estudo da Fidelity, as melhores carteiras eram do segmento das pessoas que haviam morrido, justamente por, ao menos fora das mesas kardecistas ou dos terreiros de umbanda, elas não poderem ficar girando seu portfólio. Essa é também uma das razões para a superioridade feminina em Bolsa — elas negociam menos. Aqui me refiro a um processo de disciplina, diligência e priorização. Tome as rédeas do negócio e o trate como prioridade, entre outras que você tem, claro. Não é para ficar tradando, é para ficar pensando.

Voltando ao Florian, ele resumiu bem também os benefícios da inação, recorrendo a Warren Buffett: “Em um bull market, você não ganha dinheiro fazendo trade, você ganha dinheiro ficando sentado”.

Enfim, chegamos onde eu queria.

Quando eu comecei a trabalhar formalmente no mercado financeiro, na primeira década dos anos 2000, havia uma frase meio recorrente repetida de maneira pejorativa aos jovens, que era mais ou menos assim: “Você é filho do bull market; não sabe o que é uma tendência de queda”. Todos vivíamos aquela época de expansão vigorosa da economia mundial pós-bolha da Nasdaq, com juros muito baixos lá fora. Aqui dentro, estávamos naquele bom Lula 1, com a dupla Palocci/Meirelles garantindo a ortodoxia na gestão da política econômica, subsidiados por excepcionais secretários da estirpe de Marcos Lisboa, Murilo Portugal e Joaquim Levy. Depois desandou, claro. Mas o ciclo de 2003-07 na Bolsa brasileira foi estapafúrdio. Só tinha gênio por aí. No bull market, tudo que você compra sobe. E o sucesso é um péssimo professor. E a arrogância dos gestores? Jesus amado. Essa turma marca as avaliações das competências individuais conforme as cotas dos próprios fundos — bom, você já deve imaginar como têm sido agradáveis os meus almoços em plenos 105 mil pontos, né?

Para ser sincero, a expressão “filho do bull market” não era muito justa comigo. Eu vi meu pai perder uma bolada com a crise da Tequila em 1995. Depois, se estrepou de novo com a Tailândia em 97. Eu mesmo já fui ter um belo preju com a Rússia em 98-99. Depois veio a Nasdaq e a Argentina. Mas fazer o quê?

Questões pessoais à parte, a turma da época realmente não sabia muito bem o que era um bear market. Foi dar de cara no muro com aquele fatídico 15 de setembro de 2008, com a quebra do Lehman Brothers. Um show de horrores. Os geniais traders alavancados sucumbiram da noite para o dia. De heróis a vilões em 24 horas. De toalha felpuda a pano de chão num piscar de olhos. Aquilo marcou toda uma geração.

Só que agora é diferente. Se quem começou nos anos 2000 não sabia o que era um bear market, o oposto acontece neste momento. Há uma memória recente, com sulcos psíquicos muito bem formados, para onde caminham todas as novas tempestades eletroquímicas, ligada a um mercado e uma economia em queda ou de lado. O ciclo 2008-15 foi destruidor. E pouca gente pegou na veia a recuperação de 2016 até agora — principalmente porque a economia ainda não voltou. Há toda uma galera filha do bear market. E precisamos nos preparar para a antítese disso: o bull market, pois é exatamente o que estamos vivenciando, com espaço para uma construção de riqueza esplendorosa nos próximos anos.

Um bull market secular e estrutural, tal como eu imagino estar em curso neste momento, não é para ganhar 20 ou 30 por cento. Isso é o que enxergamos de upside ex-ante. Mas o movimento é sempre maior do que somos capazes de antever. Depois, vai ficar tudo óbvio. A posteriori, há previsores cirúrgicos do passado (embora até ele seja incerto no Brasil). Para ilustrar, pegue o quanto bancos médios e incorporadoras ruins costumam subir nos grandes ciclos de Bolsa. Se achar algo perto de 1.000 por cento, não se assuste. Sim, acontece. Não sou eu, mas, sim, a realidade que insiste em seu não comedimento.

Temos uma mente linear, incapaz de identificar dinâmicas exponenciais. Mas as variações em Bolsa são justamente do tipo exponenciais. Os lucros das empresas são alavancados na economia, e a própria economia vai andar agora. Note ainda que é uma questão meramente matemática, com juros sobre juros formando uma curva convexa.

Veja o que Luis Stuhlberger (acho que não preciso adjetivá-lo, né?) acaba de escrever (será que ele escreve ainda?) em sua carta mensal da Verde Asset: “Vemos uma clara não linearidade à vista em relação ao crescimento, com aceleração que certamente não está refletida no preço dos ativos”.

A reforma da Previdência é fundamental em si. Mas ela é muito mais do que isso. Ela marca o encerramento de uma primeira fase do governo Bolsonaro. Agora, iniciamos uma espécie de Segundo Mandato, com a entrada na agenda do crescimento. Bicho, 379 votos! Ninguém esperava isso. Volto à ideia proposta aqui há cerca de um ano e meio: a agenda se impõe. E a agenda agora é pró-negócios e pró-mercado. A adequação previdenciária é a primeira de uma séria e profunda agenda de reformas brasileiras. Não é o fim, mas o princípio. Vai passar tudo.

De imediato, iniciam-se os debates mais profundos sobre a reforma tributária. É iminente um pacote de medidas de estímulos ao crescimento, com foco em retomada do consumo e construção civil — só isso deve empurrar as ações do setor para cima em mais uns 5 por cento. Na sequência, mais flexibilização do mercado de trabalho, pacto federativo, reforma política, concessões, privatizações, acordos comerciais. Selic vai a 5 por cento — há gente séria falando em menos do que isso. Gringo vai vir porque Brasil é grande demais para ser ignorado e logo começam os upgrades do rating, já flertando com investment grade no final de 2020.

Quando, daqui a 12 meses, você olhar para sua evolução patrimonial e se achar um gênio, ou ler nessas linhas mal escritas supostos acertos de recomendações, por favor, volte ao planeta Terra. Calma, é só um bull market.