Justiça

Bolsonaro nega contato com acusado pela morte de Marielle e se coloca à disposição

30 out 2019, 8:45 - atualizado em 30 out 2019, 8:50
Suspeito de assassinar deputada esteve no condomínio do presidente no dia do crime, segundo reportagem da TV Globo (Arquivo/Guilherme Cunha/Alerj)

O presidente Jair Bolsonaro negou na noite de terça-feira ter autorizado a entrada em seu condomínio de um dos suspeitos de ter assassinado a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco no dia do crime, e disse que deseja ser ouvido pelo delegado do caso para se defender.

Bolsonaro fez uma transmissão de vídeo ao vivo em sua página no Facebook de madrugada na Arábia Saudita, onde está em visita oficial, após reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, afirmar que um dos suspeitos da morte de Marielle entrou no condomínio de Bolsonaro dizendo que iria à casa do então deputado, mas que, na verdade, foi para a residência do ex-policial Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora e seu motorista, Anderson Gomes, em março do ano passado.

Segundo a reportagem, que cita o depoimento de um porteiro do condomínio à polícia, esse porteiro teria dito que um homem com a voz de Bolsonaro teria autorizado pelo interfone a entrada no condomínio de Élcio Queiroz, acusado de dirigir o carro usado no crime de Marielle, mas o presidente disse que sequer estava no Rio de Janeiro no dia do crime.

A reportagem da TV Globo também ressalvou que o sistema da Câmara registra a presença de Bolsonaro no Congresso no dia da visita de Élcio Queiroz.

“Eu tenho registrado no painel eletrônica da Câmara 17h41, ou seja, 31 minutos depois da entrada desse elemento no condomínio, e tenho também 19h36, e tenho também registrado no dia anterior e no dia posterior as minhas digitais no painel de votação”, disse Bolsonaro no vídeo em uma resposta exaltada.

“O que cheira isso aqui, não quero bater o martelo, o que parece: ou o porteiro mentiu, ou induziram o porteiro a cometer um falso testemunho ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu e assinou embaixo em confiança ao delegado ou àquele que foi ouvi-lo na portaria”, acrescentou.

O presidente disse que quer falar com o delegado responsável pelo inquérito para se defender, e acrescentou que vai tornar público seu depoimento, independentemente de o processo correr em sigilo.

Bolsonaro também acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de ter vazado as informações do inquérito para a imprensa (Imagem: Antonio Cruz/Agência Brasil

“Eu quero falar sobre esse processo. Vou chegar na madrugada de quinta-feita, a partir dessa madrugada estou à disposição de vocês. Senhor delegado, quero te ouvir, olhar nos seus olhos, e que o senhor faça perguntas para mim, quero te responder”, afirmou.

Bolsonaro também acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de ter vazado as informações do inquérito para a imprensa, segundo o presidente, com a intenção de “destruir a família Bolsonaro” de olho nas eleições presidenciais de 2022.

Em nota oficial, Witzel afirmou que não compactua com vazamentos e negou interferência política nas investigações.

“Lamento profundamente a manifestação intempestiva do presidente Jair Bolsonaro. Ressalto que jamais houve qualquer tipo de interferência política nas investigações conduzidas pelo Ministério Público a cargo da Polícia Civil”, afirmou.

A TV Globo afirmou, também por meio de nota, que revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez, mas que ressaltou “com ênfase e por apuração própria” que as afirmações se chocavam com os registros de presença do então deputado em Brasília naquele dia.

“O depoimento do porteiro, com ou sem contradição, é importante, porque diz respeito a um fato que ocorreu com um dos principais acusados, no dia do crime. Além disso, a mera citação do nome do presidente leva o Supremo Tribunal Federal a analisar a situação”, acrescentou a emissora.