Bolsonaro embarca em onda de gastos em reta final para 2º turno
Jair Bolsonaro (PL) abriu a torneira dos gastos públicos a poucos dias das eleições presidenciais, lançando uma série de medidas destinadas a melhorar a percepção sobre a economia e diminuir a desvantagem em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Desde o primeiro turno em 2 de outubro, quando Bolsonaro surpreendeu institutos de pesquisa com desempenho melhor do que o esperado, tem apostado em diversas iniciativas, muitas orçadas em centenas de milhões de reais em custos diretos ou receita perdida.
A estratégia pode estar valendo a pena. Pesquisas de intenções de voto divulgadas nesta semana mostram que a vantagem de Lula diminuiu – sendo que em um levantamento a disputa parece estar empatada. E o presidente Bolsonaro, que chegou ao poder há quatro anos prometendo responsabilidade fiscal, agora redobra a aposta em corte de impostos e auxílio em dinheiro aos mais necessitados caso conseguir vencer o segundo turno em 30 de outubro.
Maurício Santoro, cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, diz que, embora os governos anteriores tenham lançado obras públicas ou fornecido estímulos em anos eleitorais, houve algo de improvisação, já que as iniciativas começaram pouco antes das eleições.
“O que está acontecendo agora é mais como dar dinheiro público a grupos de interesse específicos que podem ajudar Bolsonaro a vencer as eleições”, disse.
As medidas incluem: adicionar mais 500 mil famílias ao Auxílio Brasil; aumento da assistência aos taxistas; concessão de crédito a empresárias e perdão de dívidas a empresas e pessoas físicas, ambos por meio da Caixa Econômica Federal.
Muitas medidas têm como foco a demografia com a qual Bolsonaro, 67, há muito tempo está em desvantagem: mulheres e pobres. Ainda não está claro o quanto as iniciativas estão ajudando, mas o presidente ganha força.
Pesquisa divulgada pelo Datafolha na quarta-feira mostrou que Bolsonaro tem 48% dos votos válidos, que excluem nulos e em branco, um aumento de 1 ponto percentual em relação aos quatro dias anteriores.
Lula, 76, ficou com 52% das intenções de voto, um ponto a menos, embora dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais.
O Datafolha entrevistou 2.912 pessoas em todo o Brasil entre 17 e 19 de outubro.
Auxílio e cortes de impostos
A onda de despesas se soma ao que já era um dos maiores programas de gastos pré-eleitorais em 37 anos de democracia brasileira. No início do ano, Bolsonaro aprovou um pacote de ajuda totalizando quase US$ 8 bilhões. A maior parte foi dedicada a auxílio em dinheiro para pessoas de baixa renda e cortes de impostos para reduzir o preço da gasolina, uma das principais preocupações dos eleitores.
Embora o presidente avance entre alguns grupos, os esforços recentes ainda não convenceram de forma significativa brasileiros mais pobres. Cerca de 55% dos eleitores com renda superior a 10 salários mínimos, o grupo mais rico pesquisado, apoiam Bolsonaro. Apenas 37% dos que ganham menos apoiam o presidente.
Independentemente de quem vencer o segundo turno, ambos os candidatos se comprometeram a manter ou expandir a ajuda em dinheiro aos pobres. A tentativa de Bolsonaro de cultivar apoio por meio de mais gastos públicos, no entanto, corre o risco de prejudicar seu status de candidato favorável ao mercado.
“Ele continuou a tendência que vimos ao longo de sua presidência – seu lado populista veio à tona”, disse William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics. “Parece bem provável que isso continue se for eleito.”