Bolsonaro em silêncio aumenta risco de ‘6 de Janeiro’ no Brasil?
Jair Bolsonaro (PL) mantém um silêncio ensurdecedor de mais de 24 horas após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições. Tradicionalmente, candidatos derrotados fazem declaração pública após o resultado das urnas.
Fosse em qualquer outro lugar do mundo, Bolsonaro já teria ligado parabenizando o oponente pela vitória. É de bom tom que assim o fosse.
“A liturgia do cargo recomenda que o candidato derrotado ligue para o vencedor das eleições para parabenizá-lo pela vitória”, lembrou em comentário o CIO da TAG Investimentos, Dan Kawa.
Porém, a postura do atual presidente escala a tensão eleitoral. Bolsonaro segue à risca a cartilha deixada por Donald Trump, que tampouco reconheceu a derrota para Joe Biden nas eleições dos Estados Unidos dois anos atrás.
Quem não se lembra do episódio ocorrido em 6 janeiro de 2021 no Capitólio? E o temor é de que Bolsonaro esteja criando um mesmo clima de insurreição nos moldes do que se viu por lá.
“Um 6 de Janeiro é certamente possível”, avalia o escritor sênior do Signal, Carlos Santamaria.
“Será que ele realmente acha que pode reverter o resultado? Provavelmente não. Ele é louco o suficiente para tentar um golpe? Duvidoso. Mas ele pode criar muito caos como forma de reforçar seu capital político antes de seu próximo papel como líder de uma poderosa oposição que agora controla o Congresso? Certamente”, enumera.
Para Santamaria, ao não se manifestar publicamente logo após o fim das eleições no domingo (30) cresce o risco de que Bolsonaro irá contestar o resultado. “A questão é se ele fará isso indo à Justiça ou pedido a seus apoiadores e partidários que saiam às urnas e ocupem o Congresso”, pondera o escritor da newsletter de política global da GZERO Media, pertencente ao Eurasia Group.
Bolsonaro e o 6 de Janeiro tropical
Aliás, o cientista político e presidente da Eurasia, Ian Bremmer, avalia que o silêncio de Bolsonaro é melhor do que alegar falsamente que a eleição foi roubada. “Homens de verdade reconhecem as eleições quando perdem”, ponderou pelo Twitter.
real men concede elections when they lose.
— ian bremmer (@ianbremmer) October 31, 2022
Segundo o responsável pela empresa líder mundial em análise de risco políticos, se Bolsonaro decidir não contestar a derrota eleitoral para Lula, será uma notícia muito bem-vinda para a democracia brasileira.
Com isso, o atual presidente se mostraria um líder mais responsável do que Trump. “E os americanos deveriam tomar nota”, emendou.
bolsonaro spokesperson:
president “will not challenge” election loss to lula.
very welcome news for brazil’s democracy.
americans might take notice.
— ian bremmer (@ianbremmer) October 31, 2022
Já o cientista político e diretor do Instituto Brasilis, Alberto Carlos Almeida, ressalta que a apuração dos votos no Brasil é diferente da feita nos Estados Unidos. “[Aqui], é centralizada. Por isso, os eleitos não contestam os resultados”, explica.
Isso significa que, ao contrário de alguns outros países, como os EUA, o sistema eletrônico unificado do Brasil conta todos os votos de uma só vez, no dia da eleição, e pronto.
“Ou seja, o discurso que funciona lá, não funciona aqui em função das diferenças institucionais”, emenda Almeida. Para ele, qualquer tentativa de “insurreição” deve ser severamente punida.
Se Bolsonaro gerar desordem será afastado do cargo e preso. O STF pode fazer isso em uma semana
— Alberto Carlos Almeida (@albertocalmeida) November 1, 2022
Bolsonaro sem apoio
Além disso, o amplo reconhecimento de lideranças políticas internacionais à vitória de Lula reforça os sinais de que não há apoio para resistir. Mais que isso, a movimentação para a transição de governo já começou.
“A classe política mundial e a classe política local, inclusive aliados do presidente, vieram a público para parabenizar a vitória de Lula. Aliados de Bolsonaro dizem, nos bastidores, que não há clima para contestar as eleições”, acrescentou Kawa, da TAG Investimentos.
Vale lembrar que tanto Trump quanto Bolsonaro tornaram-se o primeiro presidente de seus respectivos países que não conseguiram se reeleger em mais de 20 anos. A emenda da reeleição é válida no Brasil desde 1998 e desde então todos os chefes de Estado nacional conseguiram um segundo mandato.
“Na verdade, uma eleição de reeleição acaba sendo uma espécie de um plebiscito, um referendo que seja de aprovação ou não ao governo que está no mandato. O presidente não conseguiu ter maioria. Ele teve um grau maior de rejeição do que de aprovação. E aí a matemática é simples. Rejeição maior do que aprovação é perda de eleição”, disse o cientista político do Insper Carlos Melo em entrevista ontem ao Jornal Nacional.
Contudo, Santamaria, do Signal, lembra que a estreita margem de vitória de Lula confirma que o Brasil está mais polarizado politicamente desde a redemocratização, no fim da década de 1980.
Mais que isso, ele avalia que as forças da direita que apoiaram Bolsonaro contra Lula têm poder de permanência. “Aperte o cinto para um período de transição difícil até que Lula esteja programado para tomar posse no primeiro dia de 2023”, conclui o escritor sênior ligado ao Eurasia Group.
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