Política

Bolsonaro diz que há guerra ideológica sobre uso da cloroquina contra coronavírus

09 abr 2020, 14:21 - atualizado em 09 abr 2020, 14:21
Jair Bolsonaro
“Isso é uma guerra ideológica em cima disso, guerra de poder”, disse Bolsonaro (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Depois de usar parte de seu pronunciamento em rede nacional para defender, mais uma vez, o uso da cloroquina em casos de Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que há uma “guerra ideológica” em torno do uso do medicamento contra o novo coronavírus.

“Isso é uma guerra ideológica em cima disso, guerra de poder. Se o pessoal me ajudasse um pouquinho, não me atrapalhasse, e não estou me referindo a A, B ou C, o Brasil ia embora”, disse o presidente a apoiadores que o esperavam em frente ao Palácio da Alvorada.

Bolsonaro admitiu que ainda não há comprovação científica para o uso do medicamento, mas, lembrando uma história de um suposto uso de água de coco em transfusões de sangue durante a Segunda Guerra Mundial no Pacífico, afirmou que nem sempre é possível esperar por comprovação científica.

“Serviu como soro, imagina se fosse esperar uma comprovação científica, quantos não morreriam? Aqui a mesma coisa”, disse.

Aficcionado pela ideia de que a cloroquina pode ser a cura para o coronavírus, o presidente tem cobrado e insistido com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para que o ministério adote um protocolo amplo de uso do remédio, inclusive para pacientes em fase inicial da doença, o que é um dos pontos de atrito na relação estremecida entre ambos.

O Ministério da Saúde já tem um protocolo para uso da cloroquina em casos moderados a graves de doentes internados em hospitais, mas Bolsonaro quer mais. Na segunda-feira, o presidente almoçou com a imunologista Nise Yamagushi, que defende o uso da cloroquina, associada ao retroviral azitromicina, até o quarto dia depois da apresentação de sintomas da Covid-19 para evitar o agravamento do quadro.

Bolsonaro pediu que a médica se reunisse com o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, que organizou uma reunião com Mandetta. O próprio ministro contou sobre o encontro e, na terça-feira, disse em entrevista que os médicos estavam livres para usar a cloroquina como quisessem, mas era preciso “um pouco mais de ciência” para um protocolo indicado pelo ministério.

Em seu pronunciamento na noite de quarta, Bolsonaro voltou a defender o medicamento e chegou a dizer que falava de seu uso publicamente há 40 dias. Na verdade, o primeiro caso de coronavírus foi confirmado em 26 de fevereiro, há 44 dias, mas Bolsonaro só foi tratar da epidemia 12 dias depois, em 9 de março, durante a viagem a Miami, para dizer que o vírus estava “superdimensionado”.

Sua primeira menção pública à cloroquina foi apenas em 21 de março, quando anunciou que os laboratórios das Forças Armadas começariam a produzir o medicamento. Dois dias antes, no dia 19, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, havia citado a cloroquina pela primeira vez como possível tratamento para doença, o que levou a uma corrida às farmácias no Brasil.

Desde o pronunciamento da noite de quarta, os apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais passaram a tentar levantar tags associando o remédio ao presidente. A hashtag “RemédiodoBolsonaro” chegou a estar entre os principais tópicos do Twitter, com bolsonaristas conclamando seus pares a chamar a cloroquina desta forma. A hashtag, no entanto, perdeu força nas últimas horas e desapareceu dos tópicos principais.

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