Bolsonaro diz na cúpula que Brasil não precisa da Amazônia para expandir agronegócio
O presidente Jair Bolsonaro usou seu discurso na Cúpula das Américas para defender as ações do Brasil na área de meio ambiente, um tema em que o Brasil é cobrado em todos os fóruns internacionais.
Em sua fala, Bolsonaro incorporou uma alegação feita com frequência por ambientalistas, mas também por pessoas ligadas ao agronegócios, que não costumava entrar no seu rol de defesa da política ambiental de seu governo: a de que o Brasil não precisa desmatar mais para produzir mais.
“Somos uma potência agrícola sustentável. Não necessitamos da região amazônica para expandir o nosso agronegócio. Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta”, disse.
O presidente ainda listou ações como o projeto Guardiões do Bioma, que tenta reverter até agora sem sucesso o desmatamento da Amazônia através do incremento da fiscalização feita por policiais, e mencionou o que promete ser uma nova aposta do governo: a produção de hidrogênio e amônia verde, em usinas eólicas no mar, para ajudar a agricultura e exportar energia.
“Temos o potencial de produção excedente de energia eólica no mar na ordem de 700 GW, equivalente a quatro vezes a nossa atual capacidade instalada ou 50 Itaipus”, afirmou. “As eólicas, na costa do nosso Nordeste, poderão produzir hidrogênio e amônia verde para exportação. Neste momento em que países desenvolvidos recorrem a combustíveis fósseis, o Brasil assume papel fundamental como fornecedor de energia totalmente limpa rumo a uma nova economia neutra em emissões.”
O discurso, e a reunião bilateral com o presidente norte-americano, Joe Biden, mostraram a centralidade que o tema tem para o país em qualquer fórum internacional.
Mas, ao contrário do que Bolsonaro temia, não houve uma cobrança dura contra os índices crescentes de desmatamento no Brasil.
Ao contrário, em uma política de boa vizinhança, Biden chegou a elogiar o fato de o Brasil até hoje ter a maior parte da floresta amazônica preservada.
O governo brasileiro negocia, ainda, meios de ajudar o país na preservação da região. Não há no entanto promessas financeiras concretas.
“Maravilhado”
O presidente também usou o discurso na cúpula para defender as ações do governo brasileiro na busca pelo jornalista britânico Dom Philips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira, que estão desaparecidos na floresta amazônica.
“As nossas Forças Armadas e a Polícia Federal têm se destacado na busca incansável”, disse.
Apesar de o tema não ter sido tratado entre Bolsonaro e Biden, na reunião que tiveram, o assunto esteve presente na comitiva brasileira em Los Angeles.
Na quinta-feira, o ministro da Justiça, Anderson Torres, teve um encontro com a diplomata britânica Vick Ford para tratar especificamente do caso. Além disso, o assessor especial da Casa Branca para o clima, John Kerry, também levantou o assunto em uma reunião pré-marcada para tratar de Amazônia.
Ambos pediram todo esforço do Brasil para encontrar o jornalista e o indigenista.
Bolsonaro aproveitou ainda o discurso nesta sexta para comemorar a reunião com Biden e dizer que ficou “maravilhado” com o presidente norte-americano. Na véspera, o brasileiro já havia dito que o encontro tinha sido “sensacional”.
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