Bolsonaro cancela ida a homenagem nos EUA após boicote de patrocinadores
O presidente Jair Bolsonaro cancelou a ida a Nova York, nos Estados Unidos, onde participaria de evento em que seria homenageado como “Personalidade do Ano de 2019”.
A homenagem foi proposta pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. A viagem estava prevista para este mês. Com a decisão, o presidente também cancelou agenda em Miami.
Em nota, o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, diz que Bolsonaro agradece a homenagem proposta.
“Entretanto, em face da resistência e dos ataques deliberados do prefeito de Nova York [Bill de Blasio] e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suas instalações o evento anualmente, ficou caracterizada a ideologização da atividade”, destaca o porta-voz.
Entenda o caso
A escolha de Bolsonaro como um dos homenageados em 2019 levou à reação de movimentos sociais, que prometiam fazer protestos em frente ao local que sediar o evento.
A frente do movimento de resistência está o próprio prefeito de Nova York, Bill de Blasio, que já chegou a pedir o cancelamento da festa e o chamou de “racista e homofóbico”.
O evento para homenagear Bolsonaro sofreu pressão de movimentos a favor da causa LGBT. Ativistas contra a cerimônia acusam o presidente brasileiro de ser “homofóbico”, principalmente após ele afirmar na semana passada que queria impedir que o Brasil fosse um “paraíso do turismo gay”.
“Se alguém ‘quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade’. ‘O Brasil não pode ser um país do mundo gay, de turismo gay. Temos famílias”, disse o presidente brasileiro.
Bolsonaro também vetou recentemente a divulgação de uma campanha publicitária do Banco do Brasil (BBAS3) que defendia a diversidade. A peça era estrelada, entre outros, por negros, tatuados e transexuais.
Antes de assumir a Presidência, Bolsonaro já havia dito que preferia que seu filho morresse a ser gay e que casais do mesmo sexo que vivem em um prédio de apartamentos podem causar a queda dos preços das casas.
Boicote em crescimento
Inicialmente duas instituições se recusaram a receber o evento. O primeiro foi o Museu de História Natural, que, ao saber que Bolsonaro seria homenageado, decidiu cancelar o aluguel de seu salão de festas para os organizadores. Dias depois, o mesmo foi feito pelo Cipriani Hall.
A companhia aérea Delta foi a primeira empresa a anunciar, em 30 de abril, que desistiu de patrocinar o evento. A empresa não comentou a decisão.
Depois, de acordo com a rede de televisão americana CNN, a consultoria Bain & Company também cancelou o apoio ao evento. “Encorajar e celebrar a diversidade é um valor central para a Bain”, escreveu a consultoria em nota.
Ontem foi a vez do jornal britânico Financial Times, sem comentar a decisão. Um porta-voz do jornal, citado em reportagem do The Guardian, confirmou que deixaria de ser um parceiro de mídia para a cerimônia de homenagem a Bolsonaro, mas acrescentou que pretendia “manter uma parceria com a Câmara de Comércio Brasil-EUA” em outros eventos.
Ainda nesta sexta-feira, para cobrir a lacuna de patrocinadores, o Banco do Brasil teve a participação cogitada como um dos apoiadores do evento, mesmo após as questões recentes envolvendo a direção de marketing da instituição financeira.
Muitas multinacionais, incluindo bancos como Morgan Stanley, Santander e HSBC, continuam listadas como patrocinadores do evento.
Turismo gay no Brasil
Criticado por Bolsonaro, turismo gay cresceu 11% no Brasil, segundo informou reportagem do jornal O Globo. O setor, que gera receitas de US$ 218 bilhões no mundo, avançou mais no país do que o turismo geral em 2017.
*Com informações da Agência Brasil