Política

Bolsonaro: “Brasil vai indo bem. Catástrofes acontecem”, diz em evento do mercado

23 fev 2022, 19:32 - atualizado em 23 fev 2022, 19:32
O presidente Bolsonaro teve os ministros Ciro Nogueira e Paulo Guedes ao seu lado
O presidente Bolsonaro teve os ministros Ciro Nogueira e Paulo Guedes ao seu lado (Reprodução/BTG Pactual)

Candidato à reeleição e lutando para subir nas pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) aproveitou sua participação no encerramento do CEO Conference 2022, promovido pelo BTG Pactual, para mandar um recado ao mercado, a fim de convencê-lo de que é o melhor nome para garantir a livre iniciativa e impedir um avanço de políticas estatizantes.

Bolsonaro subiu o tom, ao abordar as eleições deste ano, e defendeu a importância de os mais ricos impedirem que o Brasil “fique ao lado do abismo”, referindo-se a eventuais políticas econômicas heterodoxas que possam ser implantadas, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder das pesquisas e pré-candidato pelo PT, vença em outubro.

O presidente fez claras referências a Lula, ainda que não tenha citado o nome do petista. “É um caminho sem volta”, afirmou Bolsonaro. Para ele, adotar uma posição política clara é “o que está faltando a muita gente, em especial à classe A, que somos todos nós, no tocante do poder aquisitivo.”

Repetindo um discurso ideológico que agrada à sua base de apoiadores, o presidente provocou o mercado ao perguntar se quem estava ali presente queria prováveis mudanças que um eventual novo mandato de Lula traria para o país.

“Nós temos um quadro atual de antecipação eleitoral, mas eu não tenho aceitado provocações para entrar neste campo, porque nós temos um país para administrar (…) O que os senhores acham se revogar a autonomia do Banco Central? De revogar a reforma trabalhista? A reforma da previdência? Retornar o imposto sindical? Reestatizar empresas que foram desestatizadas? Acabar com o teto de gastos? O governo começar a interferir nos preços da Petrobras e da Energisa?”, questionou.

Bolsonaro também destacou o que seria o “recolhimento de armas do cidadão de bem”, uma possível desmilitarização da polícia militar, a liberação das drogas e uma reaproximação com o governo cubano. O presidente citou até mesmo a recente legalização do aborto na Colômbia.

A “chamada” de Bolsonaro vem, coincidentemente ou não, em um momento em que agentes do mercado já analisam uma possibilidade de um terceiro mandato de Lula — e destacam, inclusive, que o petista dá sinais de que quer fazer um governo mais voltado ao centro.

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Bolsonaro chama o Posto Ipiranga de novo

No painel de hoje, conduzido pelo pelo cientista político Murillo de Aragão, CEO da Arkos Advice Pesquisas, o presidente participou de forma remota. O ministros Ciro Nogueira, da Casa Civil, e Paulo Guedes, da Economia, estavam ao seu lado. Posteriormente, o ministro Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, também se juntou aos colegas.

As primeiras perguntas de Aragão foram sobre desemprego e inflação. Em ambos os tópicos, Bolsonaro fez um breve comentário e passou a bola para o ministro Paulo Guedes.

Guedes destacou a geração de 11 milhões de empregos no país, entre vagas formais e informais. Sobre a inflação, tema caro à gestão, Bolsonaro citou a independência do Banco Central, ponto que foi reforçado por Guedes, com elogios ao presidente, ao avaliar que “despolitizar a moeda” teria sido um ato de coragem.

“O presidente corajosamente lançou a independência do Banco Central. (…) A gente sabe que a garantia de um controle inflacionário é um Banco Central independente”, disse Guedes.

O alto preços dos combustíveis, tema hoje debatido no Senado Federal, também teve destaque. Segundo último levantamento divulgado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio da gasolina no país hoje é de R$ 6,583.

Já do óleo diesel é de R$ 5,575 e do etanol hidratado, de R$ 4,699. Com a resposta de costume, o presidente não deixou de citar o peso que um imposto estadual, o ICMS, tem sobre os preços.

“Estamos chegando a 50 dias sem reajuste [do preço] do combustível. Não tenho como interferir e não vou interferir, mas acho que vai continuar esse preço. Apesar de termos que discutir a composição do preço dos combustíveis, porque o ICMS incide sobre o valor na bomba”.

STF e TSE

Bolsonaro não deixou de alfinetar a suprema corte e a corte eleitoral. Em ambas, ele nutre alguns desafetos, como é o caso do ministro Alexandre de Moraes.

Sem citar nomes, o presidente criticou algumas decisões dos magistrados, como a prisão de um deputado federal por suas falas. Trata-se de Daniel Silveira (PSL), apoiador do governo, que teve prisão decretada por Alexandre em fevereiro do ano passado.

Na ocasião, o parlamentar foi preso em flagrante por crime inafiançável. Ele divulgou em seu Twitter um vídeo no qual defendia o AI-5 e a destituição dos magistrados da suprema corte.

O sistema eleitoral, com a urna eletrônica, também voltou a ser alvo do presidente, ainda que o TSE já tenha por mais de uma vez detalhado a lisura do processo. “Temos um sistema eleitoral que você pode comprovar que não é fraudado, mas que você não pode comprovar que não pode ser fraudado. A arma da democracia é o voto”.

Com dois dos seus super-ministros ao lado, o presidente ainda afirmou que, se reeleito, já se pode ver qual é o perfil de quem estará com ele, novamente, no governo federal.

“O futuro do Brasil depende das nossas escolhas. Se eu vier candidato, quem escolher a mim, o perfil está aqui ao meu lado [Paulo Guedes e Ciro Nogueira]. O outro lado vai trazer uma turma que ficou por meses presa para voltar ao governo”.

Reformas

As reformas do governo foram um tema constantemente repetido no painel. Bolsonaro lembrou que, no entanto, nem tudo é aprovado em ano eleitoral por ser tratar de um tema sensível.

“Em anos eleitorais algumas propostas têm dificuldade de ir para frente. Nós apoiamos a reforma administrativa, até porque ela atinge os futuros servidores, não os atuais”.

“Privatizações, por exemplo: nós temos os Correios, [a privatização] está na iminência de sair. Tem também a Eletrobras, são reformas que nos interessam. Mas o Parlamento é sensível neste momento”.

Na tarde de terça-feira (22), os acionistas da Eletrobras votaram pela privatização da companhia. O tema retorna agora ao Tribunal de Contas da União (TCU), provavelmente em março.

Guedes já havia destacado na terça (22), quando participou da abertura do mesmo evento, em entrevista ao economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, que a agenda reformista deve prosseguir.

Política ambiental

O tema política ambiental foi trazido para discussão já que o tema é sensível à OCDE, grupo dos países ricos no qual o Brasil postula uma vaga.

O presidente aproveitou a oportunidade para dizer, como já destacou em outros momentos, que o país tem, sim, uma boa política ambiental. Ele teceu críticas à imprensa, ao dizer que o maior problema é que as informações que chegam para o mundo são incorretas.

Guedes ainda citou que o “Brasil é a maior potencia verde do mundo”. Sobre algumas notícias que ganham grande notoriedade, como os incêndios do Pantanal de 2020, Bolsonaro afirmou que o país vai bem e que “catástrofes acontecem”. Ele minimizou o acidente quando comparado aos incêndios da Califórnia, nos Estados Unidos, e na Argentina.

Renovação do Congresso

Ciro Nogueira já havia mencionado que o Congresso responderia às demandas da população, que não mais aceita algumas atitudes como o loteamento de estatais ou de ministérios entre políticos.

Quando questionado sobre como Bolsonaro vê o parlamento de 2023, ponto de preocupação para o investidor, que teme que alguns avanços institucionais possam retroceder, o presidente avaliou que vê um Legislativo mais afastado da esquerda, que significa “fracasso e corrupção”.

Ele também disse que a pandemia fez com que a população passe a ter mais atenção ao próprio voto nas eleições.

“Lá atrás, quando se reclamava do Congresso, Ulysses Guimarães respondia: ‘espere o próximo’. Nas eleições de 2018 houve uma grande melhora. (…) Com a liberdades das mídias sociais que temos nesse momento, a população conhece cada vez mais o que é cada poder, como eles poderes interagem e quem está a frente deles”.

“O povo sentiu por causa da pandemia alguns prefeitos abusando e a Câmara de Vereadores não fazendo nada. Eles aprenderam a dar valor ao voto de um vereador, que muitas vezes a pessoa não dava bola. (…) Acredito que o Congresso em 2023, com muito respeito aos [deputados] atuais, vai melhorar muito e vai se direcionar mais para o centro, para a direita e abandonar a esquerda”.