Política

Bolsonaro aposta no gasto social para tentar encurtar distância de Lula

22 jul 2022, 15:05 - atualizado em 22 jul 2022, 15:05
Jair Bolsonaro
Bolsonaro entra na disputa para tentar permanecer no Planalto em uma inédita situação desfavorável desde a adoção do instituto da reeleição no Brasil, há 25 anos (Imagem: Flickr/Alan Santos/PR)

O presidente Jair Bolsonaro oficializa neste domingo sua nova candidatura à Presidência apostando em seu amplo pacote de gasto social para tentar mitigar os efeitos da inflação nos mais pobres e conseguir reduzir sua desvantagem nas pesquisas em relação a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro entra na disputa para tentar permanecer no Planalto em uma inédita situação desfavorável desde a adoção do instituto da reeleição no Brasil, há 25 anos, sob a desconfiança de adversários políticos e atores da sociedade civil de que se movimenta para provocar tumulto em caso de derrota –na esteira dos seus insistentes questionamentos infundados do sistema eleitoral– ou, no limite, instigar uma ruptura institucional para a qual tentaria arrastar as Forças Armadas e as de segurança.

Quase quatro anos após vencer como deputado azarão sem apoios partidários nem tempo de TV, o presidente agora vai às urnas de mãos dadas com o PL, sigla do chamado Centrão –grupo partidário que era alvo de suas críticas na campanha passada e agora lhe dá sustentação no Congresso.

O ex-capitão do Exército vai ser ungido como candidato na convenção dos liberais no domingo, no Rio de Janeiro, onde deverá aproveitar as mais de 10 mil pessoas esperadas no estádio do Maracananzinho para testar o uso de duas âncoras da sua candidatura, liberdade e fé.

Ainda sem definição se as palavras serão o slogan de campanha, de acordo com as fontes, a ideia será também mostrar aos eleitores que o Brasil sob Bolsonaro permite liberdade econômica, religiosa, de portar uma arma e de defender sua família e a propriedade privada.

Como tem feito em inúmeros eventos e lives, um dos eixos do discurso de Bolsonaro será exaltar as medidas que conseguiram driblar a legislação eleitoral para ampliar e criar programas sociais, além das ações para forçar queda no preço dos combustíveis.

O pacote quer amenizar os efeitos de uma inflação que tem girado nos piores níveis desde 2003 em uma população que empobreceu desde 2018 e que ainda enfrenta os efeitos da pandemia minimizada pelo presidente.

Enquanto analistas ponderam que pode não haver tempo suficiente para que esse “pacote de bondades” surta efeito nas urnas, há otimismo na campanha bolsonarista.

A avaliação é que se o presidente seguir esse script de boas notícias pode começar encurtar, já em agosto, uma distância que pesquisas dão de até 19 pontos para o líder.

No início da semana, no entanto, a sinalização do Planalto não foi de obediência a esse roteiro. Bolsonaro promoveu um inédito encontro com embaixadores para mais uma vez atacar as urnas eletrônicas com informações falsas, mesmo tendo sido alertado para conter essa retórica por aliados como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), o presidente do seu partido, PL, Valdemar Costa Neto e integrantes da equipe de pré-campanha à reeleição, segundo três fontes ouvidas pela Reuters.

A avaliação geral dos aliados que são políticos tradicionais é que esse discurso não ajuda a conquistar votos no momento de oficalização da campanha. Uma das fontes do QG de campanha, entretanto, admite em tom de resignação que é impossível domá-lo.

“Bolsonaro sempre fez uma política muito pessoal, de carreira solo, óbvio que não vai mudar a sua essência”, reconhece o presidente em exercício do PP, deputado Cláudio Cajado (BA), importante legenda do Centrão. “Só a campanha vai mostrar se ele será menos ou mais radical.”

Enquanto ainda repercute negativamente o encontro do presidente com os embaixadores, aliados e integrantes da campanha bolsonarista ouvidos pela Reuters rejeitam categoricamente que haverá qualquer iniciativa do presidente para interferir ou desconhecer o processo eleitoral. Dois deles dizem reservadamente que sua insistência em desacreditar as urnas eletrônicas com afirmações falsas faz parte da estratégia de manter a militância mais aguerrida unida.

A campanha do presidente reflete essa dualidade de públicos –eleitor geral e base ultrafiel– que o discurso do presidente visa atingir. A alinhada à estratégia de campanha política convencional, com estrutura profissional e área de marketing, terá o primogênito e senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como um dos responsáveis. Segundo duas fontes, o presidente vai manter a comunicação nas redes sociais nos moldes de 2018, cujas linhas serão dadas pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

A primeira linha terá como foco buscar trazer novos eleitores e a segunda manter o engajamento dos bolsonaristas unidos e ativos, segundo uma das fontes. “São comunicações complementares”, definiu.

O candidato a vice de Bolsonaro, o general da reserva e ex-ministro Walter Braga Netto (PL), é o responsável por coordenar o programa de governo à reeleição, que eles preferem chamar de diretrizes, conforme duas das fontes. Ainda não está definido quando o documento será divulgado.

Na busca de marcar diferença em relação a Lula, e numa repetição da polarização de 2018, a campanha deve explorar o medo do retorno de uma eventual gestão do PT, agora chamado de “luta do bem contra o mal”, e fazer comparações com a situação de países vizinhos de governos de esquerda como a Venezuela e a Argentina. Também querem desgastar o petista mostrando que os casos de corrupção nas gestões deles –que passaram por escândalos como mensalão e petrolão– eram muito maiores e amplos do que ocorreu no atual governo, como foi o caso envolvendo o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro.

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