Bolsonaro apaga vídeo de desabastecimento após questionamentos sobre veracidade
O presidente Jair Bolsonaro apagou das suas redes sociais na manhã desta quarta-feira críticas a governadores e um vídeo de autoria desconhecida em que um homem reclama de desabastecimento em Belo Horizonte, após serem divulgadas informações questionando a veracidade do conteúdo da gravação.
Depois de mudar o tom e propor um pacto contra o coronavírus em pronunciamento em rede nacional na noite passada, o presidente voltou à carga contra governadores ao publicar o vídeo pela manhã, no qual o autor defende a postura de Bolsonaro em relação ao coronavírus.
“Para você que falou, depois do discurso do presidente, que economia não tinha importância, que importante eram vidas, dá uma olhada nisso aí. Pois é, fome, desespero, caos também matam”, diz o homem no vídeo, que alegou ter gravado em 31 de março na Ceasa, em Belo Horizonte. Segundo ele, a “culpa é dos governadores”, porque o presidente quer uma “paralisação responsável.”
Ao postar o vídeo, que não tinha link nem identificação do autor, Bolsonaro acrescentou três frases: “Não é um desentendimento entre o Presidente e ALGUNS governadores e ALGUNS prefeitos. São fatos e realidades que devem ser mostradas. Depois da destruição não interessa mostrar culpados.”
No final da manhã, depois de diversos veículos de comunicação questionarem a veracidade do conteúdo da gravação, Bolsonaro apagou o vídeo tanto do Twitter quanto do Facebook.
A reportagem da rádio CBN foi à Ceasa de Belo Horizonte logo cedo e mostrou o entreposto lotado de produtores e produtos. Segundo a reportagem, o vídeo distribuído pelo presidente teria sido feito por uma pessoa que trabalha na Ceasa em um sábado à tarde, quando o entreposto fica normalmente vazio em qualquer época do ano.
A Reuters questionou o Palácio do Planalto sobre a origem do vídeo, se as informações ali haviam sido checadas antes da publicação e se o presidente pretendia mantê-lo no ar, mas não obteve resposta.
No início da semana, Facebook e Twitter apagaram publicações feitas por Bolsonaro nas quais ele divulgou vídeos em que conversava com pessoas e provocava aglomerações, contrariando orientações de autoridades de saúde para conter a disseminação do coronavírus.
Ambas as redes sociais citaram que as retiradas dos vídeos ocorreram pois as empresas entenderam que o conteúdo veiculado violou termos de uso dos serviços, que proíbem publicações contrárias à saúde pública ou que coloquem em risco as pessoas.
Procurados nesta quarta-feira sobre o vídeo de desabastecimento apagado das contas do presidente, as duas empresas disseram que não comentariam. Uma fonte com conhecimento do assunto afirmou, no entanto, que o vídeo no Facebook não foi retirado da página pela empresa.
Na noite anterior, em rede nacional de rádio e tevê, Bolsonaro havia surpreendido seus críticos ao apresentar um pronunciamento mais ponderado.
Apesar de manter a distorção da fala do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, propôs a união de esforços e, no lugar de chamar a epidemia de “gripezinha”, afirmou que “estamos diante do maior desafio da nossa geração” e que sua preocupação “sempre foi salvar vidas”.