Bolsas americanas podem ter ano positivo com volta de Trump, dizem especialistas; veja em quais empresas internacionais investir
Os primeiros meses de 2025 prometem agitar o mercado financeiro. O motivo: o retorno de Donald Trump à Casa Branca. O presidente eleito, que será empossado na próxima segunda-feira (20), já declarou sua intenção de taxar produtos importados e implementar medidas mais protecionistas.
As bolsas americanas, por sua vez, já estão se ajustando às expectativas de um bom desempenho neste ano. O mercado, que começou a precificar a vitória do republicano desde outubro, apresentou uma performance mais forte a partir desse período, impulsionado pela previsibilidade das políticas do novo governo.
“O Trump é uma novidade positiva que já aconteceu antes. A gente já viu muitas políticas que ele implementou em seu primeiro governo, como o corte expressivo de impostos pagos pelas empresas para os níveis mais baixos dos últimos anos. Isso faz com que a margem de lucro das empresas suba”, relembra João Julião, gestor de estratégia de ações globais da Verde Asset, no painel de Internacional do evento “Onde Investir em 2025”, do Seu Dinheiro.
O especialista ainda destaca que, em seu primeiro mandato, Trump implementou políticas de desregulamentação que beneficiaram diversos setores. A retirada de burocracias e empecilhos legais resultou em um mercado mais dinâmico, o que impulsionou o aumento de fusões e aquisições, além de um maior número de ofertas públicas de ações (IPOs).
Em relação às preocupações sobre um possível impacto das medidas de Trump na inflação, João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, descarta essa possibilidade. Segundo ele, a tributação de produtos importados, especialmente da China, não é suficiente para causar um aumento significativo nos preços que possa impactar todo o índice inflacionário.
“Para mim, a inflação nos Estados Unidos está mais ligada à shadow economy, aquela economia das sombras, com uma economia de serviços muito robusta, principalmente no segmento de crédito”, afirma.
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Melhores setores para investir nos EUA em 2025
Enzo Pacheco, analista da Empiricus Research, destaca que existem oportunidades nas bolsas americanas, mas ressalta a importância de ser seletivo e de não concentrar investimentos apenas nas Big Techs.
“Em alguns momentos de 2024, as empresas da velha economia passaram a ter uma performance melhor, mas no final do ano você teve os investidores voltando para essa temática de tecnologia. Então, se você faz uma mescla de empresas tradicionais com essas empresas de tecnologia, você consegue ter um portfólio bom para 2025”, afirma.
Julião destaca que o Federal Reserve está reduzindo as taxas de juros, com projeções indicando cortes ainda maiores. Caso não ocorram grandes surpresas na inflação, o Fed possui uma margem considerável para continuar reduzindo juros, o que contribuirá para evitar uma recessão econômica, favorecendo significativamente o desempenho das empresas.
Com isso, o setor financeiro, especialmente os bancos, deve se beneficiar ainda com as taxas de juros mais altas. O setor bancário se destaca em períodos de juros elevados, pois permite a obtenção de spreads bancários mais amplos que podem ser repassados.
Segundo o especialista, os bancos americanos enfrentaram dificuldades após a crise de 2008 devido aos juros extremamente baixos e achatados na curva, o que reduziu significativamente os spreads.
“Outro ponto importante é a redução de impostos, que beneficia diretamente os bancos, como foi observado durante o primeiro governo Trump, pois há impulsos que aumentam a demanda por crédito, hipotecas, que ainda estão bem reprimidas, e empréstimos industriais. Então, para mim, o setor bancário é o que tem maior potencial versus o restante do mercado”.
Já do lado das empresas de tecnologia, as ‘Magnificent 7’, ou 7 Magníficas, — Alphabet (dona do Google), Amazon, Apple, Meta Platforms, Microsoft, Nvidia e Tesla — seguem no radar dos investidores.
“Eu estou bastante otimista com o setor de tecnologia”, afirma Piccioni. “O que a gente está vendo no setor de tecnologia é a efetivação dos ganhos de produtividade e dos investimentos que foram feitos ao longo dos últimos quatro anos. E tem todo um segmento de infraestrutura ligado a esse setor também que deve continuar avançando, como de energia, servidores e advertising”, completa.
No setor de energia, Pacheco destaca que as empresas da área foram amplamente beneficiadas nos últimos anos, com os Estados Unidos consolidando sua posição como o maior produtor de petróleo do mundo. Outros grandes produtores, como a Rússia, a Arábia Saudita e membros da OPEP, enfrentam incertezas quanto às suas produções, criando ainda mais oportunidades para o petróleo americano.
“O setor de energia tem sido um setor interessante, porque ele está negociando com valuation abaixo da média de mercado. Em contrapartida, as empresas estão retornando mais capital para os seus investidores, pagando mais dividendos e fazendo recompras. Então, acho que pode ser um setor que dá para garantir algumas oportunidades”, afirma.
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Um mundo de oportunidades: E os investimentos fora dos Estados Unidos?
China
Na visão dos especialistas, a China enfrenta uma crise em seu modelo de crescimento, anteriormente baseado na transição de uma economia rural para urbana. “O excesso de casas que você tem na China hoje já o nível mais alto que a gente já viu em relação a outras bolhas imobiliárias no mundo, o nível de dívida/PIB da China também é altíssimo. Então, a gente já vê que esse modelo já está saturado”, afirma Julião.
A segunda maior economia do mundo também deve enfrentar desafios com os planos de Donald Trump de impor uma tarifa de 60% sobre produtos chineses.
Piccioni destaca que o capitalismo chinês foi estruturado para abastecer o mundo, de modo que políticas de taxação de importados ou estímulo ao consumo interno acabam impactando o emprego nas fábricas.
“A estatística de emprego na China já está muito ruim, e vai ser mais desemprego, mais dificuldade das pessoas se moverem dentro do país, que vai impedir a mudança do modelo do país. Com isso, as estatísticas são malucas: em 2050 você vai ter 600 milhões de chineses a menos. Então, imagina, você vai ter uma economia construída para abastecer o mundo com 600 milhões de chineses a menos. Para onde vai essa massa de produtos? Não vai para nenhum lugar. Me parece que eles entraram em uma armadilha”, destaca.
Embora haja destaques como a BYD, a China enfrenta dificuldade em atrair a atenção dos investidores internacionais.
Europa
Do lado do velho continente, os investidores enfrentam dois grandes obstáculos na Europa: a guerra entre Rússia e Ucrânia e a perda de mercado global.
No primeiro ponto, Piccioni ressalta que o rompimento com o fornecimento de energia pela Rússia desencadeou um processo de deterioração macroeconômica e política em todo o continente.
Quanto ao segundo desafio, Pacheco observa que as empresas europeias estão enfrentando dificuldades para manter suas vendas em mercados internacionais, especialmente na China. Isso inclui montadoras alemãs e varejistas de luxo francesas.
“O fato de as ações europeias terem um valuation bem menor que as ações americanas não significam que é algo atrativo para o investidor, porque quando se olha o lucro dessas empresas, as empresas estão crescendo muito mais do que as europeias”, afirma.