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Bolsas americanas: Após balanços do 4T22, está difícil manter o otimismo. E agora?

04 mar 2023, 16:20 - atualizado em 04 mar 2023, 16:20
Wall Street
Alerta ligado: “O resultado reportado pelas companhias vem se deteriorando semana após semana”, diz Enzo Pacheco (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

Entrando no terceiro mês do ano, já temos uma noção clara de como foi a temporada de resultados nos Estados Unidos. Ainda que faltem algumas empresas a divulgarem seus balanços, a grande maioria das companhias já sofreram o escrutínio dos investidores. E não temos muito o que comemorar com o que vimos.

Até o final da semana passada, 94% das companhias do S&P 500 (470 empresas) reportaram seus resultados do 4T22. E dados da FactSet apontam que 68% dessas empresas divulgaram lucro por ação acima das projeções dos analistas — abaixo das médias dos últimos 5 (77%) e 10 anos (73%).

Além disso, a magnitude das surpresas nos resultados também foi bem menor do que o observado no passado recente: no último trimestre, essas companhias reportaram lucros que foram 1,2% acima das estimativas, ante médias de 8,6% e 6,4% nos últimos 5 e 10 anos, respectivamente.

Caso a temporada de resultados se encerre com esse número, será o segundo trimestre com menor surpresa apresentado pelo índice desde 2008.

Bolsas americanas: Empresas divulgam números cada vez mais fracos

Dessa forma, o resultado reportado pelas companhias vem se deteriorando semana após semana. O resultado até agora (considerando as empresas que já divulgaram mais os resultados estimados das que ainda vão divulgar) é de uma queda de 4,8% nos lucros no 4T22. Uma semana antes essa retração era de 4,7%, e ao final do ano passado a estimativa era de um recuo de 3,3%.

E essa piora nos números fica ainda mais relevante quando observamos o histórico: caso o trimestre encerre com esse recuo de quase 5% nos lucros, será o primeiro trimestre com queda anual no resultado final desde o terceiro trimestre de 2020 (no auge da pandemia da Covid-19).

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Gráfico 1. Aumento (queda) nos lucros por setor no 4T22 | Fontes: FactSet e Empiricus

Importante notar que a queda nos lucros do S&P 500 só não foram piores por conta da ótima performance do setor de Energia, beneficiado pelo forte aumento nos preços das commodities em relação ao 4T21.

Considerando que os analistas esperem que tanto o preço do petróleo como do gás natural não deva sofrer grandes variações ao longo do ano — uma vez que o cenário-base da grande parte dos investidores ainda considere que haverá uma recessão, o que significaria um menor consumo desses produtos e, consequentemente, uma possível queda nos preços —, as projeções de lucros para o S&P 500 ao longo do ano terão que ser sustentados por outros setores.

O ponto aqui é que as expectativas de lucros para o ano ainda consideram um aumento nos lucros para 2023. Hoje, as projeções indicam que o S&P 500 encerrará o ano com lucros de US$ 223,45/ação, o que seria um crescimento de 1,7% na comparação anual.

Mas esses números podem (e, no meu entendimento, devem) ser revisados para baixo: isso porque essa expectativa está calcada em lucros crescendo 3% no 3T23 e quase 10% no 4T23.

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Gráficos 2 e 3. Lucro por ação (barras) e crescimento (linhas) anual do S&P 500 | Fontes: FactSet e Empiricus

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Gráficos 4 e 5. Lucro por ação (barras) e crescimento (linhas) trimestral do S&P 500 | Fontes: FactSet e Empiricus

E os investidores, aos poucos, parecem que vão acordando para essa realidade. Após um primeiro mês do ano extramente positivo para os ativos de risco nos mercados internacionais — com alguns dos principais índices valorizando mais de dois dígitos —, fevereiro encerrou com um “mar vermelho”, com desvalorizações superiores a 3% em alguns casos. Mesmo assim, os ganhos para o ano ainda continuam robustos (com exceção do Dow Jones).

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Gráfico 6. Variação de janeiro/23, fevereiro/23 e para o ano de 2023 dos principais índices americanos | Fontes: Bloomberg e Empiricus

2023: O que esperar dos próximos trimestres?

Considerando que parte dos ganhos no início do ano foram decorrentes das expectativas do patamar final para os juros básicos definidos pelo Federal Reserve, com parte dos investidores apostando em um possível corte ainda em 2023 — o que no momento foi revisto pelos operadores de mercado, por conta das surpresas para cima nos índices de inflação tanto nos Estados Unidos como na Europa —, difícil enxergar uma melhora no sentimento geral e nos resultados das empresas para os próximos trimestres.

Com o S&P 500 ainda negociando com um múltiplo Preço/Lucro projetado próximo da média dos últimos 5 e 10 anos (na casa das 18 vezes), mas com um nível de juros bem acima do observado nesses mesmos períodos (hoje perto dos 5%, ante 2,1% na média da última década), me parece que os investidores mais ansiosos para colocar seu dinheiro para trabalhar em ativos de risco terão um ponto de entrada melhor do que o atual.

Quem tiver paciência, colherá frutos ainda melhores no futuro (que eu não espere que seja tão distante, pelo bem da minha sanidade mental).

Enzo Pacheco é formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Um entusiasta do assunto “investimentos” — tendo se interessado desde os tempos de universitário —, desde 2017 foca exclusivamente na análise dos mercados internacionais nas séries da Empiricus voltadas a esse propósito (Investidor Internacional e MoneyBets).

 

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